A viúva do sargento Marins visita regularmente a sede da Delegacia de Homicídios, na
Barra da Tijuca - Marcio Mercante / Agencia O Dia
A viúva do sargento Marins visita regularmente a sede da Delegacia de Homicídios, na Barra da TijucaMarcio Mercante / Agencia O Dia
Por CÁSSIO BRUNO

Bianca Marins, 40 anos, não superou a morte do marido, o sargento da Polícia Militar Márcio Leandro do Nascimento Marins, de 46 (mais da metade deles dedicado à corporação). Ele foi encontrado morto, com o corpo carbonizado, dentro do porta-malas do carro que dirigia. O crime ocorreu próximo a uma favela em Guadalupe, na Zona Oeste, dia 14 de fevereiro de 2017.

Passado um ano, dois meses e 15 dias, a viúva não sabe quem matou o pai de suas duas filhas. E a luta por Justiça se transformou em peregrinação. Pelo menos duas vezes por mês, ela busca respostas na Delegacia de Homicídios, na Barra da Tijuca. A última visita foi na sexta-feira, dia 20. Em vão.

"A sala onde fica a equipe de investigação estava trancada. Dei com a cara na porta. Só eu sei o quanto é difícil superar a tragédia. As meninas eram muito apegadas a ele. Até hoje eu preciso de psicólogo", desabafa Bianca, entre lágrimas.

O drama da viúva do sargento Marins é o mesmo das famílias de outros policiais militares. Só em 2017 foram 134 assassinatos, a maioria ainda sem solução. Destes, 81 estavam de folga, 29 em serviço e outros 24 eram reformados. Neste ano, 38 PMs já morreram.

Para piorar a situação, há mais de um mês houve mudanças na cúpula da Segurança Pública do Rio, sob intervenção federal. Os comandos das delegacias foram trocados, mas, desde então, o núcleo criado para apurar crimes contra policiais está sem chefia e os trabalhos praticamente parados.

Policiais ouvidos por O DIA confirmaram que, por causa da repercussão do caso da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, mortos no dia 14 de março, a prioridade da Polícia Civil do Rio é desvendar o caso.

Rigor nas investigações

O bombeiro reformado Ricardo Ramos de Oliveira também pede mais rigor nas investigações. Ele é primo do sargento Adilson Ferreira Riça, de 40 anos, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), encontrado morto com quatro tiros de pistola em um condomínio na Taquara, na Zona Oeste. Ricardo liderou manifestação em frente à Delegacia de Homicídios, reunindo parentes e amigos da vítima.

"Meu primo concluiu o curso de Direito e sonhava em ser delegado. Ele trabalhou na escolta do ex-secretário de Segurança José Mariano Beltrame. A polícia, por enquanto, não deu satisfação sobre o crime, que aconteceu em 29 de setembro de 2017. Esperamos que os assassinos sejam presos", pede o bombeiro.

Procurado pelo DIA, o diretor da Divisão de Homicídios do Estado do Rio, Fábio Cardoso, não retornou as ligações. Já o titular da Delegacia de Homicídios da Capital, Giniton Lages, não quis atender a reportagem. A assessoria de imprensa da Polícia Civil não se pronunciou sobre os 134 inquéritos em andamento. O comandante-geral da PM, coronel Luís Cláudio Laviano, também não quis falar.

Especialistas criticam impunidade
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Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Rafael Alcadipani afirma que a polícia investigativa no Brasil está sucateada. De acordo com ele, a falta de dinheiro é uma das causas. No entanto, alerta para outro fator que contribui para a impunidade. "A morte de policiais parece chocar pouco a sociedade. Não há comoção social como em outros países do mundo", avalia.
Para Rafael Alcadipani, a situação do Rio é grave devido aos problemas de gestão. Na última semana, o Gabinete de Intervenção Federal decidiu acabar com 19 das 38 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). "Não devemos comparar os assassinatos dos PMs do Rio com a morte da vereadora Marielle Franco. Mas a cobrança por uma solução precisa ser igual", ressalta o professor da FGV.
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No Estado do Rio, a taxa de homicídios dolosos (com intenção de matar) cresce desde 2012, segundo dados oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP). Há seis anos, houve 25,1 crimes deste tipo para cada 100 mil habitantes. Em 2017, o índice chegou a 31,6 assassinatos para cada 100 mil habitantes. No entanto, a média de elucidação foi de 17,9% no primeiro semestre de 2016 último dado disponibilizado pelo ISP.
"As famílias dos PMs ligam reclamando da impunidade. Enquanto a sociedade não for às ruas para pedir mudanças profundas, os crimes contra policiais serão esquecidos. O sistema faliu", sintetiza Vanderlei Ribeiro, presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio.
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