Crianças enviam desenhos e cartas para o museu. Iniciativa comoveu os funcionários da instituição - FOTOS  Divulgação
Crianças enviam desenhos e cartas para o museu. Iniciativa comoveu os funcionários da instituiçãoFOTOS Divulgação
Por FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Das cinzas do Museu Nacional do Rio de Janeiro, destruído pelo incêndio que completa um mês no dia 2 de outubro, nasceu um movimento de solidariedade e afeto à instituição, que tem comovido funcionários que cuidavam dos cerca de 20 milhões de itens históricos, dos quais, mais de 3 mil estavam expostos ao público. De todo o Brasil e até do exterior, a direção do museu tem recebido cartas, desenhos, poesias, maquetes e fotos de pessoas que tiveram a felicidade de visitar o espaço. A maior parte das homenagens vem de escolas públicas e privadas.

Da Zona Rural de Angra dos Reis, por exemplo, no Sul do estado, 28 alunos da turma do 4º ano da escola pública Quilombola Áurea Pires da Gama, mandaram correspondências. O envio de desenhos, traduzindo sentimentos de tristeza, mas ao mesmo tempo, esperança no futuro, foi incentivado pela professora Patrícia Dal-Col e pela historiadora Martha Myrrha. "O retorno foi surpreendente para todos nós e está incentivando outras escolas", confessou Patrícia.

Graças à iniciativa, a direção do museu criou campanha com a hashtag #MuseuNacionalVive, no Facebook, que já recebeu mais de 600 fotos de pessoas que estiveram na instituição e registraram as visitas com imagens. Pelos correios, já chegaram milhares de cartas de todos os cantos do Brasil e do mundo. A intenção do diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, é fazer posteriormente uma exposição de todo o material recebido. "Essas manifestações de carinho têm sido nosso alento e combustível pra prosseguir, nesse momento tão difícil", disse Alexander, emocionado.

Especial - Em memória do Museu Nacional. Crianças de escolas públicas e privadas de todo o estado do Rio expõem seus sentimentos de tristeza e esperança em relação ao incêndio que destruiu o Museu Nacional. Alunos de escolas como a Áurea Pires da Gama, de Angra dos Reis, Meimei, Notre Dame e SER, do Rio, prestaram suas homenagens através de cartas, desenhos, poesias, maquetes, painéis e fotos. O Museu Nacional já recebeu milhares de homenagens desse tipo, criou uma campanha de afeto à instituição e decidiu até montar uma exposição posteriormente. No Facebook, foi criado o perfil #Museu Nacional Vive, que recebe também as homenagens. Foto - Divulgação - Divulgação

Na tradicional Meimei Escola, em Vila Isabel, por exemplo, a direção do colégio vem promovendo debates em prol da valorização da cultura e da história, "que permitirão construir um mundo melhor". Lá, os trabalhos são reunidos em painéis ilustrativos com fotos pessoais, desenhos e poemas, que permitem às crianças rememorar o museu e suas histórias.

"Achei a iniciativa fantástica. Os estudantes estão empolgados com os trabalhos", elogiou Gabriela Costa, mãe de Henrique e Cecília, de 4 e 6 anos, que estudam na instituição. "Fico muito triste por saber que anos de pesquisas se perderam. E que a minha geração não terá o Museu Nacional como um espaço de referência científica ", lamentou a estudante Brenda Fogli, do 3º ano .

João Vieira, também do 3º ano, conta que quando soube do incêndio, achou que fosse obra de algum site sensacionalista, e, por isso, num primeiro momento, não deu ouvido às notícias assustadoras que chegavam pela internet.

Painéis-protesto (acima), com informações sobre o Museu Nacional, tomaram os corredores do Colégio Notre Dame. No SER (ao lado), crianças recriaram itens perdidos no incêndio - Divulgação

"Mas quando liguei a TV e vi o fogo engolindo o prédio, fiquei chocado, paralisado, sem acreditar no que estava ocorrendo. Na verdade, até agora, mal posso acredita que esse pesadelo aconteceu mesmo", afirmou, ressaltando que o pai trabalhava lá.

"Fiquei muito triste também, ao saber que tinham tantas coisas valiosas lá dentro", completou Nicole, do 9º ano. Mesmo de longe, professores também renderam homenagens, de várias formas, como Marcelo Mendes, professor do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA), que escreveu a poesia 'Luzia: a mineirinha mais conhecida das Américas'. Homenagens e fotos do museu podem ser postadas em www.facebook.com/pg/MuseuNacionalUFRJ.

Alunos recriam peças em sala de aula

Na Sociedade Educacional Recreio (SER), a coordenadora da Educação Infantil, Viviane Badaró, conta que ela e sua equipe se emocionaram com o movimento 'Recriando', em que os alunos confeccionaram itens do museu perdidos no incêndio. "As atividades têm sido importantíssimas para a formação e desenvolvimento das crianças", atestou Viviane.

Já no Colégio Notre Dame, também no Recreio, alunos do 5º ano ainda se mostram inconsoláveis com o incêndio, segundo a direção do estabelecimento. A maioria dos 60 estudantes das três turmas nunca tinha ido ao museu. Muitos conheciam o espaço através das histórias contadas pelos pais, que estavam sempre planejando fazer um passeio até lá com as crianças. Não deu tempo. A professora Clarice Pires Fialho Nery disse que os pais ainda estão inconsoláveis.

"Nos dias do incêndio não trabalhamos, mudamos o planejamento. Pedi as crianças que trouxessem notícias, recortes e fotos, para a montagem de painéis. Exibimos o vídeo de uma visitação virtual para que eles conhecessem mais sobre o museu, fizemos um debate sobre o descaso que levou ao incêndio, discutimos sobre a responsabilidade das autoridades e relacionamos o desastre as eleições, com a importância de eleger representantes comprometidos em cuidar do patrimônio público e de tesouros que são de todos nós", contou a professora.

Trabalho em grupo detalha as histórias

Separados em grupos, os estudantes do Notre Dame elaboraram os chamados painéis-protestos, que estão em exibição nos corredores da escola. Na turma, Maria Fernanda Rocha, de 10 anos, é uma das crianças que não conheceu o museu.

"Há tempos meus pais estavam planejando me levar. Gostaria muito de ter conhecido, de ter visto tudo, especialmente as coisas do Egito. Sempre fico triste de novo quando lembro que foram 200 anos de história perdidos", disse. O colega de sala, Pedro Ferreira Ramos, 11, também não conheceu o museu. "Tudo era interessante. Eu queria muito ter conhecido cada coisa que estava lá", lamentou.

Você pode gostar
Comentários