Rio - O Ministério Público já instaurou mais de 30 inquéritos sobre a atuação da PM na Rocinha. Moradores disseram que foram espancados, ameaçados, roubados e tiveram suas casas saqueadas pelos militares. Todos os crimes foram nos últimos 6 meses.
"Amanhã (hoje) vamos encaminhar um ofício à delegacia pedindo informações sobre os registros feitos nos últimos dias sobre possíveis arbitrariedades cometidas pelos agentes. Temos ciência de agressões cometidas por PMs", afirmou o promotor de Justiça e coordenador da Primeira Central de Inquérito, Marcelo Muniz Neves. O morador que quiser denunciar ameaça ou agressão deve ligar no 127.
Denúncia de truculência
Na Rocinha, o clima de insegurança continuava nesta segunda-feira e moradores relataram episódios de truculência da PM. Em um dos casos, a artesã Ana Letícia Silva de Souza, 43, ao passar pela Via Ápia, viu três policiais abordando um rapaz que havia acabado de sair do banco. Sem identificação, o homem foi algemado para ser levado à 11ª DP. Ana começou a filmar, mas alega ter sido agredida por um militar com um cacete. Segundo ela, o PM quebrou um de seus celulares. Ana teria levado tapas, socos e até spray de pimenta. Ela acabou detida e seu sobrinho, de 16 anos, também, pois entrou na confusão.
"Bateram no meu rosto, me agrediram de tudo quanto é forma. Falaram que todo mundo na Rocinha é bandido", disse Ana. Segundo ela, os policiais estavam sem identificação na farda. "Os nomes estavam escondidos", completou. "Estamos ouvindo as duas partes. A PM fala que foi abordar um homem e houve resistência. Vou avaliar se houve excesso da polícia. Tirar a identificação é uma infração e eles podem ser punidos", contou o delegado Carlos Rangel, da 11ª DP (Rocinha). A Polícia Militar não quis comentar a agressão.
Homem morre em mais um dia de tiroteio na Rocinha
Pouco mais de 24h após a morte de oito pessoas por circunstâncias ainda não esclarecidas pela Polícia Civil a comunidade da Rocinha voltou a ter confrontos entre militares e criminosos. Na manhã de ontem, a troca de tiros aconteceu quando agentes do Bope patrulhavam a localidade conhecida como 199 e se depararam com bandidos. Durante o confronto, um homem, apontado como suspeito pela polícia, foi baleado, socorrido ao Hospital Miguel Couto, na Gávea, mas não resistiu. Com ele, os agentes encontraram um fuzil.
No Cemitério do Caju, a família de Matheus da Silva Duarte Oliveira, de 19 anos, morto em operação da PM na comunidade no sábado, deu o último adeus ao rapaz. Sem nenhuma passagem pela polícia, Matheus foi morto com pelo menos três tiros de fuzil, segundo a família. Um dos disparos acertou as costas do jovem. Os parantes de Matheus afirmaram que a polícia teria entrado na comunidade atirando, pouco depois do término de um baile funk.
"Quero só que o estado me dê uma resposta sobre quem matou meu filho", disse o pai do jovem, o cobrador Márcio da Silva Duarte, 45, que durante todo o cortejo segurava quadro com a foto de Matheus, que havia se tornado pai há um mês. Ontem, também foi enterrada, no Cemitério do Catumbi, outra vítima do tiroteio, Júlio Morais de Lima, 22.
A Divisão de Homicídios não fez perícia nos locais onde os mortos foram encontrados. Todos os PMs envolvidos na operação prestaram depoimento e as dez armas dos agentes foram recolhidas. Além disso, um exame residuográfico foi feito em Matheus. A PM afirmou que todos os mortos eram bandidos e estavam ligados ao tráfico. No entanto, no dia seguinte ao episódio, a Polícia Civil disse que apenas quatro dos mortos tinham alguma participação com o tráfico de drogas na comunidade.