Complexo do Alemão  - Severino Silva / arquivo  O Dia
Complexo do Alemão Severino Silva / arquivo O Dia
Por Bruna Fantti

Rio - Os complexos do Alemão e da Penha voltaram a ser ponto de encontro e tomada de decisão de chefes da facção Comando Vermelho. É o que mostram dados de Inteligência utilizados pelo Exército e que ajudaram a planejar a operação que mobilizou 4.500 militares na segunda-feira.

"De fato, podemos afirmar que o Alemão e os arredores voltaram a ser uma espécie de bunker desses traficantes, como era antes do processo de pacificação", disse o delegado Felipe Curi, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod). Curi, primeiro titular da delegacia do complexo, já foi baleado por um tiro de fuzil no Alemão. A unidade acabou extinta pela Intervenção Federal no início deste mês.

A reunião dos chefes de favelas de outros pontos do estado no local ocorreria aos finais de semana. Um dos dados que corrobora com a informação é o fato de pelo menos três líderes da quadrilha terem sido baleados durante o primeiro dia de operação das forças federais. Um deles foi preso, outro morto e um terceiro fugiu.

Eber do Nascimento Cândido, o Ebinho do Jacarezinho, foi reconhecido por agentes da Dcod ao ser filmado dentro de um táxi, sendo socorrido. Ao lado dele, uma mulher gritava pedindo passagem para o suposto morador baleado. Já Antônio Bruno, de 32 anos, o Costelão, que mandou pendurar uma faixa proibindo o roubo na Praça Seca, foi morto. E a polícia acredita que Charles Jackson Batista, o Charlinho do Lixão, chefe em Duque de Caxias, tenha sido baleado dentro do Complexo da Penha.

Há a suspeita de que todos esses chefes tenham ido ao chamado Baile da Gaiola, que é feito aos sábados na Rua Aimoré, na Penha. E, na segunda, foram pegos de surpresa pelo Exército.

Baile é investigado

"Baile da Penha sempre lotado. Todo sábado tenho que partir. E os amigos profissão perigo, de Glock (pistola) no cinto, o ritmo é assim". Os versos fazem parte de uma das músicas tocadas no baile que chega a reunir 30 mil pessoas e é alvo de investigação da 22ª DP (Penha).

A festa não possui autorização dos bombeiros, da Guarda Municipal e da Polícia Militar para ocorrer e surgiu há 18 meses, de acordo com o depoimento de um barraqueiro, que foi intimado a depor. "No início era só música no Bar da Gaiola. Depois, reunimos 49 barraqueiros e resolvemos fazer o baile", afirmou à polícia. Ele confirma que a festa começa no sábado à noite e termina por volta de meio-dia de domingo.

O DJ Rennan, principal atração, também depôs. Ele nega participação do tráfico na realização do evento. No entanto, além de algumas músicas que seriam de apologia ao crime, há imagens de homens empunhando armas na festa.

Além disso, um dos perfis do Twitter do Baile faz seguidas postagens de apoio a traficantes e contra a presença de militares. Em uma mensagem escreveu: "A ordem é todo mundo descer para a pista e taca fogo em tudo", seguido do sinal de dois dedos erguidos, em alusão ao 'V' de Comando Vermelho. Em outra postagem, torce para a saída do Exército do local e dissemina mensagens de ódio à corporação.

"Esse material está sendo investigado. Confirmamos a desordem urbana mas seguimos na linha de provar a associação ao tráfico", disse Rodrigo Oliveira, titular da delegacia da Penha, que já identificou líderes dos bandos da região. Um deles, que já possui mandado de prisão, é Edgar Alves, o Doca. Outro é chamado de Pedro Bala. Ele teria habilidades de atirador de elite e é conhecido como matador de policiais.

Já em relação ao Alemão, vizinho ao Complexo da Penha, a Polícia Civil aponta Luciano Martiniano, o Pezão, que se encontra no Paraguai, e Delson como chefes do tráfico.

O doutorando de Antropologia Social da UFRJ Dennis Novaes, que faz pesquisa sobre o fenômeno cultural funk, opina que não é a música que causa o crime. "O funk somente materializa aquela realidade. Ele em si não é o problema", avaliou.

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