Rio - Dois estabelecimentos comerciais tornaram-se alvos de criminosos em menos de 24 horas na Rua Conde de Bonfim, uma das principais da Tijuca. Depois da tentativa de roubo à papelaria Kalunga, que terminou com uma mulher morta e um homem ferido na tarde de quarta-feira, uma unidade das Lojas Americanas foi assaltada por três bandidos por volta das 8h de ontem, um deles vestido com uniforme de gari. O trágico saldo de violência foi registrado mesmo com a atuação do Exército em patrulhamento no bairro há 17 dias.
Os ladrões levaram sete celulares, uma televisão de 50 polegadas, um tablet e um ferro de passar roupas da loja Americanas Express, no Largo da Segunda-Feira. Os três criminosos conseguiram fugir e não houve disparos. A 19ª DP (Tijuca) fez diligências em busca de testemunhas e imagens. A polícia informou que as investigações estão "bem avançadas".
Na noite anterior, Valdisa Mota de Souza, 59, foi morta dentro da Kalunga após três bandidos tentarem assaltar a papelaria, que fica a 1,5 quilômetro das Lojas Americanas. Seguranças trocaram tiros com os suspeitos que estavam em motos, e a mulher foi atingida por um tiro no peito. Funcionário do estabelecimento, Felipe Jackson Emerique foi baleado no abdômen durante a ação.
"Os bandidos ficam soltos e a gente fica preso dentro das nossas próprias casas", lamentou Jackson Franklin, 59, síndico de um edifício na Conde de Bonfim. Há dois anos no cargo, Jackson percebeu a demanda por segurança e ampliou de 12 para 46 o número de câmeras no edifício. Vindo de Manaus, ele pensa que, mesmo com o reforço do Exército e as campanhas para incremento do efetivo policial, a Tijuca não recebeu benefícios. "Todo dia tem assalto aqui. Já teve uma moradora que foi assaltada na porta do prédio. Ela deixou a mãe do lado de dentro, e quando saía um assaltante passou e levou o celular dela", lembrou o síndico.
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que os roubos a estabelecimentos comerciais na região da Grande Tijuca cresceram 142,8% no primeiro trimestre de 2018 em relação ao mesmo período do ano passado, passando de 56 para 136 casos. Na comparação do mês passado com março de 2017, os registros do delito tiveram aumento de 103,8%, um salto de 26 para 53 casos.
A ação de bandidos disfarçados como garis vem se repetindo. No sábado, dois assaltantes foram presos depois de tentaram roubar uma loja das Casas Bahia na Rua da Alfândega, no Centro, uniformizados.
Suspeitos identificados
A Delegacia de Homicídios da Capital (DH) já identificou os três suspeitos envolvidos na tentativa de assalto de quarta-feira à loja Kalunga, que terminou com a morte Valdisa Mota de Souza e um funcionário ferido. Segundo investigadores, o trio, formado por dois homens e uma mulher, já possuía passagens pela polícia por roubos a lojas.
Valdisa havia acabado de sair do supermercado em que trabalhava como operadora de caixa e seguia para a papelaria onde compraria um cartucho de impressora para um dos filhos quando foi baleada, segundo amigos da família. "Estou perdido. Eu estou pensando o que será de mim e o que vai acontecer daqui para frente. Ela falava muito da violência e aconteceu isso justamente com ela. Foi dentro de uma loja onde, aparentemente, você está seguro. Mas (na verdade) não está", lamentou Manoel Mota, marido de Valdisa.
Durante o confronto, Felipe Jackson Emerique, funcionário da papelaria, também foi baleado e levado para o Hospital Federal do Andaraí (HFA), onde passou por uma cirurgia. O estado dele era estável ontem, mas sem previsão de alta. A operadora de caixa será enterrada hoje, às 15h, no Cemitério do Catumbi.
Em nota, a Kalunga esclareceu que está colaborando com as autoridades "para o rápido esclarecimento dos fatos e prestará toda a assistência necessária".
Colaborou o estagiário Felipe Furtado