Rio - Escassez de vagas e dificuldades com o sistema estão atrapalhando a vida de quem precisa agendar a emissão da Carteira de Trabalho em todo o Estado do Rio. A espera por um horário na Região Metropolitana pode levar mais de um mês, como em Campo Grande, na Zona Oeste. A situação aquece um mercado de serviços de 'despachantes' informais, que cobram entre R$ 5 e R$ 50 para fazer os agendamentos, e anunciam seus serviços principalmente nas redes sociais.
Consultados anonimamente pelo DIA, alguns deles garantiram que conseguiriam vagas para dali a uma semana, mesmo em postos sem datas disponíveis. Advogados alertam, no entanto, sobre o risco de fraudes nesses serviços. Os pagamentos são cobrados por depósito bancário, e podem feitos somente depois de já ter sido garantido o agendamento. Também são cobradas taxas em caso de atraso do pagamento ou de necessidade de remarcação. "O que não consegui em 20 dias, eles conseguiram em 20 minutos", avaliou um usuário em uma página que oferece o serviço no Facebook.
O advogado Daniel Apolônio, presidente da Comissão de Direito do Trabalho do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), alerta para os riscos. "O agendamento não deve ser feito por terceiros porque você informa documentos, não é seguro. Além disso, é um serviço público e gratuito. Essas pessoas acabam se valendo de uma falha no sistema e problemas na burocracia", avaliou. "Além disso, no caso de quem se vale de relações com agentes públicos para conseguir vagas irregularmente, claramente existe uma prática ilegal por parte do servidor", completou.
O agendamento do serviço pode ser feito gratuitamente através do site do Ministério do Trabalho (saaweb.mte.gov.br) ou pela Central de Atendimento alôtrabalho, no número 158. Ao telefone, os atendentes informam que não há vagas disponíveis e pedem que se retorne o contato em outro horário. Na internet, as datas são liberadas gradualmente, em horários difíceis de prever, e se esgotam rapidamente.
O mensageiro Heraldo Neves, 46, que conseguiu buscar sua Carteira ontem, riu ao ser perguntado se foi fácil obter o documento. "De jeito nenhum! Nunca funcionava, eu e minha secretária ligamos por cerca de 15 dias até conseguirmos. Mas, no posto de atendimento, conversei com pessoas que tentaram por dois meses", contou ele, que mora em Campo Grande e fez o processo na sede do Ministério do Trabalho, no Centro, devido à falta de vagas em seu bairro. Ele aproveitou para levar a filha Kelly Almeida, 14, que também precisava do documento para começar a trabalhar em uma vaga de jovem aprendiz.
"Depois de um tempão tentando, cheguei ao ponto de procurar tutoriais no Youtube para descobrir como fazer, e recomendaram entrar no site por volta das 6h da manhã, quando liberam mais vagas. E tem que ser pontual, porque em dez minutos esgota tudo", recomendou a estudante Maria Antônia Rocha, 18. Ela demorou quase três meses para conseguir uma vaga no Poupatempo Cantagalo, em Ipanema, na Zona Sul.
E o problema é recorrente, como lembra a estudante Luiza Canedo, 20: "Quando consegui meu primeiro emprego, marquei para tirar a carteira, mas deu problema no sistema do posto e não consegui fazer. O RH da empresa ficou no meu pé, me deram um prazo para resolver, corri risco de perder a vaga. Só deu certo porque fiquei quatro horas numa fila de espera para tirar".
No Estado do Rio, só há disponibilidade imediata de agendamento em alguns poucos municípios fora da Região Metropolitana, como Resende e Miguel Pereira, no Sul Fluminense.