Rio - O Instituto Estadual do Ambiente (Inea), enfim, notificou nesta quinta-feira a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Harsco Metals, para que reduzam a pilha de escória, oriunda dos Altos-Fornos e Aciaria da usina, no bairro Brasilândia, em Volta Redonda, no Sul Fluminense. O material está jogado a céu aberto, sem contenção, a menos de 50 metros do Rio Paraíba do Sul, que abastece 80% da Região Metropolitana, e em área de preservação ambiental. O problema mudou a paisagem com montes de mais de 20 metros de altura cinco vezes mais do que o aceitável.
A ação do instituto, que há oito anos analisa pedido de Licença Operacional da Harsco, foi anunciada pelo presidente do órgão, o advogado Marcus Lima, após quatro reportagens do DIA, denunciando o problema que atinge moradores de seis bairros. O anúncio foi feito na presença do secretário de Estado do Ambiente (SEA), Marco Aurélio Porto, e da subsecretária, Mariana Palagano, a deputados das comissões de Meio Ambiente, de Saúde, e de Saneamento Ambiental da Alerj.
Desde segunda-feira, o DIA vem publicando matérias sobre o assunto, com base na denúncia 1518 da ONG Associação Homens do Mar (Ahomar) contra a Harsco, CSN e Inea, no Ministério Público Federal (MPF-VR), que abriu inquérito. A Ahomar alerta que o Rio Paraíba está na iminência de um desastre.
Marcus Lima garantiu que enviará cópias das notificações às comissões. O Inea, mais uma vez, ignorou pedidos de informações ao DIA. No encontro, conforme gravações dos deputados, Lima reconheceu que a situação está fora do controle, mas não entrou em detalhes, nem quanto à altura do monte, repetindo que a demora da licença ocorre por "especificidades do caso".
"Estaria em pouco mais de 20 metros", argumentou. Lima demonstrou, aparentemente, desconhecimento sobre o material (depositado há mais de dez anos na região), que seria contaminado por metais pesados. "Teria que fazer perfurações...estudos... para saber se há contaminação. Pelo que me informaram, se tiver errado me esclareça, porque sou advogado (se dirigindo a Marco Aurélio), a escória não é perigosa", disse, enquanto o secretário e a subsecretária da SEA também faziam comentários evasivos, repetindo a palavra "em tese" por diversas vezes.
"Pedimos estudos ao Inea para saber o grau de periculosidade para as pessoas e para o rio", afirmou Lucinha. "Deixamos claro que não podemos mais tolerar inércia diante do assunto, pois a população fluminense está apreensiva", comentou Julianelli. "Vamos acompanhar essa situação de perto", garantiu Cidinha Campos.
2 milhões por ano de tonelada de escória
A CSN e a Harsco, que garantem em nota que a escória não provoca danos à saúde e à natureza, não comentaram as notificações nesta quinta-feira. Nos bairros, cerca de 15 mil moradores convivem com a poeira preta levada pelo vento, que lhes causam, segundo muitos, problemas respiratórios e alérgicos.
"Sem contar que também deixa as nossas casas imundas o dia todo", lamenta Keila Passos, de 36 anos, que mora a 50 metros do depósito, no Volta Grande 4.
No bairro São Luiz, a diarista Maria de Fátima Batista, 49, tenta bloquear a poeira com telas de rendas nas portas e janelas. "É desesperador", diz ela, que, assim como o filho, Roni, 20, sofre com bronquite e coceiras.
"As ações são tardias e devem só aliviar a situação. É preciso solução definitiva", comentou a presidente da Comissão Ambiental Sul, Adriana Vasconcellos. A CSN produz 2 milhões de toneladas/ano de escória 70% em Altos fornos e 30% na Aciaria.