Rio - Profissionais que atuam nas 227 unidades de atenção primária da Prefeitura do Rio, que inclui postos de saúde e clínicas da família, pretendem cruzar os braços na próxima quinta-feira em protesto contra um possível corte de 20% no orçamento destinado à saúde para 2018. O anúncio foi feito na manhã deste sábado após uma reunião que envolveu o Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (Sinmed/RJ) e a Associação de Medicina da Família e Comunidade do Rio de Janeiro (AmFAC-RJ), na sede do sindicato.
Segundo o presidente do SinMed/RJ, Leoncio Feitosa, a decisão pela greve foi tomada em uma assembleia da categoria realizada na última quinta-feira, que reuniu cerca de 240 trabalhadores, que votaram de forma unânime pela paralisação. Os sindicalistas exigem uma audiência com o prefeito Marcelo Crivella para discutir as questões orçamentárias.
Feitosa afirmou que as unidades de saúde não serão fechadas, mas que o número de funcionários estará reduzido durante o período de greve. Ainda segundo ele, a paralisação não afetará o atendimento ambulatorial e de emergência dos hospitais municipais. “ Queremos defender o usuário do sistema de saúde, então iremos dialogar com a população para explicar a proposta do movimento e o que os pacientes têm a ganhar com a nossa luta. O programa da Saúde da Família talvez seja um dos mais exitosos dos últimos anos”, comentou.
Além do atendimento ambulatorial prestado aos pacientes, as unidades realizam vacinações e exames como ultrassonografia, raios-x, eletrocardiograma e laboratoriais: sangue, urina e fezes. As clínicas também realizam pré-natal e o teste do pezinho nos bebês. Segundo dados do sindicato, no ano passado as equipes de atenção primária da prefeitura realizaram 4.996.198 atendimentos e 8.243.867 visitas domiciliares. Atualmente, 1.294 equipes atuam na rede pública do Rio, atendendo 70,63% da população. Os atendimentos primários, teriam sido responsáveis pela redução da mortalidade por doenças cerebrovasculares (infarto e Acidente Vascular Cerebral) para 25,6% em adultos no ano passado. Em 2008, antes da expansão do programa, a taxa de mortalidade era de 34,6%.
A médica Valeska Antunes, que atende pacientes em situação de rua, disse que faltam materiais básicos de trabalho em algumas unidades. “Faltam insumos e alguns analgésicos básicos, como a Dipirona. As pessoas de baixa renda não dispõem de recursos para comprar medicamentos”, comentou. Além das péssimas condições de trabalho, os médicos denunciam que alguns salários e benefícios estão atrasados e, com o possível corte no orçamento, a categoria teme por atrasos ainda maiores nos vencimentos dos trabalhadores contratados por Organizações Sociais.
Na quinta-feira, os sindicalistas pretendem acompanhar uma audiência pública a ocorrer na Câmara dos Vereadores a fim de discutir o orçamento da saúde para o ano que vem. Segundo a diretora do Sinmed, Mayá Puertas, a falta de verbas também pode colocar em risco a segurança dos profissionais. Ontem pela manhã, uma médica do Hospital Municipal Souza Aguiar teria sido agredida por um paciente que teria ficado irritado com a informação de que receberia alta. “Nesses casos o sindicato pode dar apoio psicológico e jurídico ao profissional. Por conta de episódios como esse que defendemos melhores condições de trabalho e investimentos para o setor”, comentou.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que trabalha em conjunto com a Secretaria Municipal de Fazenda para fazer repasses às organizações sociais responsáveis pela gestão das clínicas de família e que cabe a elas administrarem os equipamentos de saúde sem trazer prejuízos à população.