Na Alzira Vargas, em Piabetá, iluminação e ventilação são precárias - Fernanda Dias
Na Alzira Vargas, em Piabetá, iluminação e ventilação são precáriasFernanda Dias
Por GUSTAVO RIBEIRO

O ano letivo de 2018 está quase na metade, mas parte dos alunos das escolas municipais de Magé ainda não recebeu material, livros didáticos e uniformes. Algumas unidades sequer receberam todos os professores. Itens como giz, caneta piloto e apagador saem do bolso dos mestres, que nem papel higiênico têm em alguns colégios. A infraestrutura é precária. Esse é o retrato do desgoverno da rede, com 40 mil estudantes.

O professor de Geografia Caio Andrade, contratado como temporário para turmas do 7º ao 9º ano, lecionou na Escola Roseni dos Santos Silva, no bairro Ponte Preta, de 19 de fevereiro a 20 de março. Ele diz ter sido demitido após reclamar sobre problemas da rede à direção. Segundo o educador, em algumas turmas, nenhum aluno tinha livro e não tinha previsão da chegada do material. Caio gastava mais de uma hora desenhando mapas no quadro, devido à falta dos livros. "Eu poderia estar avançando no conteúdo, mas não tinha alternativa. A não ser que eu pagasse xerox, mas já estava pagando o pilot, o apagador... Não tem como ter mais gasto com salário precário".

Uma das cenas que mais impressionaram o professor foi ver funcionários queimando lixo em um terreno baldio, porque a prefeitura não fornece sacolas para o colégio. "As crianças estavam no pátio respirando fumaça", contou. No dia em que foi demitido, Caio se sentiu ameaçado por um funcionário da Secretaria Municipal de Educação. "Fui perguntar se ele era segurança e ele se irritou. Respondeu que era para eu tomar cuidado, pois essa situação poderia me dar problema".

De acordo com uma professora da Escola Professora Luiza Vieira, em Nova Marília, um aluno defecou na roupa semana retrasada porque não há vaso sanitário no banheiro masculino. "As salas alagam quando chove, porque as janelas são quebradas. Não tem giz e apagador, falta material didático, às vezes não tem papel higiênico para o professor. Nem diário de classe temos ainda", afirmou, pedindo anonimato. Ela reforça que funcionários temporários que criticam as condições do ensino são demitidos. "São coagidos, assediados e perseguidos. A cultura opressora está arraigada na política de Magé", acrescentou.

Na Escola Alzira Vargas, em Piabetá, o professor de Artes só chegou na semana passada e o de Ciências pouco antes, relatou a mãe de uma aluna do 6º ano. Ela tem outra filha no Pré-Escolar, que não ganhou tênis. Outra mãe reclamou que precisou comprar uniformes. Segundo uma funcionária, a unidade tem salas sem padronização, problemas de iluminação e ventilação, faltam carteiras e as salas de leitura e informática estão desativadas. "Tem escola no sexto distrito com 1.200, 1.400 alunos. Assim a organização fica comprometida, haja visto o espaço físico não adequado. Sem o quantitativo de funcionários suficiente, as aulas ocorrem sem recreio, o que compromete muito o aprendizado", apontou.

Indicação política para professores
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Coordenador do Sepe-Magé (sindicato da Educação), Gilberto Rodrigues reclama de suposto aumento de professores contratados indicados por vereadores. "Os concursados estão sendo pressionados a pedir exoneração", disse. O Sepe luta por aumentos remuneratórios há seis anos e por um terço do tempo para atividades de planejamento. Segundo Rodrigues, havia creches sem merenda no início do ano, com apenas biscoito e achocolatado para as crianças.
A prefeitura informou que a carência hoje é de quatro professores de Artes e o material didático foi licitado no início do ano, obedecendo ao TCE. A entrega de todos os kits é prevista para a segunda quinzena de maio. Sobre demissões, justificou que existe uma avaliação do servidor e seu desligamento tem previsão em contrato. Informou que uma equipe faz reformas diariamente nas escolas e que a atual gestão reformou 72 unidades, entregou 11 creches e uma escola.
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