Moradores usam a internet para postar fotos de poluição na CSN - Divulgação
Moradores usam a internet para postar fotos de poluição na CSNDivulgação
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Um basta contra a poluição do ar causada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Com esse objetivo, moradores de Volta Redonda, no Sul Fluminense, estão se organizando pelas redes sociais, para a criação do `Movimento dos Atingidos pelo Pó da CSN´. O primeiro evento da manifestação, organizada por entidades populares, como a ONG Comissão Ambiental Sul (CAS) e Igreja Católica local, será na próxima quinta-feira, 23. Neste dia, às 18h, está marcada uma assembleia na Cúria Diocesana, na Vila Santa Cecília, no Centro. Em nota, a CSN informou que “por enquanto” não vai comentar o assunto.

“Você é atingido de alguma forma pela poluição da CSN em nosso município? Se, sim, venha participar conosco do lançamento do Movimento dos Atingidos pelo Pó da CSN. Participe!”, diz um trecho do texto de convocação na página `Movimento dos Atingidos pelo Pó da CSN´, criada no Facebook (https://www.facebook.com/atingidospelopodacsn/) . No endereço, moradores passaram a postar fotos e denúncias de poluição supostamente originadas da CSN.

De acordo com Adriana Vasconcellos, presidente da CAS, convidados, o bispo da Diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda, dom Francisco Biasin; a procuradora da República Marcela Biagioli; pesquisadores da Fiocruz, e líderes comunitários, deverão estar presentes no lançamento da campanha.

“ O movimento é importante, porque somente a mobilização popular, com representantes de vários segmentos da sociedade, pode respaldar as conquistas já conseguidas até o momento junto às esferas judiciais. A mobilização permanente de agora em diante, vai mostrar o grau de insatisfação da sociedade local com atividades que não estão sendo nada sustentáveis, e causando tanto mal à saúde dos moradores e ao meio Ambiente”, justificou Adriana.

As ações pelo fim do descontrole das operações envolvendo escória (subproduto de Altos-Fornos e Aciaria da CSN da produção de aço), começaram a ser tomadas depois de uma série de matérias exclusivas feitas pelo DIA.

Durante o encontro de quinta-feira, o suposto descaso da CSN com a segurança de seus operários, também será discutida. Na semana passada, houve mais um acidente fatal – o quinto desde 2016 -, vitimando o metalúrgico Daniel Silvério Bragança, de 34 anos, que não resistiu ao acidente no interior da Usina Presidente Vargas (UPV), provocando queimaduras graves em 85% do corpo. No domingo, mais dois funcionários tiveram queimaduras no interior da usina, mas sem gravidades. A CSN já havia se manifestado em nota à imprensa, lamentando as ocorrências e garantindo que a família de Daniel está amparada pela empresa.

ENTENDA A SITUAÇÃO

As investigações de descaso com o meio ambiente por parte da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) ganharam mais um capítulo no início do mês, quando a Justiça Federal concedeu uma liminar determinando que a CSN e a Harsco Metals limitem em quatro metros de altura a pilha de escória depositada às margens do Rio Paraíba do Sul em Volta Redonda, no Norte Fluminense. O caso ganhou repercussão após série de reportagens publicadas pelo DIA, denunciando a penúria de pelo menos 15 mil moradores de seis bairros da periferia, que sofrem com montanhas de escórias que ultrapassariam os 30 metros de altura na localidade de Brasilândia.

Com a decisão judicial, concedida a partir de uma ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), as empresas terão 120 dias para reduzir o tamanho da pilha de escória. Segundo denúncias feitas pelos órgãos e ambientalistas, as irregularidades cometidas possibilitam a contaminação da água que impactaria no abastecimento fluvial de municípios do Sul Fluminense e da Região Metropolitana.

A montanha de escória é um resultado das atividades da CSN e possui sobras da produção de aço dos altos fornos da usina, que podem ser usadas na fabricação de cimento, pavimentação de ruas e apoio de vias férreas. A gestão do material está a cargo da multinacional Harsco Metals, que é contratada pela CSN.

Na liminar, o juiz Bruno Otero Nery registra que quatro metros é o limite previsto pela licença de operação concedida pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para a pilha de escória. No entanto, documentos anexados ao processo registram montes de 20 metros de altura. Outro problema sinalizado pelo autor da decisão é com relação à distância entre o muro que circunda o depósito de resíduos e as margens do Rio Paraíba do Sul.

Em nota, na ocasião, a CSN informou que já tomou conhecimento da liminar e prestará os devidos esclarecimentos à Justiça. A empresa diz também que "está empenhada e comprometida em buscar alternativas para o assunto" e argumenta que a área possui "as devidas licenças de operação, não havendo razões para urgência ou preocupação da comunidade".

Já a Harsco declarou que sempre prestou todos os esclarecimentos solicitados pelas autoridades. Além disso, a empresa garante ter cumprido "com todas as condicionantes e medidas de controle ambientais estabelecidas". 

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