Leandro foi confundido com traficante - Arte O DIA
Leandro foi confundido com traficanteArte O DIA
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Preso por engano, Leandro Luiz do Livramento, de 32 anos, chegou a ouvir "desculpas" dos policiais que o prenderam. Ao ser detido e levado à 54ª DP (Belford Roxo), os agentes disseram que acreditavam que "esse pedido de prisão era um equivoco". Após prestar depoimento, foi para Benfica.

Neste domingo, com faixas e cartazes, um grupo de cerca de 300 pessoas fez manifestação na Avenida Atlântica, Copacabana, cobrando a soltura de Léo, como é chamado. Ele está preso na Cadeia Pública José Frederico Marques desde o último dia 24. Segundo parentes e amigos, este pode ser mais um caso de engano da Justiça, como ocorreu com vários participantes da 'festa da milícia'. O rapaz estaria preso em lugar de um bandido morto em 2014 durante confronto com a polícia, também chamado Leandro.

Léo, que é funcionário de uma rede de departamento há 13 anos e exerce cargo no setor financeiro, foi surpreendido com a prisão ao chegar no posto do Detran, em Vilar dos Teles, São João de Meriti, onde mora com a mãe e duas irmãs para retirar a 2ª via da identidade. No local, estavam dois policiais que teriam dito que ele deveria acompanhá-los, pois haveria mandado de prisão expedido desde 2013.

Parentes e amigos de Leandro fizeram protesto na Praia de Copacabana - Severino Silva

Há quase seis anos, a Delegacia de Combate às Drogas começou a investigar por meio de escultas telefônicas traficante de Vilar dos Teles. O criminoso era Leandro de Souza Rodrigues, o "Dennis, o Pimentinha". Na ocasião, o bandido teria usado o CPF de Léo para cadastrar chip de celular. Em 2014, em confronto com PMs, o suspeito foi morto. O mandado da 2ª Vara Criminal de São João por tráfico saiu em nome de Léo e continuou aberto até sua prisão.

Estudioso e sustenta a família com trabalho

De família humildade, Léo sempre foi estudioso e, segundo a mãe, "nunca chegou nem perto de uma delegacia". Ele cursa duas faculdades Ciências da Economia e Contabilidade. Há seis dias na cadeia, só teve direito de fazer uma ligação para parentes: no dia que foi detido. A partir daí, não teve mais contato.

Para o advogado Washington Luiz Tavares da Silva, houve equívoco no caso. "A polícia foi induzida ao erro. O outro Leandro (o bandido) conseguiu cadastrar linha telefônica em nome do meu cliente e a polícia interceptou. É investigação de 2013 calcada em grampo, por isso o pedido de prisão. Não era o meu cliente que estava falando. Ele nunca recebeu intimação", afirma.

Na sexta-feira o advogado entrou com pedido de relaxamento de prisão e de liberdade provisória. "Ele tem residência fixa, emprego e é réu primário", afirmou. Por ser feriado amanhã, o pedido só deverá ser apreciado quarta-feira quando o Tribunal de Justiça volta a funcionar.

O DIA procurou a Polícia Civil e o órgão não soube informar o motivo da investigação. Alegou que a detenção foi acatada pelo Ministério Público e a Justiça. Contestada sobre possível erro, não respondeu. O DIA encaminhou e-mails ao TJ e MP Estadual pedindo explicações, mas não responderam.

Sobre as acusações de que a Seap não deixou que parente fosse visitá-lo e que produtos de higiene pessoal não puderam entrar, o órgão divulgou que "o interno em questão encontra-se em processo de triagem, sendo possível a primeira visitação após a decisão sobre para qual unidade prisional ele será levado. Sobre a entrega do kit de higiene, a Seap verificará o ocorrido e tomará as devidas providências".

A irmã de Léo, Ana do Livramento, 21, diz que ele é responsável pelas contas. Desempregada há três anos, cursa o 4º período de Direito. "Minha mãe não tem condições de pagar, é ele quem paga".

Campanha pela liberdade de Leandro
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Vestida com uma camisa com a foto do filho, a dona de casa Maria do Livramento, 55, embarcou em um metrô na Pavuna, e foi até Copacabana, para passeata que pedia a libertação do filho. Vinda de Nova Cruz, no Rio Grande do Norte em 1980, de saúde frágil mas que trabalhou a vida inteira para sustentar os filhos diz que a única coisa que se importa é com a liberdade de Léo. "Quando soube, passei mal. A minha preocupação é como está lá. Toda noite choro e não durmo", desabafa.
Segundo ela, nem o filho sabe como o documento foi parar nas mãos do criminoso. "O Léo é organizado e muito cuidadoso com suas coisas. Nunca emprestou os documentos. Não sabemos como isso aconteceu, nem ele sabe", diz.
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Amigos se mobilizaram em campanha pedindo a soltura do rapaz. Colegas de trabalho vão organizar novas manifestações. A próxima deve ser na quarta-feira na porta da cadeia.
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