O auxiliar Manoel dos Anjos é favorável, mas espera que, após o recadastramento, a prefeitura também faça a distribuição de autonomias - Foto: Daniel Castelo Branco
O auxiliar Manoel dos Anjos é favorável, mas espera que, após o recadastramento, a prefeitura também faça a distribuição de autonomiasFoto: Daniel Castelo Branco
Por Bruna Fantti

Rio - Imagens flagradas no início da semana com homens fortemente armados cruzando a Rua Cândido Benício surpreenderam muita gente que não conhecia a realidade atual da Praça Seca. Conhecido como a região mais bucólica e nobre de Jacarepaguá, o bairro vive dias de intensos tiroteios, uma guerra entre milicianos e traficantes com contornos de ficção. O vídeo, gravado pela Rede Globo, mostra bandidos com fuzis entre carros na principal via do bairro. A Cândido Benício é segunda mais importante ligação entre o Zona Norte e Centro com o enorme bairro da Zona Oeste (a primeira é a autoestrada Grajaú-Jacarepaguá). Além disso, por ela passa o corredor do BRT. Mas, atualmente serve de fronteira da guerra entre dos bandos, já que divide o território dos grupos rivais. Este tormento já é uma rotina para moradores. "Tremo e rezo todos os dias para que cessem os tiros, que a gente possa sair em paz", diz um morador de comunidade da Praça, como o bairro era chamado com orgulho por quem ali vivia. "Durmo no chão para não correr risco de ser baleado em casa", lamenta outro.

A Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizada (Draco) investiga agora se a guerra travada entre favelas da Chacrinha e Bateau Mouche foi acirrada pela possível união do miliciano Hélio Albino Filho, o Lica, e o traficante do Comando Vermelho, Sérgio Luiz da Silva Júnior, o Da Russa. O miliciano teria se juntado ao tráfico após um racha no grupo paramilitar que atua na área. As comunidades vivem em meio a uma disputa desde junho. "A briga começou com o assassinato de um miliciano. O autor seria próximo ao Lica. A partir dali, o Lica virou o alvo principal e passou a ser perseguido pelo Dande (Anderson Luiz dos Santos), que foi preso em dezembro", afirmou um investigador da especializada.

A aliança entre o miliciano e o traficante, que é chefe da comunidade da Barão, na região, foi relatada por denúncias. O Disque-Denúncia oferece R$ 30 mil por informações que levem à captura de Da Russa. O traficante também é conhecido pelo apelido de Lobo Mau e um inquérito da Polícia Federal aponta que ele possui até esconderijos na mata e fica meses escondido nesse habitat.

É o que a polícia acredita que tenha ocorrido em maio de 2016, quando o traficante passou a ser procurado por possível participação no estupro coletivo de uma adolescente.

O DIA contabilizou que, somente nos três primeiros meses deste ano, nove homicídios ocorreram na região. Conhecido como um miliciano carismático e assistencialista, Lica mantinha o controle da Chacrinha e parte da Bateau Mouche sem chamar a atenção da polícia e com ajuda de policiais corruptos. Em troca, cobrava dos moradores a distribuição de gás, água, TV a cabo clandestina e até pipas para as crianças.

Em fevereiro, dezenas de homens armados com fuzis foram flagrados entrando na Favela Bateau Mouche. Um vídeo do grupo, usando toucas ninjas, foi divulgado pela página 'Realidade do RJ', no Facebook.

Em meio à guerra, as cobranças a moradores aumentaram. Para patrocinar os tiroteios, milicianos aumentaram preços do gás e cobraram taxas aos comerciantes que chegam a R$ 7 mil por mês, segundo agentes. A Polícia investiga se PMs deram apoio a um grupo de milicianos durante tentativa de invasão segunda-feira.

Improvisos para viver no bairro
Bandidos fortemente armados foram flagrados cruzando a Rua Cândido Benício, na Praça Seca
Bandidos fortemente armados foram flagrados cruzando a Rua Cândido Benício, na Praça Seca Reprodução DA TV Globo
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Moradores afirmam que não suportam mais os tiroteios no bairro, que era nobre em Jacarepaguá. Muitos procuram outros locais para morar. "Gosto daqui pela facilidade do BRT. É fácil de chegar, sair do bairro para trabalhar. Mas a gente sai e não sabe se volta. Penso em mudar, mas me pergunto para onde?", questiona uma moradora do Bateau Mouche.
Outro morador da região afirma que só consegue dormir deitado no chão de casa, para escapar dos tiros.
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"Coloco o colchão no chão, empurro o armário para proteger a janela. Aqui tem tiro a toda hora, dia ou noite", lamenta outro morador.
"Tremo e rezo. Peço a Deus que proteja meus netos ao saírem e voltarem para casa. Tenho pressão alta e minha diabetes dispara. Não saio mais à noite e só vou à igreja nos fins de semana, quando tem culto durante o dia. Mesmo assim, já ficamos presos dentro da igreja para escapar de tiros na rua", relatou uma idosa.
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Procurada pelo DIA para falar sobre o assunto, a Polícia Militar não respondeu ao questionamento até o fechamento desta edição.
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