Dos 90 quilômetros percorridos, a equipe do DIA não flagrou a presença de forças de segurança por Bonsucesso, bairro de concentração de pedestres e diversos comércios - Fotos Daniel Castelo Branco
Dos 90 quilômetros percorridos, a equipe do DIA não flagrou a presença de forças de segurança por Bonsucesso, bairro de concentração de pedestres e diversos comérciosFotos Daniel Castelo Branco
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Mesmo com a intervenção federal na Segurança Pública, iniciada há dois meses, o prometido aumento do policiamento está longe de ser visto pela população. Ao longo de 90 quilômetros percorridos ontem pelo DIA, de 10h às 13h30, no Centro e nas zonas Norte e Sul, nenhum militar da PM ou das Forças Armadas foi visto nas ruas, em viaturas ou a pé. Essas foram as áreas anunciadas como foco de um reforço do Exército em patrulhamento ostensivo desde o fim do mês passado.

A reportagem iniciou o trajeto no Centro e passou pelo Aterro do Flamengo e Leme, retornando pelo Aterro, Túnel Marcelo Alencar, Região Portuária e Avenida Brasil até Guadalupe. Na sequência, fez o caminho de volta ao Centro cortando os bairros de Cordovil, Brás de Pina, Penha, Ramos, Bonsucesso, Del Castilho, Maria da Graça, Méier, Lins, Riachuelo, São Francisco Xavier e a Avenida Radial Oeste, no Maracanã. Foram circuladas áreas de intensa movimentação, como centros comerciais, estações de transporte e orla. Nem sinal dos militares em três horas e meia.

Nas áreas de três batalhões da PM que cobrem o Centro, a Grande Tijuca e o Aterro (5º, 6º e 2º BPMs), os roubos de veículos aumentaram 35,8% na primeira quinzena de abril deste ano, em comparação com igual período de 2017: um salto de 81 para 110 casos. Entre essas regiões, a da Grande Tijuca foi a que sofreu a maior alta do indicador: 52,94%, subindo de 34 para 52 registros. Considerando os três territórios, os roubos de rua cresceram 10,6% (de 453 para 501). O Centro, isoladamente, porém, teve redução de 25,6% do delito (258 notificações nos 15 primeiros dias de abril de 2017 contra 192 em 2018).

Quando se analisa o município inteiro, letalidades violentas (homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e homicídios provocados por oposição à intervenção policial) passaram de 73 para 88 casos (20,5%). Mas roubos de veículos e de rua apresentaram redução de 2,64% e 17,14%, respectivamente. Roubos de veículos caíram de 1135 para 1105 e os de rua baixaram de 3279 para 2717.

A PM esclareceu que o efetivo dos batalhões nas áreas percorridas "está trabalhando para combater ações criminosas" e que a atuação é dinâmica, atendendo ocorrências e fazendo patrulhamento ostensivo onde a mancha criminal é mais acentuada. O Comando Militar do Leste informou que o patrulhamento permanece sendo executado pelas Forças Armadas, em horários, efetivos e locais que mudam constantemente, de acordo com as atualizações da inteligência e conforme demandas da Secretaria de Segurança.

VÍTIMA RECORRENTE
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Nos últimos quatro meses, o advogado Roberto Calmon, 52, foi alvo da violência três vezes. Primeiro, teve o carro alvejado por três tiros em uma tentativa de assalto de madrugada na Rua Dois de Fevereiro, em Água Santa, mas saiu ileso. Por causa do susto, comprou um veículo blindado. Um mês e meio depois, quatro bandidos com pistolas tentaram roubá-lo em uma saída da Linha Amarela para o Méier, às 21h, mas ele confiou na blindagem e escapou. No último dia 6, por volta das 19h40, também na Linha Amarela, altura da Maré, um falso vendedor de biscoitos se aproximou do táxi em que Roberto estava e anunciou o assalto. Seu celular foi roubado.
Como muitos cariocas, Roberto ainda não percebeu resultados da intervenção. "Minha percepção de patrulhamento do Exército no eixo em que eu circulo, entre o Méier e a Barra da Tijuca, é nenhuma. Ainda não consegui perceber a intervenção militar".
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Especialistas compartilham do ponto de vista. "A percepção da população é que não existe intervenção. As pessoas estão cada vez mais amedrontadas. Estamos tendo uma intervenção ausente, porque não se vê mudança alguma na ação da polícia", afirmou o delegado federal aposentado Antonio Rayol.
"O problema hoje é um déficit de policiamento muito grande, porque o efetivo diminuiu e as demandas aumentaram. Com relação ao Exército, é uma presença que também se dilui no terreno e privilegia as áreas de maior visibilidade para roubos de veículo e carga", ressaltou Vinicius Cavalcante, diretor da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança no Rio de Janeiro.
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