Rio - Com viagem de trabalho marcada para a Europa para o próximo dia 24, o artista circense Pablo Dias Bessa Martins, de 23 anos, corre o risco de não embarcar. É que ele é um dos presos na ação contra a milícia, no último sábado, em Santa Cruz, quando a Polícia Civil prendeu 168 pessoas sob acusação de integrarem um grupo de paramilitares.
Pablo é acrobata e malabarista e a viagem dele começa por Estocolmo, na Suécia. Ele retorna ao Brasil em outubro. A família dele já contratou um advogado. Pablo mora na Comunidade do Aço, em Santa Cruz, com a mulher, a também artista circense Jessica Carla Barbosa da Silva, e o filho do casal. Ela estava com ele no dia da prisão mas, assim como todas as mulheres do local, foi liberada.
A família de Pablo afirma que ele é inocente. O mesmo diz uma das donas da Companhia de Circo Up Lion, Olga Dalsenter, e o ator Marcos Frota, dono do Marcos Frota Circo Show. A companhia de Olga tem parceria com o Marcos Frota Circo Show, do ator Marcos Frota, que tem faz trabalhos com Ação Comunitária de Apoio Psico-Social (Acapes), projeto em Santa Cruz onde Pablo e Jessica dão aula. Frota que gravou um vídeo em defesa do artista.
"Atenção. Artista é trabalhador. Tem muita gente inocente na cadeia. Atenção. Pablo é um artista, é trabalhador. O lugar dele é no palco, no picadeiro. Pablo, artista de circo do Rio de Janeiro, do nível internacional", defendeu Frota. Pablo e Jessica fazem parte do projeto (Acapes), que tem parceria com o circo de Marcos Frota.
"Damos aulas para jovens replicando o que aprendemos no circo. Somos professores. Fazemos espetáculos para crianças de comunidades, em escolas para deficientes, e não estamos acostumados com isso (milícia). Começamos no circo crianças. Vou provar a inocência dele (Pablo) para ele ficar limpo e poder trabalhar", espera Jessica.
Olga contou que ele está na companhia há quatro anos. "Pablo trabalha com a gente desde 2014 e passa vários meses na Europa durante o verão quando fazemos nossos espetáculos lá. Estamos esperando por ele, que é trabalhador, até o dia do embarque. Estamos com a passagem dele. Acreditamos na inocência do Pablo. Se ele não for solto até lá, além de ter a vida prejudicada, teremos que rever nosso trabalho com o contratante. A família de Pablo está destroçada", disse Olga, que tem a UP Lion há 26 anos. Além da Suécia, a companhia se apresenta na Finlândia, Letônia, Estônia e Alemanha. Os espetáculos acontecem em parques temáticos e cruzeiros.
Artista foi ao show com a mulher, primo e amigo, que também estão presos
Pablo e outras 167 pessoas, incluindo oito menores, foram pegos enquanto assistiam um show de pagode num sítio em Santa Cruz. Segundo Jessica, que estava com ele no evento, foi ideia do marido ir ao show, já que passaria meses longe dela e do filho devido ao trabalho. "Ele disse: 'vamos, amor. Muito tempo que a gente não se diverte. Vou viajar e passar um tempo fora'. Compramos ingressos. Não sabíamos nada de milícia. A gente mora na comunidade (Comunidade do Aço) e nossa vida é aqui. É aqui que a gente se diverte, faz tudo", contou Jessica, que também é artista circense.
Ela lembrou as horas de pânico que passou no sítio quando a polícia chegou. "Nem sabíamos o que estava acontecendo. Nem tínhamos ideia de que eram policiais. Eles chegaram atirando. Meu marido se jogou em cima de mim para me proteger. Depois, fomos separados e não falei mais com ele", disse ela, que afirma que pessoas foram feridas por estilhaços de balas na ação. "Ajudamos a socorrer uma mulher que ficou ferida", revelou.
Jessica contou que, desde que o marido foi preso, o filho adoeceu e pergunta sempre pelo pai. Mas, preocupada, Jessica que não contou a verdade para o filho. "Ele está com febre desde domingo. Levei ao médico, e a doutora disse que ele não tem nada. É emocional. Como meu marido passa muito tempo fora por causa do trabalho, eu disse a ele que o pai está no circo trabalhando, mas ele diz o tempo todo que quer o pai", lamenta Jessica, que não teve contato com Pablo desde que ele foi preso.
Jessica e Pablo foram ao pagode com outros dois casais. Maryus Chrystians Barbosa Soares, primo de Jessica, Marco Antonio de Souza Ferreira, amigos dela, que também foram presos na ação da Polícia Civil. Mãe de Marco Antonio, Marta Marta Lima de Souza, está revoltada. "Isso é uma injustiça. Não estou nada bem. Desde que meu filho foi preso não durmo e não como", disse ela chorando.
Marta contou que o filho trabalha para um empresa de jardinagem há cinco anos e teme q que ele perca o emprego. "Muitos patrões não vão acreditar nisso e vão mandar as pessoas embora. Meu filho corre o risco de ser demitido", disse a mãe de Marco Antonio. "Meu filho está com fama de bandido, de miliciano, de tudo quanto é coisa ruim sendo trabalhador. Estou muito indignada. Está sendo muito difícil", desabafou a senhora, que também não teve mais contato com o filho desde que ele foi preso