Por thiago.antunes

Rio - Funcionários e pacientes das Clínicas da Família e dos postos de saúde do município fizeram protestos em diversos bairros do Rio para denunciar a falta de insumos e de medicamentos, além de cobrar a regularização dos salários atrasados. Os manifestantes bloquearam o trânsito parcialmente em importantes vias, como a Avenida Brasil e a Autoestrada Lagoa Barra, além de terem interferido em outros 28 pontos da cidade. A Associação dos Médicos de Família e Comunidade do Rio de Janeiro (Amfac-RJ), que representa os médicos que trabalham nas unidades de atenção primária, acusa a Prefeitura do Rio de ter bloqueado R$ 540 milhões no início do ano, que seriam destinados aos serviços de saúde.

Manifestação na Unidade de Atenção Primária Zilda Arns fechou trecho de via para denunciar problemasMaíra Coelho / Agência O Dia

Segundo o presidente da entidade, Moises Vieira Nunes, o Ministério Público convocou a Amfac-RJ para uma reunião hoje a tarde com a Procuradoria Geral do Município e os representantes das Organizações Sociais a fim de buscar soluções para as demandas dos grevistas. "Na semana passada, apresentamos as nossas reivindicações ao MP. Agora, iremos sentar com a prefeitura e com representantes das Organizações Sociais para definir um calendário sobre a greve. Esperamos que a prefeitura apresente documentos que comprovem que a verba para o pagamento dos salários e a compra dos insumos e medicamentos foi liberada", comentou.

Nunes denunciou que, devido ao término do contrato com o laboratório, exames foram suspensos em Irajá, Madureira, Pavuna, Anchieta, Penha, Ramos, Maré e Ilha do Governador. Em documento interno, a empresa Cientificalab Produtos Laboratoriais e Sistemas Ltda informa que o contrato emergencial firmado com a prefeitura foi encerrado dia 13 sem renovação. Uma mostra que dos 236 remédios oferecidos nas unidades, 175 estão em falta, incluindo analgésicos, antitérmicos, antibióticos e anti-inflamatórios, além de medicamentos de uso contínuo para diabéticos, hipertensos e pacientes psiquiátricos. Um profissional lotado na unidade Zilda Arns, que preferiu não se identificar, afirma que a falta dos medicamentos agrava problemas de saúde.

Médicos e pacientes fizeram passeata para protestar na Estrada do Itararé%2C no Complexo do AlemãoMaíra Coelho / Agência O Dia

Doenças agravadas

O desabastecimento nas farmácias trouxe consequências para a artesã Sueli Coelho, 46 anos, que está sem remédios há uma semana. "Sábado minha pressão subiu. Ontem, um parente me cedeu outro remédio. Já estive três vezes na unidade, mas os funcionários informaram que não há previsão de chegada", lamentou Coelho.

Os funcionários também reclamam que não há previsão para receber salários de outubro. Médicos iniciaram greve no dia 26 de outubro e, na semana passada, os enfermeiros aderiram. Os agentes comunitários de saúde pretendem cruzar os braços a partir do próximo dia 21. "Trabalho desde 2005 no Complexo do Alemão e nunca vi situação tão caótica", desabafou o agente comunitário Julio César Boaventura. Segundo ele, alguns colegas não receberam o salário de setembro. "Não há fitas para medir glicose, nem papel para imprimir as receitas".

Sindicato diz que crise deve ser agravada em 2018

Os médicos que trabalham no Hospital Municipal Rocha Faria ameaçam entrar em greve devido às péssimas condições de trabalho e do atraso salarial. A informação é do diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (Sinmed), Alexandre Telles. Ele anunciou que os profissionais pretendem fazer assembleia para discutir possível paralisação. "A situação lá (Hospital Municipal Rocha Faria) está lastimável", comentou. De acordo com o Sinmed, devido ao contingenciamento de recursos, o Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, fechou o setor de internação e suspendeu cirurgias eletivas.

Atriz Nanda Costa gravou vídeo criticando a falta de verbas nos CapsReprodução

Para Telles, a crise na saúde deve se agravar em 2018. "O orçamento deve ser menor. Estava estimado R$ 4,9 bilhões, o mesmo de 2016. A prefeitura prometeu acrescentar R$ 500 milhões, mas não é suficiente para manter as unidades". Os médicos dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) farão assembleia quinta-feira sobre possibilidade de greve. A atriz Nanda Costa gravou vídeo essa semana denunciando a falta de verbas para três Caps que atendem dependentes de álcool e drogas. Telles explicou que o contrato das unidades foi encerrado há duas semanas. Em nota, a prefeitura disse informou que todos os 30 centros de atenção psicossocial da rede municipal estão em funcionamento e nenhum serviço foi suspenso. "A Secretaria de Saúde está tomando medidas para ajustar a execução orçamentária à situação atual de crise financeira".

Prefeitura diz que pediu prioridade

Prefeitura do Rio informou que está empenhada em regularizar a situação das unidades de saúde da rede municipal e que os repasses feitos às Organizações Sociais obedecem a um calendário estipulado e publicado em Diário Oficial pela Secretaria Municipal de Fazenda (SMF). Sobre a falta de insumos nas unidades de Atenção Primária, a Secretaria de Saúde disse que já solicitou prioridade na liberação de recursos para aquisição dos mesmos, sob análise das comissões fiscais da SMF.

A Prefeitura ressaltou que herdou da última administração uma dívida na saúde com fornecedores e Organizações Sociais estipulada em R$ 266 milhões. Por conta da dívida, a prefeitura alega que "precisou fazer esforços para ajustar o orçamento a essa realidade financeira".

De acordo com o Executivo municipal, a renovação do contrato de prestação de serviços laboratoriais para as unidades das Áreas Programáticas 3.1 (Leopoldina) e 3.3 (Madureira) não foi concluída, uma vez que houve reprovação dos documentos das empresas vencedoras do processo licitatório, que já foi reiniciado em regime de urgência, com prazo de 24 horas para conclusão.

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