Protesto reuniu pelo menos 15 mil no Centro - Maíra Coelho / Agência O Dia
Protesto reuniu pelo menos 15 mil no CentroMaíra Coelho / Agência O Dia
Por O Dia

Rio - Manifestantes contrários ao candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, tomaram a praça da Cinelândia, no Centro do Rio, no início da tarde deste sábado e seguiram à noite para a Praça XV. Os protestos contra a candidatura de Bolsonaro foram convocados de forma espontânea, em várias cidades do País e também no exterior, a partir da criação do grupo "Mulheres Unidas contra Bolsonaro" no Facebook, no último dia 30. Um grupo de cerca de 30 mulheres se formou espontaneamente e trabalhou por cerca de duas semanas para organizar o ato.

No Rio, o principal palco foi a Cinelândia, onde pelo menos 15 mil manifestantes se reuniram e marcharam pelas ruas.

Todo o dinheiro para alugar um carro de som, montar um palco e contratar seguranças foi levantado por doações mobilizadas pelas organizadoras, informou Natália Trindade, integrante do grupo e militante da União Brasileira de Mulheres.

"Estamos aqui para apresentar resistência, dizer que o País que queremos é sem fascismo", disse Natália, no backstage do palco montado na Praça XV. Natália citou as declarações do candidato a vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão, sobre o fato de famílias chefiadas por mães e avós criarem filhos degenerados, e do próprio candidato do PSL, sobre o fato de ter tido uma filha quando deu uma "fraquejada" como exemplos do fascismo representado pela candidatura.

A militante disse ainda que a mobilização deve continuar. Embora espere que Bolsonaro não chegue nem no segundo turno, Natália afirmou que um segundo ato de mulheres contra o candidato pode ser convocado antes do pleito decisivo de 28 de outubro.

"Nossa união prova para ele (Bolsonaro) e para todos os eleitores dele que nós temos força e que se mexer com uma, mexe com todas. Não vamos aceitar alguém que promove homofobia, misoginia, racismo e intolerância", afirmou a vendedora Desirèe Silva, de 27 anos.

Para Thiago Zerpini, de 36 anos, que foi ao ato com seus dois filhos, as ideias do candidato do PSL representam o retrocesso da democracia no país. "Todos os direitos que as minorias conquistaram até aqui no nosso país estão ameaçados pelo extremismo que ele prega. O ódio não pode vencer nas urnas", disse.

O ato terminou por volta das 20h, sem incidentes. Por volta das 19h, um pequeno grupo colocou fogo em entulhos e bandeiras e dançaram redor das chamas. Ninguém ficou ferido. Às 15h25, manifestantes reagiram com aplausos à passagem de uma bandeira com a imagem da vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada em março. Muitos manifestantes, especialmente as mulheres, responderam à convocação dos organizadores do protesto e usaram lilás.

Ato reuniu milhares contra o candidato do PSL - Maíra Coelho / Agência O Dia

No protesto, as palavras de ordem contra Bolsonaro uniram os manifestantes, com público variado. Algumas atrizes da TV Globo apareceram à frente do protesto, como Carolina Dieckmann, Nanda Costa, Paula Burlamarqui e Fraçoise Forton. Performances de arte ficaram lado a lado com ativistas de perna de pau e militantes de partidos. Foi possível ver bandeiras de partidos como PDT e PSTU, assim como material de campanha do candidato a presidente pelo PDT, Ciro Gomes, e do deputado federal Wadih Damous (PT-RJ). Também compareceram manifestantes com camisetas de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, assim como representantes de religiões de matriz africana.

A mobilização por meio das redes sociais começou a chamar a atenção no último dia 10, ao agregar mais de 300 mil mulheres em um único dia. Neste sábado, o grupo, fechado, contabilizava 3,9 milhões de participantes. A adesão é um reflexo da rejeição a Bolsonaro entre as eleitoras - o porcentual de mulheres que, nas pesquisas de intenção de voto, dizem que jamais votariam no deputado fluminense é maior do que o de homens.

O crescimento do grupo provocou reação em meados deste mês. No fim de semana dos dias 15 e 16, quando tinha em torno de 2,5 milhões de participantes, o grupo chegou a ficar fora do ar após ser hackeado e ter seu nome mudado, com alusão favorável a Bolsonaro. Várias mulheres do grupo foram agredidas verbalmente e receberam ameaças via internet. Paralelamente, naquele fim de semana, a hashtag #EleNão foi utilizada 193,4 mil vezes e a #EleNunca outras 152 mil vezes em todo o País.

A reação ao movimento incluiu suspeitas de violência física no Rio. Uma das administradoras do grupo na cidade registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil afirmando que foi agredida na noite da última segunda-feira, quando chegava em casa, na Ilha do Governador, na zona norte do Rio, por dois homens ainda não identificados. A ativista afirmou que vinha sendo ameaçada nas redes por causa da militância política, mas disse que não podia afirmar quem eram os agressores. Os homens levaram apenas o celular da vítima, deixando os demais pertences.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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