Por adriano.araujo

Rio - Evitando ainda apontar os policiais militares como os autores do disparo que matou a turista espanhola Maria Esperanza Jimenez Ruiz, de 67 anos, quando ela fazia um passeio na Favela da Rocinha, o delegado titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DH-Capital), Fabio Cardoso, disse que todos os detalhes do crime estão sendo apurados e que as prisões devem ocorrer ainda nesta segunda-feira. Ele condenou o que chamou de "assassinato".

"Uma turista que estava em turismo aqui no Rio ser atingida por um tiro, ser assassinada, é inadmissível e vamos atuar para identificar essa pessoa e colocar na cadeia para que ele responda por essa covardia", disse Cardoso. 

Documento de identificação da turista espanholaReprodução / TV Globo

O delegado disse que as equipes se dividem entre depoimentos, recolhimento de imagens de câmeras de seguraça, perícia na cena do crime e no automóvel onde a turista estava com outros estrangeiros — seu irmão e sua cunhada, além de um italiano — e o guia brasileiro, que dirigia o veículo. 

Os três policiais militares envolvidos na ocorrência foram identificados e tiveram as armas apreendidas e levadas para o Instituto de Criminalistica Carlos Éboli (ICCE).  Eles também foram levados para a DH para serem ouvidos. A Delegacia Especial de Apoio ao Turista (Deat) auxilia as investigações e o vice-cônsul da Espanha, José Luiz Garcia Mira,  acompanha o andamento do caso.

Em depoimento, o motorista e guia que levava os turistas disse que não viu a blitz dos policiais e só ouviu o disparo. Quando percebeu, a espanhola já estava ferida com um tiro na altura do pescoço. Um outro turista também confirmou a informação do condutor de não ter visto a barreira de policiais.

Maria Esperanza chegou a ser levada para o Hospital Miguel Couto, na Gávea, também na Zona Sul, mas morreu ao dar entrada na unidade, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.

Em nota, a Secretaria de Estado de Segurança lamentou a morte da turista e informou que acompanha a apuração dos fatos junto à Corregedoria da PM e à Divisão de Homicídios, que investiga o caso.

Turista espanhola estava em carro quando foi morta a tiros na RocinhaDivulgação

PMs e criminoso baleados em confronto 

Em um confronto mais cedo, dois policiais militares também foram baleados. Um deles, identificado apenas como Thiago, foi ferido de raspão na cabeça e o outro, identificado como Xavier, no tórax. Os cabos foram levados para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea. No entanto, a corporação ainda não informou o estado de saúde das vítimas.

A troca de tiros ocorreu entre a Rua 1 e a localidade conhecida como 199. No local, os policiais apreenderam uma pistola com kit rajada. Um bandido foi baleado e depois reconhecido por PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) como um dos envolvidos no tiroteio. Ele também foi levado ao Hospital Miguel Couto.

Para guias, responsável por passeio desconhecia conflitos do tráfico

Guias turísticos que fazem passeios na favela da Rocinha, na zona sul do Rio, afirmaram que a espanhola Maria Esperanza Ruiz, de 67 anos, morta nesta manhã de segunda-feira, 23, pela Polícia Militar, deve ter sido guiada ao local por alguém de fora da comunidade sem conhecimento dos conflitos do tráfico na comunidade.

"A gente trabalha com guias locais e um vai passando informação para o outro. Todo dia, tem que avaliar a situação. Como a gente é daqui, sabe dizer se dá ou não. Trabalho com isso há três anos e nunca tive problema. A gente zela. Tem todos os cuidados. Sabe os locais de perigo. Não vai levar turistas a vielas onde tem facilidade de acontecer algo. E claro que, se algum policial recomendar que não haja passeio, a gente não vai. Um guia local nunca iria desobedecer a uma ordem da polícia para parar o carro Talvez a pessoa não tenha escutado bem", contou Roberto Júnior, coordenador do Favela Walking Tour, um dos muitos serviços turísticos da Rocinha.

Ele disse que não há interação entre os policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela com os que estão reforçando o policiamento no morro há um mês, desde que houve a invasão por traficantes rivais em área do grupo que comanda o comércio de drogas atualmente. Segundo ele, a decisão por fazer ou suspender os passeios acaba sendo individual. Já outro guia ouvido pela reportagem, que não quis se identificar, relatou que diariamente, desde o início dos conflitos nas favelas, policiais fazem uma avaliação em casos de risco de tiroteio, orientam as empresas a não levar visitantes para o morro.

Na semana passada, a reportagem presenciou um grupo de turistas passeando num dia de tiroteio. Na ocasião, o capitão Maicon Pereira, um dos porta-vozes da PM, afirmou que a visita não era recomendada. Segundo os guias, o movimento de turistas caiu a menos da metade no último mês por causa dos conflitos. Num dia chuvoso como esta segunda-feira, visitantes que deixam de ir ao Cristo Redentor e Pão de Açúcar, por causa da baixa visibilidade, optam por visitar comunidades. "Tem muita gente que sonha conhecer uma favela. Ver o que ninguém noticia. Mostramos que a maioria é trabalhador. Eles veem o que não está no cartão-postal", justificou o guia Roberto Júnior.

Tiroteio assusta alunos da PUC

?A professora de teologia Bárbara Bucker leciona na universidade há 30 anos e nunca tinha passado por uma situação parecida. Ela interrompeu brevemente a aula e cogitou cancelá-la, com medo do barulhos dos tiros. "Eu só rezo para que essa guerra pare e haja paz. É assustador. Parece que estamos ao lado de um campo de guerra. Fico preocupada com a segurança dos alunos", lamentou.

Estudante de Comunicação da universidade, Gabriela Rodrigues, de 21 anos, mora na Tijuca, entre os Morros de São Carlos e do Turano, e revela que está habituada a ouvir tiros toda a semana. "Foi a primeira vez que ouvi aqui na PUC. Não fico assustada, porque sei que estou segura, mas fico tensa pelas pessoas que estão expostas à violência", afirmou.

*Reportagem de Adriano Araújo, Jonathan Ferreira, Rafael Nascimento e do estagiário Gustavo Côrtes

*Com informações do Estadão Conteúdo

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