Rio - ‘Tenho que trabalhar por 12 horas seguidas , folgando somente um final de semana por mês. Ainda sem salário. Me sinto sobrecarregado. Meu lazer e convívio com a família foi retirado”. O desabafo é de um PM que faz patrulhamento em uma das áreas mais perigosas do Rio, na Zona Norte, e que tem uma das piores proporções de policiais por habitantes.
Os batalhões de Irajá (41º BPM) e Rocha Miranda (9ºBPM), por exemplo, são responsáveis pelo policiamento de uma área com quase o dobro de população do que a região de três unidades da PM na Zona Sul, que têm efetivo maior. Nestas duas unidades da Zona Norte há 1.135 policiais para mais de 1,076 milhão de moradores. Uma média de 948 habitantes para cada PM. Já os batalhões de Copacabana, Botafogo e
Leblon patrulham, segundo os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), população de 661 mil, com um total de 1.352 agentes, média de 488 habitantes para cada PM. Ou seja, quase o dobro de policiais por grupo de moradores.
A falta de efetivo e de viaturas já foi tema das duas primeiras reportagens da série ‘Rio Sem Polícia’, publicadas no domingo e na segunda. A distribuição desigual dos PMs na Zona Sul e em outras áreas foi agravada com a crise financeira.
“Essas taxas de policiamento per capta eram remediadas com a Regime Adicional de Serviço. Hoje, infelizmente, nos resta desfrutar da sensação de insegurança que, com os armamentos, a ousadia e a violência dos criminosos, deixou de ser normal e assume contorno surreal”, afirmou Vinícius Cavalcante, especialista em Segurança.
Além do patrulhamento dos bairros, o 41º BPM e o 9º BPM são responsáveis pelo combate a criminosos do Chapadão e da Pedreira, considerados os mais perigosos da cidade pelos próprios policiais. Já a Zona Sul conta ainda com UPPs, além dos batalhões.
A disparidade da segurança oferecida se reflete nos índices de criminalidade.
No primeiro quadrimestre desse ano, os batalhões de Irajá e Rocha Miranda tiveram 8.172 roubos. Já a Zona Sul, registrou 2.400 casos. Na região do 9º e 41º BPM, houve 960 crimes violentos, como homicídios, latrocínios e estupros. Já nos três batalhões da Zona Sul, foram 603 casos.
Segundo o comandante-geral da PM, coronel Wolney Dias, a distribuição do efetivo nessas regiões leva em conta a população flutuante e o número de batalhões no entorno dos bairros. “Os batalhões de Rocha Miranda e Irajá possuem outras unidades operacionais em sua volta que podem ser deslocados para um possível reforço. Já a Zona Sul, não”, explicou.
A sensação de insegurança é constante nos bairros com menor policiamento. “Ver uma viatura passar por aqui é raro. Agora é que o carro da Força Nacional aparece vez ou outra, mas assaltos e tiroteios são frequentes na rua”, opinou a tatuadora Mariana Martins, de 23 anos.
“Semana passada o Shopping Via Brasil (Irajá) foi assaltado. Aqui há lugares característicos onde o assaltantes abordam, na Av.Brasil já virou rotina”, reclama Rebeca de Souza, de 21 anos.
Placa avisa sobre assaltos
A falta de PMs para combater os assaltos em uma das áreas com os maiores índices de violência da cidade não parece ser problema para reprimir o protesto de um morador da região do 9º BPM (Rocha Miranda).
No sábado, um homem que não teve o nome revelado foi levado para a delegacia após instalar placas sobre o alto risco de assalto na Rua das Rosas, em Vila Valqueire. De acordo com a Polícia Militar, soldados do 9° BPM foram acionados por moradores para verificar a instalação de placas não autorizadas na região.
No local, um homem se apresentou aos policiais como o responsável pela colocação dos sinais. Ele foi conduzido à delegacia para prestar esclarecimentos e o material foi apreendido.
Questionada, a Polícia Militar não informou se os relatos de assalto na região são verídicos e se o policiamento será reforçado. A colocação de cartazes alertando sobre o risco de assalto já foi feita em outras regiões do Rio. Moradores do Méier e Santa Teresa, por exemplo, já fizeram o mesmo.
“Sempre aparece alguém dizendo que foi assaltado. Eu mesmo já fui roubada no ponto de ônibus por dois bandidos de moto”, diz Suanne Andrade, de 22 anos, que vende cachorro-quente em Vista Alegre, área do 9º BPM.