Diego Rodrigues, de 20 anos, foi morto em 2015 - Reprodução Facebook
Diego Rodrigues, de 20 anos, foi morto em 2015Reprodução Facebook
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A família do rapper Diego Rodrigues Luniere, de 22 anos, contou que o corpo do rapaz foi retirado do túmulo, no Cemitério São João Batista, na Zona Sul do Rio. Conhecido como 'Di Cria Luniere', ele foi atingido após sair da casa do pai, no Morro do Fallet, em 2015. Na manhã desta sexta-feira, os parentes do jovem foram ao cemitério fazer a exumação, mas levaram um susto quando o túmulo foi aberto. No local, havia um corpo de uma idosa de 84 anos.

Mãe do rapaz, a dona de casa Nilce Rodrigues, de 53 anos, foi à 10ª DP (Botafogo) para denunciar o caso. Na época, ela pagou R$ 1,5 mil para enterrar o filho. "Hoje, durante o processo de exumação no Cemitério São João Batista, me deparei com a pedra da lápide já com o nome de uma outra pessoa ocupando o túmulo que era dele. Era uma senhora com a data de falecimento no ano de 2016. Meu filho foi sepultado lá em 2015", conta a mãe da vítima.

Mulher reclama o desaparecimento dos restos mortais do filho no cemitério São João Batista. Personagem, a senhora,Nilce Rodrigues. - Estefan Radovicz / Agência O Dia

Segundo Nilce, o cemitério a informou que apesar do erro na escritura da lápide, o corpo era de Diego. Ao abrir o caixão, que também continha o nome de outra pessoa, o erro foi atestado.

"Pediram para eu aguardar, para eles acharem os restos mortais do meu filho. Isso não é cabível. Isso é violação de tumulo. Por isso, estou aqui para fazer um boletim de ocorrência", desabafou Nilce, que suspeita da concessionária que administra o cemitério.

Documento comprova que outra pessoa foi enterrada no local onde Diego deveria estar sepultado - Reprodução

"Acredito que a Riopax que tirou ele de lá. Uma funcionária dessa empresa me disse que eles iriam procurar o corpo do meu filho. No livro do cemitério o nome que está é o do meu filho. Eles não quiseram me dar a cópia do documento que prova que o meu filho está lá", afirma.

Além do sentimento de perda, a mãe de Diego reclama da demora na apuração do caso da morte do filho. A vítima foi atingida no pescoço por uma bala perdida, no Morro do Fallet, no dia 10 de maio de 2015. Naquela data, Nilce comemoraria o Dia das Mães com o jovem.  No dia anterior o rapaz havia participado de um festival de rap. 

"Eu fico indignada (...) Sou obrigada a conviver sem a informação de onde partiu o tiro e quem atirou. Eu não tenho uma resposta. Eu não queria está passando por isso. Eu quero os restos mortais do meu filho", diz

Documento comprova requerimento de saída de restos mortais de Diego do cemitério - Reprodução
Nilce também conta que pagou mais de quatrocentos reais antecipadamente pela exumação e aluguel da gaveta de seu filho. Ela também revelou que foi cobrada uma dívida pela manutenção anual do local, o que é feito apenas na compra do túmulo.

"Estou tomando as providências cabíveis e após isso, vou processar a Rio Pax (...) Não sei o que fizeram com os restos mortais do meu filho. Acredito que seja a máfia do cemitério para desocupar as gavetas para vender mais ou alguma pessoa alheia", afirma.

Segundo a Polícia Civil, agentes da 10ªDP (Botafogo) já investigam a Rio Pax por sumiços de corpos no Cemitério São João Batista. Eles tentam desvendar para onde estão indo os restos mortais de defuntos, e se a concessionária estaria vendendo gavetas por mais de uma vez.

A atribuição de fiscalizar os 21 cemitérios públicos e particulares existentes no município do Rio, além de agências funerárias, capelas, crematório e embalsamamento na cidade é da Coordenadoria Geral de Cemitérios e Serviços, órgão subordinado a Secretaria de Conservação e Meio Ambienta (Seconserma). Uma nota sobre o caso do corpo de Diego deve ser emitida ainda nesta sexta-feira.

O DIA entrou em contato com a concessionária Rio Pax S/A para pedir esclarecimentos sobre o desaparecimento sobre o corpo do jovem e detalhes sobre as demais denúncias. No entanto, uma funcionária da empresa disse que a diretora jurídica não iria se pronunciar sobre o caso. A redação também entrou em contato com o São João Batista, porém o cemitério não retornou. A reportagem também contatou a assessoria da Polícia Civil. Há mais de três anos a Delegacia de Homicídios (DH) não esclareceu, segundo a família, de onde partiu o tiro e quem foi o responsável pelo disparo. Apesar da insistência da reportagem, não houve resposta da instituição até 20h40.

Fiscalização dos cemitérios

A atribuição de fiscalizar os 21 cemitérios públicos e particulares existentes no município do Rio, além de agências funerárias, capelas, crematório e embalsamamento na cidade é da Coordenadoria Geral de Cemitérios e Serviços, órgão subordinado a Secretaria de Conservação e Meio Ambienta (Seconserma).

No último mês, o então coordenador da pasta, o coronel Diógenes Dantas Filho, disse à Rádio CBN “que estava tudo sobre controle e que a fiscalização dos cemitérios estava em dia”. Há alguns dias, Filho não faz mais parte da pasta.

O DIA fez vários questionamentos à Seconserma, como: A pasta acompanha junto a Polícia Civil as investigações envolvendo a Riopax? Essa concessionária administra quantos cemitérios no município? A Prefeitura tomará alguma atitude contra a concessionária? Qual? Como funciona o controle de entradas e retiradas de corpos nos cemitérios do Rio? Existe algum livro registro? Se sim, o livro do São Jão Batista comprava que o jovem Diego foi enterrado no local?

No começo da noite, a Coordenadoria Geral de Cemitérios e Serviços Funerários disse que será aberto processo de investigação para apurar todas as denúncias. Caso sejam comprovadas as irregularidades, serão aplicadas à concessionária Rio Pax as sanções previstas em contrato, encaminhando o caso ao Ministério Público para apuração no âmbito criminal.

Atualmente, de acordo com a Prefeitura do Rio, a Rio Pax é o consórcio responsável pela gestão de seis cemitérios municipais: São João Batista, Jacarepaguá, Irajá, Inhaúma, Campo Grande e Piabas (Vargem Grande)

Rio Pax investigada pelo Ministério Público

Em 2015, O DIA mostrou em uma série de reportagens que, o Ministério Público estava investigando a Rio Pax que, segundo o órgão, naquela ocasião participava um esquema para monopolizar os serviços funerários, que inclui até a cobrança de taxa antecipada para a exumação dos corpos que só seria feita três anos depois.

Naquele ano, o então prefeito Eduardo Paes determinou que o secretário de Conservação e Serviços Públicos, Marcus Belchior, investigasse se houve irregularidades nos contratos que concedeu a empresa Rio Pax a administração dos cemitérios públicos do Rio.

 

Você pode gostar