Soraia Macedo de Lemos levou um tiro na cabeça durante assalto na Ilha, na noite de terça-feira - Arquivo Pessoal
Soraia Macedo de Lemos levou um tiro na cabeça durante assalto na Ilha, na noite de terça-feiraArquivo Pessoal
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Nicolli Cespe da Silva, de 21 anos, narrou os momentos de terror vividos por ela na noite desta terça-feira, quando sua namorada, Soraia Macedo de Lemos, de 17 anos, levou um tiro na cabeça após as duas serem assaltadas no Jardim Carioca, na Ilha do Governador. Segundo ela, a última palavra que ela disse foi "amor".

"A última palavra dela foi me chamar de amor. É desesperador, é cruel. Não pelo roubo, mas pelo prazer que ele teve de tirar uma vida", disse Nicolli, que tinha saído da casa da namorada e acompanhava a adolescente até o colégio onde ela estudava, a cerca de 300 metros. 

Segundo a sobrevivente, momentos antes de serem abordadas, Soraia pediu que ela nunca a abandonasse. Ela disse que os bandidos surgiram pedindo o celular, arrancando o iPhone do bolso da vítima, fazendo com que o fone de ouvido arrebentasse. Ao verem se tratar de um aparelho de poderia ser rastreado, pegaram em seguida o dela, um Samsung J7 Prime, que entregou sem esboçar nenhuma reação. Entretanto, ela afirma que o único bandido armado, que estava na garupa, apontou a arma para a sua cabeça e, quando se preparavam para fugir, atirou e atingiu a adolescente. 

"A todo momento pediam para não olhar para a cara deles. Quando entreguei pedi pelo amor de Deus que não fizessem nada com a gente. Acredito que acharam que nós tínhamos os reconhecido, por isso atiraram, mas não reconhecemos eles", contou.

Nicolli disse que um taxista foi quem socorreu Soraia para o hospital, mas ela não resistiu e morreu. Ela conta que ambas faziam planos de morar juntas e se casarem no Havaí.

"Ela queria ser militar da Aeronáutica, fazíamos planos de ela morar comigo. Ontem foi um dia horrível, é uma dor que não sei explicar", desabafou.

Mãe de Nicolli, Cristiane Barbosa Macedo, 38 anos, lembrou que a filha e a namorada costumavam ir juntas ao colégio. A manicure lamentou a morte da filha e pediu Justiça. Ela destacou ainda que tentou transferir a jovem para o Hospital Municipal Salgado Filho ou para o Hospital Municipal Souza Aguiar, mas não conseguiu.

"Não tinha vaga. Nunca imaginei que fosse perder a minha filha desse jeito. A última vez que ouvi a voz dela foi com ela me pedindo para fazer as unhas. Que isso não aconteça com mais ninguém, que nenhuma outra mãe chore por conta dessa criminalidade. As autoridades estão caladas e ninguém pode ficar calado desse jeito. Minha filha era muito especial, não estou acreditando. A irmã está arrasada. Parece que é um pesadelo e que ainda vou acordar", reforçou.

Sem dar muitas explicações, a assessoria de imprensa da Polícia Civil limitou-se a dizer que uma perícia foi feita no local e que ainda tenta identificar os suspeitos de matar Soraia. O DIA questionou se a DH já havia identificado os suspeitos do crime, se a namorada da vítima prestou depoimento e se há imagens de câmeras de segurança no local. No entanto, a Civil se limitou a dizer que só "havia aquelas informações para passar".

No fim da manhã, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) fez uma operação no Morro do Dendê, a poucos metros de onde Soraia foi morta. A PM ainda não deu mais detalhes sobre o caso. Soraia será enterrada nesta quinta-feira no Cemitério do Cacuia, na Ilha.

Aulas canceladas

As aulas do Colégio Estadual Professora Maria de Lourdes de Oliveira - Tia Lavor, onde Soraia estudava, foram canceladas na noite desta quarta-feira. De acordo com a unidade escolar, 'as aulas foram suspensas em virtude da comunidade escolar se encontrar de luto com a morte da Soraia', diz o comunicado.

Mais cedo, alunos do ensino médio fizeram um protesto silencioso. Dentro da escola, os estudantes escreveram cartazes pedindo paz e segurança para a Ilha do Governador. Durante duas horas em que permaneceu no local, a reportagem de O DIA não avistou nenhuma viatura patrulhando o bairro.

ISP: crescimento de roubos de rua e celulares

Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), de janeiro a abril de 2018 comparado com 2017, houve aumento de 107%  nos casos de roubo de rua (sendo 155 casos no primeiro trimestre de 2017 e 322 no primeiro trimestre de 2018) e aumento de 71% em roubos de celulares (sendo 32 casos em 2017 e 51 em 2018).

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