Ex-assessor de Cabral diz que esquema de corrupção movimentou R$ 500 milhões
Miranda admitiu controlar todas as contas do ex-governador, inclusive as pessoais, desde a década de 1990
Por luana.benedito
Rio - O juiz da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, ouviu nesta segunda-feira, cinco acusados de participar da suposta organização criminosa instalada durante os governos de Sérgio Cabral. Apontado como operador financeiro do grupo, o ex-assessor Carlos Miranda afirmou em depoimento que a propina era paga de acordo com o faturamento nas obras públicas e que o esquema de Cabral recebeu em torno de R$ 500 milhões, a maior parte encaminhada para o exterior.
Miranda admitiu controlar todas as contas do ex-governador, inclusive as pessoais, desde a década de 1990. Segundo ele, o dinheiro pago pelos empresários também entrava no financiamento de campanhas políticas de aliados de Cabral. Somente a Carioca Engenharia, de acordo com Miranda, repassou cerca de R$ 30 milhões para a organização.
Como operador do esquema, Miranda reconheceu receber R$ 150 mil por mês e disse que ex-secretários do governo Cabral Wilson Carlos e Régis Fichtner recebiam o mesmo valor.
Também ouvido nesta segunda, o sócio da construtora Carioca Engenharia Ricardo Pernambuco confirmou que a propina paga pela empresa para a organização liderada por Cabral aumentou de R$ 200 mil para R$ 500 mil por mês com a obra da Linha 4 do metrô.
Para o procurador da República Sérgio Pinel, os depoimentos desta segunda-feira confirmam o funcionamento da organização criminosa chefiada pelo ex-governador. “Funcionou por um longo período uma organização criminosa aqui no Rio de Janeiro. Uma das empreiteiras pagou propina, não só para o ex-governador mas também para outros agentes públicos. A realização dessas obras acabou sendo escolhida pelo governo do estado unicamente pelo interesse em receber propinas”.
O ex-subsecretário de Transportes Luis Carlos Velloso, o ex-diretor da Riotrilhos, Heitor Lopes de Souza Junior, e o operador financeiro Luiz Carlos Bezerra também detalharam o esquema de pagamento de propina por parte de empresários a agentes públicos ligados a Cabral. Além da Linha 4 do metrô, a Carioca Engenharia também foi responsável por obras no Maracanã, o Arco Metropolitano e o PAC das Favelas.
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Defesa critica delação premiada
A defesa de Cabral negou a acusação feita por Miranda e criticou o mecanismo de delação premiada. "Os inúmeros defeitos da norma que rege a delação premiada no Brasil acabaram dando azo a uma verdadeira indústria de delatores, não apenas no caso do ex-governador, mas em todo o país. No caso de Sérgio Cabral, não há uma só pessoa que tenha prestado declarações favoráveis à acusação que não tenha obtido ou espere obter algum benefício processual. Cada qual tem como preocupação exclusiva o tamanho da pena que vai lhe caber. A última coisa que passa nas cabeças dessas pessoas é a verdade ou a Justiça. O senhor Carlos Miranda é apenas mais um exemplo dessa prática nefasta”, afirmou o advogado Rodrigo Roca.