Rio - Em 13 de março, um dia antes de ser assassinada, a vereadora do Psol, Marielle Franco, denunciou a 'guerra aos pobres' com a morte de Matheus de Castro, de 23 anos, na véspera. "Mais um que pode estar entrando para a conta de homicídios da polícia. Quantos jovens precisarão morrer para que esta guerra ao pobre acabe?", escreveu ela nas redes sociais. Sábado, completaram-se dois meses do caso envolvendo o jovem. Hoje, 60 dias dos homicídios contra Marielle e seu motorista, Anderson Gomes a data será marcada com manifestação, às 16h, na Cinelândia.
A mãe de Matheus, Elaine Melo, 47, moradora do Jacaré, lembrou que a notícia chegou às 22h10 daquele 12 de março: "Estava quase dormindo. O telefone do meu esposo tocou e falaram o que ocorreu. Peguei o carro, saí com a mesma roupa do corpo e fomos pra UPA".
"Foi o pior dia da minha vida. Fiquei em choque, me agarrando nas grades da UPA. Como alguém passa por isso e não enlouquece? Só Deus para me ajudar. Todos os dias acho que ele vai entrar por essa porta de novo", desabafou Elaine, em entrevista ao DIA ontem, Dia das Mães. "Ainda não tive coragem nem de abrir o quarto dele. Está tudo lá, cama, televisão, os lençóis. A moto no quintal", finalizou.
O rapaz foi atingido na costela e estava em uma maca, morto. Quem entrou para ver o corpo foi o seu esposo, contou Elaine.
Matheus trabalhava na Fiocruz há cinco anos. No dia em que morreu, ele havia saído da igreja e deixado a namorada no Jacarezinho. Ao seguir para casa de moto, foi atingido por disparos segundo relatos, feitos por policiais em frente à Suipa. "Por que fizeram isso com meu filho? Ele não é bandido, era trabalhador, estudava. Por que?", perguntou Elaine. "O que eu quero é justiça. E ela será feita", declarou.
Procurada, a Polícia Civil afirmou que não tem novidades sobre o caso.
O ouvidor da Defensoria Pública, Pedro Strozenberg, frisou a importância da aplicação das políticas públicas nessas situações. "A dor dos familiares precisa ser olhada pela política pública. Eles precisam de resposta eficiente da Justiça e de atendimento psicológico. As instituições no campo de direitos humanos tentam muito fazer esse acompanhamento. E a Marielle dava essa assistência", disse.
ANISTIA COBRA RESPOSTA
Hoje, completam-se dois meses das mortes da vereadora e de Anderson. A Anistia Internacional voltou a pressionar para que o caso seja solucionado: "Deixar o homicídio de uma defensora de direitos humanos sem resposta é abrir a porta para outros episódios de violência contra defensores de direitos humanos".
* Estagiária sob supervisão de Wilson Aquino