Cabine metálica no Largo da Carioca estava sem porta e com sanitário para fora. Alegando vandalismo recorrente, concessionária responsável pela manutenção removeu a unidade -    Estefan Radovicz / Agência O Dia
Cabine metálica no Largo da Carioca estava sem porta e com sanitário para fora. Alegando vandalismo recorrente, concessionária responsável pela manutenção removeu a unidade Estefan Radovicz / Agência O Dia
Por GUSTAVO RIBEIRO

Rio - Se depender de banheiro público, o carioca passa aperto. Os poucos que existem, entre cabines metálicas com porta e Unidades Fornecedoras de Alívio (as UFAs, que são mictórios), estão interditados, depredados, entupidos, pichados ou imundos e com odor insuportável. Agora, a prefeitura reavalia se dará continuidade ao projeto das UFAs, implantado na gestão passada. E uma situação denunciada pelo DIA desde 2015 persiste: vários desses mictórios, que custaram R$ 19 mil, estão abandonados em um terreno na Central do Brasil.

As cabines com porta são mantidas por duas concessionárias contratadas pela Secretaria Municipal de Fazenda (SMF). Já a manutenção das UFAs fica a cargo da Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) e da Comlurb. O estado de um sanitário fruto de contrato da SMF flagrado na semana passada no Largo da Carioca, no Centro, demonstra o descaso com o patrimônio e com o bem-estar da população. O banheiro estava sem porta e, no lugar dela, só havia um pano improvisado. O vaso estava do lado de fora, a estrutura, pichada, e sem condição de uso. Em volta, muita urina.

A Brasil Outdoor, concessionária responsável pela limpeza, manutenção e instalação de banheiros em nove bairros, inclusive no Centro, precisou remover a cabine do Largo da Carioca por conta de vandalismo recorrente. Por nota, a empresa informou que vai instalar a unidade em um novo local, mas não deu detalhes.

Outro banheiro que fica na Rua Dias da Cruz, ao lado da Praça Agripino Grieco, no Méier, está interditado. Comerciantes disseram que o sanitário era constantemente destruído por usuários de drogas. "Deve estar lacrado há uns 2 ou 3 anos. A gente tem que pagar R$ 1 no bar ou pedir para usar o banheiro de alguma loja. Vinham consertar e depois quebravam de novo", contou o ambulante Cristiano Lima, de 42 anos.

"Se tivesse alguém para tomar conta, não teria esse problema. E quem faz na rua pode ser multado", comentou Hércules de Jesus, 63, outro ambulante do bairro. A multa para quem faz xixi ou defeca em via pública é de R$ 516 desde 2015, conforme lei municipal. A empresa JCDecaux, que cuida do banheiro do Méier, declarou que está tomando providências necessárias para restabelecer a operação do sanitário o mais breve possível.

Alívio para quem?

Tem que ter coragem e segurar a respiração para usar as 26 UFAs espalhadas pela cidade. Na calçada da estação de trem de São Cristóvão, há uma funcionando, mas o esgoto não dá vazão e a urina sobe do ralo, provocando odor. "Tem tempo que está entupido. O pessoal joga coisas dentro e não tem manutenção", reclamou o padeiro Luiz Carlos Júnior, 29, morador de Queimados. Na Central do Brasil também tinha um mictório, mas foi removido, pois não tinha manutenção.

Atualmente, a cidade possui 50 banheiros do mobiliário urbano em contrato com as duas concessionárias. O projeto das UFAs foi desenvolvido na gestão de Eduardo Paes e está sendo revisto pelo município, pois "as cabines, na prática, se transformaram em abrigos para usuários de drogas e criminosos", destacou a Seconserma em nota.

Banheiro público degradado no Largo da Carioca - Maíra Coelho / Agência O Dia

Mictórios nunca usados estão jogados em terreno na Central desde 2015

Em maio de 2015, o DIA mostrou que 25 UFAs nunca usadas estavam armazenadas embaixo do Viaduto 31 de Março, no parque Noronha Santos, na Central. Oito meses depois, nada tinha mudado e a promessa era instalá-las em breve. Em maio do ano passado, várias unidades estavam jogadas nos fundos do terreno, debaixo de árvores. E continuavam do mesmo jeito no fim da semana passada.

A Seconserma informou que as UFAs com dano técnico ou que sofreram vandalismo foram "armazenadas" no parque, inclusive a da Central, "de maneira a evitar acidentes e não necessitam estar em área coberta, devido ao tamanho e ao material resistente", explicou, sem dizer a quantidade.

A pasta ressaltou ainda que os banheiros em funcionamento (Lapa, Largo do Pechincha, Calçadão de Campo Grande e Central são alguns pontos) são higienizados pela Comlurb e a manutenção de esgotos cabe à Cedae. Sobre a deficiência de manutenção por parte das concessionárias, a SMF alegou que as empresas foram notificadas a regularizar o serviço.

Em nota, a prefeitura esclareceu que, quanto aos demais banheiros, não há custo direto para o município, "já que são mantidos pelas concessionárias".

 

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