Fernanda, com a filha Julia, quer mais rigor nas investigações do assassinato do sargento Hudson, morto em confronto com bandidos no Vidigal - Foto: Daniel Castelo Branco
Fernanda, com a filha Julia, quer mais rigor nas investigações do assassinato do sargento Hudson, morto em confronto com bandidos no VidigalFoto: Daniel Castelo Branco
Por CÁSSIO BRUNO

Rio - A Polícia Civil do Rio tem um déficit de 14 mil agentes. A informação é do Sindicato dos Policiais Civis do estado (Sindpol). Além disso, a corporação sofre para fazer as perícias devido à falta de material. Boa parte dos carros também não tem condições de uso por estar sem manutenção, prejudicando as investigações de crimes. Ontem, O DIA mostrou o sofrimento das famílias dos policiais militares mortos no ano passado. Os parentes cobram a elucidação dos crimes. Ao todo, 134 PMs foram assassinados em 2017, a maioria sem solução.

Com as mudanças na cúpula da Segurança Pública do Rio, os comandos das delegacias comuns e especializadas foram trocados. O núcleo criado especialmente para cuidar da apuração das mortes dos PMs está sem chefia e os trabalhos praticamente parados.

"Com a dança das cadeiras no comando das delegacias, as investigações foram descontinuadas. Hoje, a Polícia Civil possui nove mil agentes em todo o estado. Pela lei 3.586/2001, que determina o plano de cargos da corporação, o ideal são 23,8 mil", disse o presidente do Sindpol, Márcio Garcia.

Ele apontou outras situações que atrapalham o trabalho de investigação:

"Faltam insumos, reagentes, por exemplo, na polícia técnica, para os policiais realizarem as perícias. A tecnologia das delegacias também é muito defasada".

VIDAS DE CABEÇA PARA BAIXO

Júlia, de 8 anos, não esquece as brincadeiras do pai. O sargento da PM, Hudson Silva de Araújo, de 46, morreu após ser baleado por bandidos na Favela do Vidigal, no Leblon, Zona Sul. Ele era lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade. Hudson ingressou na Polícia Militar em 2003. A menina e a mãe dela, Fernanda Ursulino Gomes de Lima, de 36 anos, ainda aguardam um desfecho do assassinato do sargento.

"As nossas vidas ficaram de cabeça para baixo. A Júlia e a irmã perguntam pelo pai a todo momento. O pior de tudo é que eu não tenho resposta para a nossa dor. À época, chegaram a prender uns bandidos que participaram do confronto, mas eles voltaram para o Vidigal. Não soube de mais nada das investigações. Ficou impune", criticou Fernanda.

Regina Lúcia Coutinho, de 43 anos, também sofre sem saber quem matou o marido, o terceiro sargento da PM, Cristiano Bittencourt Coutinho, de 43. Ele foi assassinado num confronto com bandidos na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte, em 19 de novembro de 2016. O policial deixou um filho de cinco anos.

"O que mais me revolta é que só há preocupação em desvendar um crime quando é um caso de muita repercussão", disse Regina, moradora de Vila Valqueire.

Capital é onde tem mais ocorrências
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Sessenta e sete dos 134 assassinatos de Policiais Militares, em 2017, foram na capital. Em seguida, a cidade que mais registrou mortes de PMs foi Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, com 12. São Gonçalo teve nove casos; São João de Meriti, sete; e Duque de Caxias, outros seis.
Os PMs morreram em 57 assaltos, 38 execuções e 26 em confrontos com bandidos, entre outras ações. Oitenta e uma vítimas estavam de folga, 29 em serviço e 24 eram policiais reformados.
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Na semana passada, o governo federal liberou, dois meses depois da intervenção federal, R$ 1,2 bilhão para a segurança pública do Rio.
Sem esses recursos, as polícias Civil e Militar, o Corpo de Bombeiros e o sistema carcerário informaram que não conseguiriam enfrentar o crime. As corporações argumentaram que faltam equipamentos e até materiais básicos, como produtos de limpeza.
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