Carta de Orlando sobre seu suposto envolvimento na morte de Marielle Franco - Reprodução
Carta de Orlando sobre seu suposto envolvimento na morte de Marielle FrancoReprodução
Por Bruna Fantti

Rio - Apontado por uma testemunha como o mandante da morte da vereadora Marielle Franco (Psol), Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando de Curicica, redigiu sua defesa em uma carta, ao qual O DIA teve acesso.

Nela, Orlando diz que não conheceu os vereadores Marcello Siciliano ou Marielle, nega ser miliciano, cita nominalmente a testemunha e diz que ela é chefe de uma milícia aliada ao tráfico, na Zona Oeste. "Informo que (a testemunha) não tem qualquer credibilidade haja vista o referido chefiar a milícia do Morro do Banco", escreveu, citando o nome de um PM. 

Em quatro depoimentos - um feito à Polícia Federal, outro ao Exército, e dois à Polícia Civil - o delator acusa Siciliano e Orlando de terem tramado o assassinato de Marielle. A motivação teria sido o apoio dado pela vereadora a moradores da Cidade de Deus.

Orlando foi preso em outubro do ano passado, pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), após um alerta ao Disque Denúncia. Na ocasião, dois policiais militares estavam realizando sua segurança. Em juízo, Orlando disse que os agentes faziam a segurança de sua mulher, que trabalha com joias. De acordo com a especializada, Orlando é chefe da milícia de Curicica. No entanto, ele continua preso não pela acusação de organização criminosa, mas sim pelo processo que o aponta como mandante de um assassinato em 2015, com características semelhantes ao da vereadora Marielle.

Orlando, que ainda não prestou depoimento à Polícia sobre as acusações, diz que "não tem qualquer envolvimento com esse crime bárbaro" e que "nunca esteve com o vereador Siciliano, em nenhuma oportunidade".

Segundo a testemunha, Siciliano e Orlando teriam se encontrado em um restaurante. Nesse encontro, o delator disse que ficou sentado na mesa ao lado, pois trabalhava como segurança de Orlando, e que escutou Siciliano xingar Marielle e dizer "temos que dar um jeito nisso". A informação foi divulgada pelo jornal O Globo e confirmada pelo Dia com a polícia.

Apesar de Orlando não ter acesso à investigação e negar conhecer Siciliano ou ter se encontrado com ele, citou o nome da testemunha na carta. A reportagem indagou aos advogados como ele teve conhecimento do nome e a defesa disse que "ele deduziu pelo que foi divulgado na imprensa".

'Nunca tinha ouvido falar dela', diz Orlando sobre Marielle

Marielle Franco na tribuna da Câmara de Vereadores do Rio - Renan Olaz / Câmara de Vereadores

Aos advogados Pablo Andrade e Renato Darlan, que o visitaram nessa quarta-feira em Bangu 9, Orlando disse que trabalhou com a testemunha por dois anos, realizando segurança em eventos. A rixa entre os dois, segundo Orlando, teria ocorrido quando ele descobriu que a testemunha era chefe de milícia associado ao tráfico.

Orlando também diz que não conheceu Marielle ou sabia da atuação política dela. "Por fim, com todo respeito à vereadora Marielle, eu nunca tinha ouvido falar dela", escreveu.

Em outro trecho, Orlando diz que "não há contra minha pessoa mandado de prisão por envolvimento com a milícia e que nunca tive qualquer envolvimento".

Ainda de acordo com seus advogados, Orlando seria uma espécie de liderança comunitária. "Ele é sócio-proprietário da escola de Samba de Curicica. Representa a comunidade junto à subprefeitura, por exemplo. Quando tem algum evento que precise de nada consta, ele dá entrada na documentação. É nascido e criado em Curicica, tem essa liderança, mas não de miliciano", disse Darlan.

Sua prisão se mantém na denúncia de que é o mandante do assassinato do então presidente dessa escola de samba, Wagner Souza, em 2015. Um sobrevivente apontou, para a polícia, Orlando como mandante do crime, mas mudou seu depoimento na Justiça. "Não há provas de que o Orlando tenha sido o mandante. É só uma versão da polícia", disse a defesa de Orlando.

Vereador Marcello Siciliano - Estefan Radovicz / Agência O DIA

Durante o seu encontro com os advogados, Orlando teria dito que a testemunha "estaria sendo usada por outras pessoas para tirar a liderança dele na região". Na carta, ele pede para que a "DH (Delegacia de Homicídios da Capital) apure os fatos o mais rapidamente possível e que não acredite nessa versão armada e direcionada".

A secretaria de Segurança solicitou a transferência de Orlando para um presídio federal. Segundo a defesa, ele foi transferido nesta quinta-feira, mas a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) não comentou sobre o assunto. Em declaração conjunta, eles disseram: "Nós temos confiança na DH e no chefe de Polícia, Rivaldo Barbosa. Esperamos que os fatos sejam apurados com a maior agilidade e que se chegue ao verdadeiro autor desse crime que chocou o Brasil e o mundo".

Apesar dos depoimentos, a testemunha ainda não ingressou no Programa de Proteção à Testemunha e, desde ontem, está sob proteção de agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

Ainda nesta quarta-feira, em coletiva de imprensa, o vereador Siciliano também negou as acusações e classificou a denúncia da testemunha como "factoide".

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