Rio - Os bandidos fortemente armados que sequestraram um médico, na madrugada deste domingo, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, percorreram 111 km com a ambulância, de acordo com informações da 21ª DP (Bonsucesso).
Em depoimento, o médico relatou que os criminosos trafegaram com a ambulância por “bastante tempo” e após pararem em algum lugar que o profissional não soube informar, eles o obrigaram a destravar a maca para retirar o ferido do veículo, que foi recebido por outros homens. O baleado seria o traficante Thiago da Silva Folly, o TH.
"O médico que atuava como clínico geral e no plantão da UPA da Maré pouco esclareceu, apenas disse que o homem estava com ferimentos no braço, cotovelo e antebraço esquerdos, que estava 'completamente caído', tendo feito o atendimento básico", conta o delegado Wellington Vieira, da 21ª DP, na leitura do depoimento.O profissonal de saúde também não conseguiu reconhecer quem seria o homem por fotografias.
No entanto, o médico disse ao delegado que o ferido entrava em choque por diversas vezes, em razão da grande quantidade de sangue por ele perdida, e que conseguiu estabilizar minimamente o paciente.
Segundo Vieira, o profissional seria removido para o Hospital Municipal Souza Aguiar ou para o Hospital Estadual Getúlio Vargas após o atendimento básico, mas os traficantes não permitiram e o obrigaram a entrar na ambulância e foram possivelmente em direção à Baixada pela Rodovia Washington Luiz.
O médico também relatou à polícia que, antes da sua saída da UPA para entrar na ambulância, dois homens fizeram perguntas sobre o quadro de TH, aparentando ser conhecedores da área médica.
Ação teria sido orquestrada para socorrer TH, chefe do tráfico da região
Segundo a polícia, "a operação de guerra" orquestrada pelos traficantes seria para socorrer Thiago da Silva Folly, o TH, chefe do tráfico na região. O profissional, cujo nome é mantido em sigilo para manter sua segurança, deve ser ouvido nesta segunda-feira na 21ª DP (Bonsucesso).
O caso ocorreu por volta de 2h30, após criminosos furarem uma blitz e trocarem tiros com policiais do Batalhão de Policiamento em Vias e Estradas (BPVE) na Avenida Brasil, na altura da Linha Amarela. Um policial militar acabou baleado e, após buscas, foi encontrado um fuzil FAL calibre 762 com luneta próximo a área onde houve o confronto. Na arma havia a inscrição "Tropa do TH". Os militares envolvidos na ação prestaram depoimento.
De acordo com o delegado Wellington Vieira, da 21ª DP, a ambulância estava no Engenho Novo quando foi acionada para um socorro na Maré. Chegando na comunidade, o motorista, que prestou depoimento na delegacia neste domingo, foi rendido e o médico levado pelos criminosos.
O médico foi mantido sob o poder dos traficantes por pelo menos cinco horas e foi abandonado na Baixada Fluminense, onde o baleado teria sido atendido em uma clínica. Inicialmente o delegado havia informado que o médico seria da UPA da Maré, mas voltou atrás e disse que o mesmo pertence à unidade do Engenho Novo, bairro de onde foi acionada a ambulância.
"Ele disse que tinha muitos traficantes e foi obrigado a tirar o uniforme que usava. Um bandido vestiu e eles roubaram a ambulância. Segundo ele, eram muitos bandidos fortemente armados com fuzis e pistolas. O médico foi obrigado a entrar na ambulância e foi levado pelos bandidos", disse o delegado, com base no depoimento do motorista.
"Considero isso uma operação de guerra. Eles não fariam isso se não fosse um traficante que não tivesse uma importância para o tráfico. Acredito ser o TH ou um grande aliado dele." Vieira disse que os envolvidos identificados serão indiciados por roubo, sequestro e associação criminosa.
O Disque-Denúncia oferece R$ 2 mil por informações que levem o TH, ou Riqueza, como também é conhecido, à prisão. Segundo informações, ele faz parte da cúpula da facção TCP, que comanda o tráfico de drogas em 11 das 16 favelas do Complexo da Maré. Ele ganhou o posto após as prisões de Menor P e o seu irmão, Zangado.