Rio - O ex-governador Anthony Garotinho e a sua mulher, Rosinha Garotinho, foram presos pela Polícia Federal na manhã desta quarta-feira. Ele foi encontrado no apartamento onde mora, em prédio na Rua Senador Vergueiro, no Flamengo, por volta das 8h. Já a ex-governadora foi levada da residência do casal em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. De acordo com a PF, a ação apura os crimes de corrupção, concussão (recebimento de dinheiro indevido ou obtenção de vantagens), participação em organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais.
O ex-governador foi levado para exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), no Centro. Ele chegou a ser levado para o Corpo de Bombeiros do Humaitá, onde permaneceria preso. Em seguida, a Vara de Execuções Penais enviou ofício ao secretário de Administração Penitenciária, coronel Erir Ribeiro da Costa, determinando a transferência de Garotinho para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde ficam os presos com curso superior. Manifestantes aglomerados na porta da cadeia pública atiraram ovos no carro em que o ex-governador foi transferido.
Rosinha Matheus estava no presídio feminino Nilza da Silva Santos, em Campos dos Goytacazes, e foi transferida à noite para uma ala feminina da cadeia de Benfica.
Pelo menos 50 agentes cumprem nove mandados de prisão e dez de busca e apreensão, expedidos pelo Juízo Eleitoral de Campos, no Rio e em São Paulo. Nas investigações, a PF e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) identificaram elementos que apontam que "uma grande empresa do ramo de processamento de carnes firmou contrato fraudulento com uma empresa sediada em Macaé para prestação de serviços na área de informática".
Segundo a polícia, há a suspeita de que os serviços não eram efetivamente prestados e serviam para mascarar repasses irregulares para campanhas eleitorais. O contrato era no valor de R$ 3 milhões. A PF informou ainda que outros empresários denunciaram que o ex-governador cobrava propina nas licitações da Prefeitura de Campos, exigindo o pagamento para que os contratos "fossem honrados pelo poder público daquele município".
?Organização de Garotinho tinha braço armado para intimidar pessoas
O empresário delator André Luiz da Silva Rodrigues informou ao Ministério Público Eleitoral que a organização criminosa do ex-governador usava armas para viabilizar o esquema de dinheiro ilícito para campanha. O empresário disse que, durante seus trajetos de veículo após fazer saques em dinheiro, recebia a ligações do operador de Garotinho, Antônio Carlos Ribeiro, de apelido Toninho, "o braço armado da organização criminosa", dando conta que estava sendo seguido.
Toninho, que também teve mandado de prisão preventiva expedido nesta quarta-feira, é ex-policial civil. Ele disse, em seu depoimento, que "Toninho fazia questão de mostrar que estava armado".
Para o juiz Glaucenir Silva de Oliveira, da Justiça de Campos de Goytacazes (RJ), o suposto caso "demonstra de forma clara a imposição do líder da Organização Criminosa, ora réu Anthony Garotinho, através do réu Antônio Carlos Ribeiro da Silva, vulgo Toninho, e que era o braço armado da Organização Criminosa, para que o colaborador obedecesse suas ordens".
O magistrado explicou que o grupo exerceria um poder intimidativo contra empresários extorquidos e que mantinham contrato de prestação de serviços ou de realização de obras públicas com o município de Campos. Já os outros réus presos, Ney Flores Braga e Suledil Bernardino, tinham o papel de negociar com empresários o pagamento de suas contribuições ilícitas via "caixa 2". A denúncia aponta que os empresários eram obrigados a fazer a contribuição, mediante ameaça de não receberem seus créditos lícitos.
Programa na rádio Tupi
Por causa da prisão, o ex-governador não apresentou seu programa diário na Rádio Tupi. O radialista Cristiano Santos entrou no ar no lugar de Garotinho e explicou o caso.
"Vocês devem estar estranhando eu aqui. A Polícia Federal prendeu nesta manhã o Garotinho aqui no Rio e a sua esposa Rosinha, em Campos. A defesa vai se pronunciar assim que tiver acesso aos documentos que embasaram a prisão, o que ainda não ocorreu", completou.
Procurada pelo DIA, a assessoria de imprensa de Garotinho disse, por meio de nota que "querem calar o ex-governador mais uma vez". Segundo a defesa, este é mais um capítulo da "perseguição" que ele vem sofrendo desde que "denunciou o esquema de [Sérgio] Cabral e as irregularidades praticadas pelo desembargador Luiz Zveiter".
"O ex-governador afirma que tanto isso é verdade que quem assina o seu pedido de prisão é o juiz Glaucenir de Oliveira, o mesmo que decretou a primeira prisão de Garotinho, no ano passado, logo após ele ter denunciado Zveiter à Procuradoria Geral da República", diz a nota.
A assessoria do ex-governador destacou que nem Garotinho e nenhum dos acusados cometeu crimes e que ele foi alertado por um "agente penitenciário a respeito de uma reunião entre Sérgio Cabral e Jorge Picciani, durante a primeira prisão do deputado em Benfica. Na ocasião, o presidente da Alerj teria afirmado que iria dar um tiro na cara de Garotinho. Agora, a ordem de prisão do juiz Glaucenir é para que Garotinho vá com sua esposa para Benfica, justamente onde estão os presos da Lava Jato. Cabe frisar que essa a operação à qual Garotinho e Rosinha respondem não tem relação alguma com a Lava Jato", diz a nota.
Histórico de prisões
A última prisão de ex-governador ocorreu no dia 13 de setembro enquanto ele apresentava seu programa na Tupi. Na ocasião, Cristiano Santos disse que Garotinho ficou ausente por "problema na voz".
A prisão temporária de Garotinho havia sido determinada pelo juiz Ralph Manhães, da 100ª Zona Eleitoral de Campos dos Goytacazes, que o condenou a 9 anos e 11 meses de prisão por corrupção eleitoral, associação criminosa, coação de duas testemunhas e supressão de documentos.
A medida foi posteriormente convertida em prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica. No entanto, ele conseguiu um habeas corpus no dia 26 do mesmo mês. O relator do caso, ministro Tarcísio Vieira, entendeu ser ilegal o mandado de prisão, uma vez que a instrução do processo já foi encerrada e que o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) é de que o cumprimento da pena só pode se dar após condenação em segunda instância.
No dia 11 de novembro do ano passado, Garotinho também já havia sido preso suspeito de envolvimento em um esquema de compra de votos. Segundo a polícia, uma associação criminosa foi montada para fraudar as últimas eleições no município de Campos, em que foi eleita a ex-governadora Rosinha Matheus.
?Com informações do Estadão Conteúdo