Por thiago.antunes

Rio - Moradores, com medo e acuados, evitam sair desde quarta-feira. Casas e carros destruídos por tiros. Quem vai trabalhar não tem hora para voltar. Comércio fechado, quintais invadidos, ruas desertas, metrô parado, trânsito interditado, dois moradores feridos e um homem morto. É um resumo da rotina na região dos morros do Juramento e Juramentinho, nos bairros de Vicente Carvalho, Vaz Lobo e Tomaz Coelho, há uma semana, com tiroteios intensificados há três dias em guerra entre facções rivais.

Após noite de tiroteio no Juramento%2C caveirão ficou na Av. Martin Luther King perto da estação Tomaz CoelhoMárcio Mercante / Agência O Dia

Morador de um dos acessos do Juramentinho, João Matheus Rodrigues Alves, 19 anos, foi um dos inocentes vítimas de bala perdida, quinta-feira à tarde. O jovem saiu às 16h, antes de o tiroteio recomeçar. Conversava com amigo na porta de casa quando um tiro atingiu o lado direito de seu rosto, perto do olho.

Segundo parentes, o rapaz corre risco de perder parte da visão. Uma mulher, não identificada, foi baleada no pescoço, às 20h. Ambos foram socorridos no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e não correm risco de morrer.

Ainda na noite de quinta-feira, a Avenida Pastor Martin Luther King Jr. ficou interditada no trecho de Vicente de Carvalho por quase três horas, das 21h14 às 23h50. Voltar para casa foi difícil também no metrô. A estação de Thomaz Coelho foi fechada por causa dos tiroteios das 19h54 às 20h35. Até o fim da operação, um acesso permaneceu bloqueado. Um dos acessos da estação Vicente de Carvalho precisou ser interrompido das 19h53 até o fim da noite.

Nas redes sociais, a população questiona o motivo de a Polícia Militar não ter pedido apoio às Forças Armadas, como ocorreu na Rocinha. "Na Rocinha teve ajuda do Exército. O Juramento tem ajuda de quem?", postou um dos internautas. A PM confirmou que ainda não cogitou pedir reforço das tropas federais.

Moradores de diversos bairros como Irajá, Vaz Lobo, Colégio, Thomaz Coelho, Cavalcanti e Vista Alegre ouvem o barulho dos tiros. Os tiros atingiram carros e casas bem longe do ponto dos tiroteios, na Vila Kosmos e na Praça da Cetel, na Vila da Penha.

Dois suspeitos presos

O 41º BPM (Irajá) fez operação no Juramento o dia todo ontem. Dois suspeitos foram presos e um menor, apreendido. Eles seriam dos morros do São Carlos, do Urubu e do Juramento e carregavam dois fuzis e um radiotransmissor. Os detidos, não identificados, foram encaminhados para a Cidade da Polícia.

O objetivo da ação, segundo a PM, era prender criminosos que disputam a venda de drogas na região. A ação foi apoiada por policiais do 2º CPA e dois veículos blindados. Homens do 3º BPM (Méier) ocuparam o Juramentinho. A maior parte do Juramento está controlada pela facção Amigos dos Amigos (ADA) e o Comando Vermelho (CV) tenta retomar a comunidade. Estima-se que 100 homens do CV foram deslocados do Complexo da Penha para expulsar os rivais da ADA no Juramento. Com apoio de comparsas das favelas Primavera (ADA) e Serrinha (TCP), os bandidos da ADA teriam expulsado o CV. Ontem o dia foi mais calmo na região.

Um suspeito, não identificado, morreu ontem em confronto com policiais do 9º BPM (Rocha Miranda) na Rua Lima Drumond, em Vaz Lobo. No Complexo do São Carlos, no Estácio, o Bope prendeu um homem conhecido como Locke, com fuzil, carregadores e droga.

Dificuldade até para trabalhar

Uma casa de dois andares na Rua Itapuã, em Vicente de Carvalho, ficou com dezenas de marcas de tiros. Automóveis ficaram furados por balas. Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra, por oito minutos seguidos, o forte tiroteio na noite de quinta. Em outra gravação, criminosos armados são vistos correndo na mata.

Casa na Rua Itapuã teve toda a fachada atingida por muitos tirosReprodução

Bandidos pulam os muros das casas em fuga e moradores têm sofrido perrengue para voltar do trabalho. "Minha vida está um inferno. Já é a segunda vez em menos de um mês que tenho que ficar no shopping esperando o tiroteio passar para conseguir atravessar para o Juramento", disse a contadora Isabella Barbosa, 25 anos. "Na quarta-feira à noite, minha filha estava na passarela do metrô quando recomeçou o tiroteio e teve que correr. Tenho ficado em casa trancada. Deixei de visitar clientes e minhas freguesas sumiram, com medo", contou a vendedora Rosângela Oliveira, 54 anos.

 

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