Bombeiros recolhem corpos encontrados no mar. Dinheiro da taxa de incêndio tem sido usado também para despesas com custeio  - Cesar Sales/Parceiro/Agência O Dia
Bombeiros recolhem corpos encontrados no mar. Dinheiro da taxa de incêndio tem sido usado também para despesas com custeio Cesar Sales/Parceiro/Agência O Dia
Por Bruna Fantti e Cássio Bruno

Rio - Dois dias depois do tiroteio que suspendeu o funcionamento do Bondinho do Pão de Açúcar e as operações do Aeroporto Santos Dumont, sete corpos foram encontrados neste domingo na Pedra do Anel, na Praia Vermelha, na Urca, na Zona Sul. Familiares das vítimas que estavam no local (uma área militar) confirmaram que os jovens eram envolvidos com o tráfico de drogas e estavam desaparecidos desde sexta-feira.

O grupo de parentes acusou policiais militares do Batalhão de Choque de executá-los. Os bandidos usaram o Costão da Urca como rota de fuga durante uma troca de tiros nas favelas Chapéu-Mangueira e Babilônia, no Leme, também na Zona Sul. No entanto, os traficantes foram alcançados pelos policiais. As comunidades estão em guerra entre facções rivais.

"Eles se renderam, mas tiveram de ficar de joelhos e foram mortos. A polícia não poderia fazer isso. Os PMs mataram e jogaram os corpos lá de cima das pedras", afirmou ao DIA uma prima de Hernane Souza, de 25 anos, conhecido como Boldinho, sem se identificar.

Em nota, a Polícia Militar não comentou as acusações dos familiares. A corporação se limitou a dizer que "as investigações estão a cargo da Polícia Civil".

Os corpos foram localizados pelos próprios parentes, que começaram a realizar as buscas por volta das 6h30 de ontem. Eles caminharam cerca de duas horas do Morro Chapéu-Mangueira até a Praia Vermelha. Em seguida, avisaram aos policiais da UPP da comunidade e ao Corpo de Bombeiros. "Eles se entregaram. Não reagiram. Mas os policiais mataram", disse uma das tias de Ângelo Martins dos Santos, o Foca, de 24 anos.

Os parentes contaram que souberam das execuções por um dos bandidos, que teria escapado do cerco dos policiais na sexta-feira. As famílias estiveram no 1° Grupamento Marítimo, em Botafogo, mas não puderam acompanhar o resgate dos corpos. Elas prestarão depoimentos na Delegacia de Homicídios da Capital.

A Polícia Civil aguardará o resultado da perícia para afirmar se há ou não PMs envolvidos nas mortes. Em nota, afirmou que "cinco (corpos) estavam vestidos com roupas camufladas, próprias para serem usadas na mata, e ainda usavam capas de coletes balísticos". Até o início da noite, dois mortos haviam sido identificados pelos familiares: Daniel Duarte e Natan Isaac Sousa Santos, ambos de 27 anos. Os outros nomes não foram divulgados.

Na sexta-feira, um criminoso foi preso e seis fuzis foram apreendidos na mata. Na ação, policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) foram acionados. No confronto, um policial ficou ferido.

Além de Boldinho e Foca, estariam no grupo, segundo as famílias, os traficantes conhecidos como Franklin, vulgo Tináia; Da Coréia; HB, e Nathan da Vila Aliança. O sétimo envolvido não foi identificado.

'Meu filho foi executado'

"Você é pai? De quantos? Sou pai de cinco filhos. O meu mais velho, Hernane (Foca), foi executado. Não tenho dúvidas. Só eu sei a dor que estou sentido nesse momento. Ele era boa coisa? Não! Mas o que aconteceu com todos eles foi uma chacina. Quem viu os corpos disse que os tiros foram na cabeça. Ficou um buraco enorme. Claro, estou muito triste com tudo isso. Mas vou ser sincero: os policiais mataram. Os PMs foram covardes. Eu sei que o meu filho não vai mais voltar. Quero depor à polícia o mais rápido possível, identificar e liberar o corpo, e acabar logo com esse sofrimento".

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