Rio - Inimigo político de Sérgio Cabral e da cúpula do PMDB, entre eles Jorge Picciani, que estão presos na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, Garotinho vai ficar na unidade em ala diferente do grupo. A separação de rivais é tratamento comum dado pela Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) aos casos de presos de facções criminosas adversárias, como Comando Vermelho e Terceiro Comando. Ontem a noite, Rosinha foi transferida da cadeia feminina de Campos para Benfica, onde passará a noite em uma ala destinada às mulheres em um pavimento longe do marido.
Em nota divulgada pela assessoria dos ex-governadores consta que "Garotinho afirma ainda que nem ele nem nenhum dos acusados cometeu crime algum e, conforme dissera em seu programa de rádio, chegou a ser alertado por um agente penitenciário a respeito de uma reunião entre Sergio Cabral e Jorge Picciani no presídio de Benfica, na qual o presidente da Alerj teria afirmado que iria dar um tiro na cara de Garotinho". O documento alega ainda que os ex-governadores e seus aliados são inocentes e ataca o juiz Glaucenir de Oliveira.
Ao ser preso pela manhã, primeiro Garotinho foi levado para 1º Grupamento Operacional do Comando Geral, do Corpo de Bombeiros, no bairro do Humaitá. O pedido foi feito em ofício à corporação encaminhado pelo delegado da Polícia Federal Helcio William Assemnheimer. Em outro ofício, Assemnheimer também pedia 'estadia' para Rosinha. Mas a Vara de Execuções Penais (VEP) decidiu que Garotinho tinha que ser transferido para um presídio do estado. Na porta da cadeia houve uma pequena manifestação para recepcionar o ex-governador.
Mais políticos na cadeia
Um esquema de arrecadação de propina, com direito a braço armado e acordo político com o Partido da República (PR) para garantir eleições da legenda. Esta foi a base da denúncia do Ministério Público Eleitoral que resultou na prisão dos ex-governadores Anthony Garotinho e Rosinha Matheus ontem pela manhã. Outras três pessoas foram presas na operação da Polícia Federal batizada de Caixa DÁgua. As investigações mostraram ainda que, na Prefeitura de Campos, entre 2009 e 2016, pelo menos seis empresas com contratos de R$ 976,6 milhões, quando Rosinha era prefeita, foram pressionadas a fazer doações ilegais para garantir as campanhas de Anthony Garotinho e aliados.
O grupo JBS teria irrigado o esquema para garantir a estrutura de poder dos acusados em função de acordo que destinaria R$ 20 milhões para o PR, com o aval do presidente nacional da legenda, ex-senador e ministro dos Transportes do governo Dilma, Antônio Carlos Rodrigues, alvo de um dos mandados de prisão. Garotinho é presidente do partido no Rio. O bando contaria com o policial civil aposentado em 2012 Antônio Carlos Ribeiro da Silva, o Toninho, como o braço armado para pressionar empresários a manterem o 'caixa 2' da organização criminosa.
Ao todo, oito pessoas foram denunciadas à Justiça. Além dos mandados de prisão, o juiz eleitoral de Campos, Glaucenir Silva de Oliveira, expediu ainda dez mandados de busca e apreensão para Rio e São Paulo. A Justiça determinou bloqueio de bens de Garotinho e Rosinha, dos outros denunciados e das empresas Macro Engenharia e Ribeiro Azevedo Construções no valor de até R$ 6 milhões. Toninho é sócio da Ribeiro, que manteve contratos com a Prefeitura de Campos. Foram pedidos o afastamento de Rodrigues da presidência do PR e de Garotinho da direção regional.
O empresário André Luiz da Silva Rodrigues é um dos principais delatores do esquema. Dono das empresas Working e Ocean Link, revelou, que pressionado por Garotinho, para garantir dinheiro para campanha ao governo estadual em 2014, a Ocean Link fez contrato fraudulento de R$ 3 milhões com a JBS. A simulação do negócio foi acordada em reunião no comitê de campanha em Botafogo, em 2014. "Garotinho entrou na sala muito irritado, ficou em pé na cabeceira da mesa e disse: que seria breve e que precisava de R$ 5 milhões para a campanha e que era para cada um dos presentes dar R$ 1 milhão", disse em depoimento.
No encontro havia outros empresários que prestavam serviço à prefeitura, que apesar de a prefeita ser Rosinha, quem comandava era Garotinho. O deputado estadual Geraldo Pudim, do PMDB, testemunha, confirmou as declarações do delator. À época, Pudim era aliado de Garotinho. Os denunciados vão responder por corrupção, concussão, organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais. O PR não se pronunciou.
Policial aposentado era o braço armado do grupo, diz denúncia
O policial civil aposentado Antonio Carlos Ribeiro da Silva, o Toninho, segundo a denúncia, era, além de braço armado do grupo de Anthony Garotinho, operador do esquema de pagamentos por empresas ao ex-governador do Rio. De acordo com as investigações, Toninho era o responsável por cobrar, pessoalmente, o dinheiro dos empresários, andava armado e tinha relações com funcionários de uma agência bancária, que facilitariam as retiradas milionárias de dinheiro.
Além disso, a denúncia aponta que ele tinha informantes dentro do Ministério Público ou usava de seu prestígio perante autoridades e órgãos públicos, já que costumava ficar sabendo detalhes sobre as investigações e, diante das informações, inibia as testemunhas. Em um dos encontros com o principal delator do esquema, o empresário André Luiz da Silva Rodrigues, Toninho chegou a ameaçar o empresário com uma arma quando foi cobrar pagamento transferido à Ocean Link feita pela JBS.
Os dois se encontraram dentro do carro do policial, que tinha uma arma entre as pernas. Durante a conversa, Toninho perguntou pela família do empresário, o que foi considerado ameaça. Toninho também costumava seguir André nos dias de retiradas do pagamento e avisava isso ao empresário por telefone.