Rio - A dor de uma família que perdeu um ente querido foi intensificada por um impasse burocrático com o governo da Argentina, que estaria atrasando a liberação do corpo para o Brasil. Marcos Paulo Antunes Dias, de 21 anos, morreu no dia 4 de abril. Ele deixou a casa onde morava, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, em fevereiro, para ir morar em Buenos Aires, na Argentina.
Perseguindo o sonho de ser médico, ele já havia tentado vestibular no Brasil por dois anos. Marcos vivia o seu primeiro dia na faculdade de Medicina, quando passou mal em sua residência, à noite, por causa de um problema no coração que ele desconhecia. Apesar de ter sido socorrido rapidamente, Marcos não resistiu e faleceu.
O estudante estava terminando de se arrumar para sair para comer uma pizza com os colegas da residência, quando passou mal.
"Ele teve um mal súbito, com falta de ar, dor no peito e desmaiou", disse o irmão mais velho Paulo Fernando Dias. "Médicos que também moram na república o socorreram na hora. A ambulância foi acionada e chegou ao local em cinco minutos. "Tentaram desfibrilar, o entubaram, deram choque. Ficaram quase uma hora tentando reanimar meu irmão", disse.
O pai, Paulo Fernandes Ferreira Dias, disse que Marcos mantinha hábitos saudáveis e que havia feito exames recentes para se matricular na universidade. "Antes de ir, ele passou por eletrocardiograma, não deu nada. Ele nadava, andava de bicicleta, fazia academia, jogava futebol quase toda semana, não tinha histórico de cardiopatia", lamentou.
A demora para receber o corpo, que completa 15 dias nesta quinta-feira, deve-se justamente ao fato de o jovem ter falecido com apenas 21 anos, apesar de aparentar ser saudável e os exames admissionais recém realizados não terem indicado sintomas de qualquer doença cardíaca. O exame toxicológico também descartou a hipótese da morte ter sido causada por uso de entorpecentes ou álcool.
Paulo Dias disse que o único prazo que lhe deram para a liberação do corpo do filho foram de 30 dias após a morte.
"O excesso de burocracia da Argentina para tramitar a documentação vai nos consumindo. A gente fica apreensivo do que vai acontecer, a cada dia parece que a coisa não anda", desabafou o pai. "Era um filho muito amado, nem eu sabia que meu filho era tão amado assim. Uma pessoa que falava de amor com facilidade. É um impacto muito grande na família ter que suportar coisa tão inesperada".
Paulo disse que Marcos havia entrado em contato com a família pouco antes do incidente. Ele e a mãe do rapaz estavam levando uma funcionária para um hospital e pediram para que se falassem com calma mais tarde. No entanto, o estudante chegou a avisar que estava se arrumando para ir comer uma pizza com os amigos.
O Itamaraty informou que o Consulado-geral do Brasil em Buenos Aires está em contato com a família e com as autoridades argentinas. "Foi solicitado que os procedimentos sejam acelerados. O Consulado está agindo dentro dos limites possíveis. As exigências legais locais precisam ser respeitadas", afirmou o órgão ao DIA.
Como se não bastasse, os familiares reclamaram de uma 'insistente pressão' do órgão equivalente ao IML na Argentina para que os familiares retirassem seu corpo de lá para enterrarem, cremarem ou para que ficasse sob a guarda de uma funerária argentina até a conclusão do processo, o que seria financeiramente insuportável para a família. "Meu pai foi impedido de ver meu irmão, se ele reconhecesse o corpo, meu pai teria que tirá-lo do local e o preço de uma funerária particular era impraticável, cerca de mil dólares por dia até que fosse liberado", disse o irmão mais velho.
Paulo Dias, vem fazendo uma campanha na internet para que a liberação do corpo de Marcos Paulo seja feita com mais rapidez. "Além da dor da perda, temos de lidar com a burocracia argentina, que nos impede de trazer o corpo para que façamos as devidas homenagens!", desabafou Paulo Dias.