Rio - No sub-bairro Areia Branca, em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, os moradores estão mobilizados para fazer uma grande festa de comemoração. O motivo é o retorno de Renato da Silva Moraes Júnior, 23 anos, para casa. Ele é um dos 159 presos na operação de combate à milícia em um show de pagode no bairro. Renato e outros 138 detidos tiveram seus pedidos de prisão preventiva revogados.
A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária informa que, até o momento, 126 internos deixaram a Unidade Prisional. Outros cinco dos alvarás que chegaram ao Complexo de Gericinó, por se tratarem de militares, foram encaminhados para as suas respectivas unidades de lotação. "Além disso, outro alvará ficou prejudicado por questões judiciais do interno", diz a nota da Seap.
Diagnosticado com uma forma leve de deficiência intelectual, o jovem foi recebido com alegria por seus pais e seu cachorro de estimação, com quem mora; e pelos vizinhos, que estão organizando a celebração para hoje. "Deixamos o primeiro dia para ele ser recebido pela família, mas depois tem que ter festa. Com bolo, salgadinho, tudo. E vai todo mundo da rua: vizinhos, comerciantes, clientes, todo mundo conhece o Renatinho", contou uma comerciante do bairro.
Renato e a família não quiseram comentar o caso sem a presença de seu advogado, mas se mostraram aliviados pela soltura. No hortifruti onde ele trabalhava informalmente, o funcionário Sebastião de Almeida, 74, falou sobre sua personalidade: "Ele é muito bonzinho, fica aqui na loja ajudando para ganhar uns trocados, faz favores para todo mundo, ele é muito querido. Não consegue trabalhar normalmente, porque se distrai, mas o que ele faz aqui já dá uma ajudinha financeira razoável para a família, que é muito pobre".
'Chocados com a prisão'
Outra funcionária do estabelecimento, Ingrid Aguilar, 23 anos, disse que espera que Renato volte logo à vida normal que levava. "É óbvio que ele tem um problema, mas é uma pessoa maravilhosa, ajuda todo mundo, e vive normalmente. Ele come, fala, conversa, limpa, faz tudo o que pode, até arruma umas namoradinhas nessas saídas dele", contou ela. "Ficamos chocados com a prisão. Ele gosta sim de curtir, ir em festas, tem amigos, são coisas normais para qualquer jovem da nossa idade", completou ela.
A maior preocupação entre os vizinhos é de que o episódio deixe Renato traumatizado. "Não sabemos ainda o que ele passou lá na prisão. Ele não se comunica bem, não sei como está vendo essa situação, nem imagino o que passou. Quando veio cumprimentar todo mundo, estava bastante feliz, mas também muito assustado", falou uma vizinha dele, que prefere não se identificar. Familiares, apesar da alegria e moção de tê-lo de volta em casa, também demonstraram preocupação em relação processo. A solidariedade à Renato foi demonstrada até por quem foi preso por ele. Primeiro a ser libertado, o artista circense Pablo Dias Bessa Martins, pediu por ele.