Rio - Um casal que vive sob o Viaduto São Cosme e São Damião, em Ramos, na Zona Norte da cidade, acusam agentes da Guarda Municipal de terem colocado fogo na construção improvisada deles. No incêndio, o gato de Ernani Inácio de Souza, de 47 anos, e Sandra Amaro de Oliveira Nascimento, de 46, teria morrido. A confusão aconteceu durante operação da Guarda com a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, nesta terça-feira.
O cantor Elymar Santos, que conhece o casal de longa data, esteve no local no fim do dia. "Quem estava lá na hora comentou que foi algo violento. Quando eu cheguei, vi hematomas no braço dela", reclamou o artista.
Elymar conta que teve o primeiro contato com o casal há cerca de cinco anos, quando participava de um projeto social de distribuição de donativos para moradores de rua. No ano passado, eles fizeram parte do grupo de 50 pessoas que passaram o Natal na casa do cantor.
"Tem mais ou menos três anos que eles moram lá. Os dois ficaram muito marcados na minha cabeça desde os primeiros momentos em que eu ia entregar donativos", afirma Elymar, contando que, a pedido do casal, os levou para um show dele dias depois.
Desde então, os mendigos contam que começaram a ouvir provocações de moradores do bairro. De acordo com Ernani, algumas pessoas gritam quando passavam pelo local: "Chama o Elymar", afirmoul.
O artista disse que o casal continua vivendo no local apesar da destruição provocada pelas chamas. Ao longo desta terça-feira, vários donativos foram recolhidas e entregues ao casal.
"Montaram uma nova barraca para eles. Cada um foi buscar uma coisa. Um amigo chamou o outro e as coisas começaram a chegar", afirma.
Procurada pelo DIA, a Guarda Municipal afirmou que atuou na operação em apoio à ação da Secretaria de Assistência Social para acolhimento de pessoas em situação de rua.
"Quando as equipes chegaram ao local, um dos moradores ateou fogo nos próprios pertences que estavam embaixo do viaduto e o incêndio logo se propagou. O Corpo de Bombeiros foi acionado e conseguiu combater as chamas. O morador se recurou a ir para abrigo da prefeitura", disse, em nota.
Já a Secretaria disse que o casal já recebeu assistência por diversas vezes em outras situações e que, em todas, recusou apoio.
"Após o ocorrido, os técnicos da secretaria foram ao local duas vezes, a primeira por demanda da ouvidoria, e a segunda por demanda da Câmara dos Vereadores. Os técnicos presenciaram o momento em que a mulher colocou fogo nas próprias coisas. Além de relatarem que o homem apresentava alterações de humor. O fogo tomou grande proporção porque entre as coisas do casal existia um botijão de gás. Após o fato, como nas demais vezes, o casal negou acolhimento da Secretaria", afirmou, também em nota.
As duas entidades não comentaram sobre as possíveis agressões que a mulher teria sofrido pelos agentes que participaram da operação.
