Rio - Morreu, na noite desta quarta-feira, o adolescente Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, baleado no fim da manhã durante operação da Polícia Civil com o apoio das Forças Armadas no Complexo da Maré, na Zona Norte. O menino estava internado no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, Zona Norte do Rio.
Marcos Vinicius da Silva chegou a passar por uma cirurgia e teve o baço removido. Ele iria realizar uma nova intervenção na sexta-feira, mas não resistiu. Ainda não há informações sobre a data de local de sepultamento do garoto.
Atingido a caminho da escola
De acordo com Fátima Barros, coordenadora da 4ª Coordenadorias Regionais de Educação (CRE), os pais do garoto contaram que o menino acordou atrasado e foi atingido pelo disparo a caminho da escola.
Ainda segundo Fátima, o Secretário Municipal de Educação, Cesar Benjamin, foi alertado sobre a operação e pediu que ela fosse suspensa e realizada em um horário que não coincidisse com entrada e saída das escolas. "Existe inclusive um aplicativo em que as unidades podem notificar a Secretaria Municipal de Educação sobre confrontos", afirmou a coordenadora, que lembou também que, na manhã desta quarta, as aulas não foram suspensas.
Edmilson Severino de Souza, diretor do Ciep Operário Vicente Mariano conta que o adolescente é um aluno "regular dentro das suas possibilidades" e que não tem nada a reclamar sobre ele. De acordo com Edmilson, cerca de 500 crianças estavam na escola no momento do tiroteio, e as aulas não foram suspensas. O procedimento, conforme o diretor, foi esvaziar o pátio e levar os alunos ao lado oposto ao do confronto.
Nesta tarde, a ONG Redes da Maré informou que, além do menino, uma outra criança havia sido atingida por estilhaços no Ciep Operário Vicente Mariano, além de um mototaxista ferido da mesma forma em um dos acessos à favela. Seis homens morreram, segundo a polícia, suspeitos de tráfico de drogas.
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação informou que nenhum aluno (a) foi baleado dentro das dependências do Ciep Operário Vicente Mariano ou de qualquer outra unidade localizada no Complexo da Maré.
De acordo com a Redes da Maré , moradores gravaram vídeos em que o helicóptero, apelidado de “caveirão voador”, sobrevoa atirando pra baixo. "O chão da favela está todo marcado e com resto de balas de fogo. Nas ruas F, B1, B8, C4 e na Praça do Salsa, o cenário é mais aterrorizante: mais de cem buracos no chão. Na Praça do Salsa e na rua F, muito próximo de duas escolas, a Creche Vila do Pinheiro e no Campus Maré II", diz a ONG na nota.
Ainda segundo relatos da organização, casas foram arrombadas e invadidas pelos agentes do Estado mesmo sem mandato judicial, outra ilegalidade. As unidades escolares e os postos de saúde da Maré também foram fechados por causa da operação. Questionada pela reportagem sobre as denúncias de moradores, a Polícia Civil não se pronunciou sobre o caso.
Ao DIA, Danielle Moura, coordenadora de comunicação institucional da Redes da Maré, disse que o helicóptero da Polícia Civil entrou atirando em quem estava em solo. "É uma ilegalidade um helicóptero entrar em uma comunidade, que tem 150 mil habitantes, atirando como eles fizeram. Quem consegue mirar de cima de uma aeronave?", diz a coordenadora.
"Um helicóptero não tem a função de atirar. O policial que está ali (dentro da aeronave) tem a função de orientar os colegas que estão em solo. A excepcionalidade da lei só permite isso em guerra. E não estamos em guerra", lembrou. "Quantas crianças estão dentro dessa comunidade?", questiona Danielle.
O diretor da organização Luta Pela Paz, Luke Downdney, também criticou a ação. “É inaceitável e repugnante ver um helicóptero atirando em uma comunidade cheia de pessoas inocentes que não tem nada a ver com a violência que ocorre diariamente nas comunidades do Rio”, disse Downdney em sua conta no Facebook.
Segundo a página Maré Vive, helicópteros da Polícia Civil sobrevoaram a região e estariam dando tiro para baixo a esmo. Um vídeo com a ação foi postado. "Galera, o blindado voador vai e volta. Continuam dando tiros do alto e cada vez mais estamos em perigo. Atenção redobrada! Mesmo nos momentos de aparente calmaria", alertou. Moradores compartilharam marcas de tiros no asfalto de uma das comunidades, além de outras denúncias.
Procurado pelo DIA, o Ministério Público do Rio (MPRJ) disse que vai enviar as denúncias postadas nas redes sociais por moradores para serem analisadas pela promotoria responsável. A Defensoria Pública do Rio ainda não se pronunciou sobre os relatos de supostos abusos na Maré. O Defezap, projeto que reúne denúncias de violência do estado, pediu que moradores filmem e registrem violações que vem a ocorrer. A Secretaria do Estado de Educação informou que aulas continuam funcionando normalmente.