A esposa do militar disse que trocou mensagens pelo WhatsApp, mas depois marido parou de responder - Maíra Coelho / Agência O Dia
A esposa do militar disse que trocou mensagens pelo WhatsApp, mas depois marido parou de responderMaíra Coelho / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Pensando no futuro da filha caçula de 12 anos, o subtenente da Marinha Edson de Souza Maia, de 49 anos, assassinado nesta manhã, iria se mudar com a família para Portugal em 2019. Ele fazia planos para vender a casa — no bairro Retiro São José, em Itaboraí — e o carro (um Fiat Uno), que acabou sendo roubado pelos criminosos. Planos e vida foram interrompidos pela violência Nesta manhã, no Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, em São Gonçalo, a esposa do militar contou ao DIA que, horas antes de morrer, Edson a havia deixado no Hospital Naval Marcílio Dias, no Lins, para uma consulta médica.

"Saímos de casa às 3h30 para ele me deixar no Marcílio Dias, pois eu fui marcar uma cirurgia com urgência. Quando eu acordei, às 3h, eu falei com ele: 'Amor, não vamos hoje, não. Vamos deixar para a semana que vem. Na terça (da próxima semana) você vai para o quartel e você me deixa no Marcílio, depois você segue para o trabalho e eu encontro com você', eu disse", lembrou Viviane Carla da Silva Amaro, 40 anos, técnica em saúde bucal. "Como eu consegui um encaixe para essa consulta, ele disse: 'Não, Vi (apelido da esposa). Não vamos perder essa oportunidade. Eu te levo ao hospital e depois volto para levar a Ana Clara (filha) para a escola'. E assim foi feito. Quando me despedi dele, falei que era para ele me mandar uma mensagem avisando", completou a esposa.

Muito abalada, Viviane disse que a última mensagem visualizada por Edson foi às 6h43. A partir das 7h56 o militar não recebeu mais as mensagens da esposa. "Meu marido voltou às 4h20 do Lins, lugar extremamente perigoso, chegou em casa para levar a nossa filha para a escola. Lá em casa ele me mandou uma mensagem dizendo que já havia chegado e depois de voltar da escola iria tomar café", disse.

Ainda segundo Viviane, Ana Clara ligou dizendo que na rua da escola havia tido um tiroteio e que era para a mãe ligar para o pai. "Liguei para o colégio e eles, em um primeiro momento, não souberam dizer se era ele ou não. Logo em seguida, mandei uma mensagem para a minha filha dizendo que seria a próxima a ser atendida e que ela poderia ficar tranquila que não tinha acontecido nada com o pai dela. Comecei a tentar falar com ele. Liguei, mandei mensagens no WhatsApp e nada. Aí, comecei a ficar aflita porque ele não era de ficar sem responder. Liguei então para uma amiga, que tem a filha na mesma escola. O marido dela foi lá na rua e reconheceu o meu marido", afirmou, emocionada.

Consolada por parantes e amigos, a mulher disse não saber o que pode ter acontecido. "Eu acho que ele reagiu ao assalto e, infelizmente, quem pagou foi o meu marido. Um homem honesto, com uma índole impecável, um militar sensacional", salientou. "A minha filha ficou sabendo que o pai tinha sido morto ainda dentro da escola. Agora, antes de vir para cá (IML), ela chorando muito me disse: 'Mãe, por favor, eu não estou acreditando nisso'. Eu também não estou acreditando. É uma coisa tão surreal", desabafou.

Viviane Amaro comparece ao IML de Tribobó. Ela é esposa do militar da Marinha Edson de Souza Maia, de 47 anos, que foi morto a tiros após reagir a um assalto em Itaboraí - Maíra Coelho

Descoberta de doença 

A ida de Viviane Carla da Silva Amaro ao Hospital Marcílio Dias era para uma consulta de rotina. Nesta manhã, a mulher descobriu que está com três miomas no útero e terá que passar por uma cirurgia de emergência. "Hoje, eles (os médicos) descobriram que eu estou com três cistos no útero e terei que retirar. Não tive nem tempo de falar com o meu marido. Ele era o meu apoio, o meu porto seguro. Eles tiraram ele de mim", diz.

Aposentadoria e mudança 

Com 30 anos na Marinha, Edson de Oliveira Maia estava lotado no Centro de Manutenção de Sistemas (CMS) na Praça Mauá. Segundo a esposa, na próxima semana o homem iria dar entrada na aposentadoria. "A vida dele foi esse serviço. Ela estava muito feliz porque iria se aposentar em janeiro", diz Viviane.

Vindos de Magé, na Baixada Fluminense, a família de Edson morava em São Gonçalo há alguns anos. Por conta da criminalidade, que cresce em todo o estado, os planos do homem era ficar só este ano no Brasil. "Para o próximo ano, por conta da violência, tínhamos planos de irmos embora para Portugal. Já estávamos começando a planejar. Iríamos colocar a casa e o carro a venda pra poder ir embora", lembra a companheira de Edson.

Pai amoroso e marido dedicado

Durante todo o tempo que esteve no IML, Viviane lembrou que o casamento foi intenso. "Ficamos juntos por 15 anos. Foram dias de muita cumplicidade. Em 2004, na nossa lua de mel, fomos de moto para Recife. E essa foi a maior aventura de nossas vidas. Ele viveu intensamente. Foi uma pessoa maravilhosa. A nossa filha de 12 anos é muito apaixonada pelo pai e ele era pela filha", lembra. "Eu estou me sentindo negligenciada, fragilizada. Estou sentindo que somos os errados. Meu marido foi levar a filha para a escola e foi assassinado. Sei que é avassalador, mas, só vou acreditar quando eu ver o meu marido. Preciso ver com os meus próprios olhos o que fizeram com ele", diz Viviane.

Os próximos dias

"Durante a nossa ida para o hospital, fomos conversando sobre os planos para o próximo final de semana. Como a gente vota em Piabetá (Magé), onde os pais dele moram, após a votação iríamos passar o dia lá na casa da nossa comadre em Duque de Caxias. Iríamos rever nossos amigos. Já no dia 12 de outubro (dia das crianças), iríamos passar o dia com a nossa filha e, depois, iríamos viajar para Visconde de Mauá, de moto. Ele era apaixonado por motocicleta. Como já tínhamos ido em julho, com a família, ele ficou apaixonado e quis voltar só eu e ele", lembrou a esposa da vítima.

O velório de Edson de Souza Maia começará no final da noite desta quinta-feira no Centro de Piabetá, em Magé. O enterro será nesta sexta-feira no Cemitério Municipal de Piabetá, conhecido como Bongaba.

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