Marilda David de Souza observa o estrago que o rompimento provocou na sua casa pela quarta-vez - Rafael Nascimento / Agência O Dia
Marilda David de Souza observa o estrago que o rompimento provocou na sua casa pela quarta-vezRafael Nascimento / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - "Foi como uma tsunami que varreu tudo que tinha pela frente". Essa metáfora pode dizer o que aconteceu na madrugada deste sábado, no bairro Prado Verde, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, após uma adutora da Cedae se romper. Pelo menos 200 famílias, o que contabiliza mais de mil pessoas, do entorno foram afetadas pela correnteza da água, que não poupou carros, casas e até animais.

Nesta manhã, o que se via no local eram rastros de destruição. Moradores contabilizavam o prejuízo, comerciantes não sabiam o que fazer e funcionarios da Cedae tentavam reparar o problema.

Famílias foram atingidas pelo rompimento de tubulação em Nova Iguaçu - Rafael Nascimento / Agência O Dia

As ruas Tulipas e Lírios foram as mais afetadas pela água. Uma das vítimas do desastre foi uma comerciante, dona de uma padaria, que perdeu 10 freezers. Com faturamento de mil reais por dia, Ana Paula de Menezes, de 34 anos, diz que nos próximos dias não sabe o que fará.

"Perdi tudo. Os mantimentos estão jogados no chão, a força da água destruiu tudo o que eu levei anos para construir. Eu estava em casa, em Campo Grande, quando a minha vizinha me ligou dizendo o que tinha acontecido. Cheguei aqui e encontrei esse rastro de destruição. É desesperador, pois a mesma água que abençoa é a água que amaldiçoa e destrói". 

De acordo com a mulher, que está há 15 anos no local, esta é a quarta vez que a adutora se rompe. A última vez foi há, aproximadamente, um ano e seis meses .

Ana Paula de Menezes, que teve um prejuízo de mais de R$ 10 mil reais em mercadorias e equipamentos - Rafael Nascimento / Agência O Dia

Há 200 metros do local onde a adutora se rompeu, uma família inteira ficou ilhada. Três crianças, uma de 5 meses, uma de dois anos e uma de quatro anos, por pouco nãoo morreram afogas dentro de casa. 

Próximo ao local, há um sítio, onde dezenas de animais morreram afogados. O terreno de 1km abrigava criações de porcos, galinhas e coelhos. Praticamente todos os animais morreram na enxurrada: 100 galinhas, uma coelha com 5 filhotes, além de dez porcos.

Mayra Vale dos Santos, de 23 anos, mãe das três crianças, conta que viveu um momento de terror. "Foi um desespero, eu só queria tirar as minhas crianças daqui. A água começou a entrar pelo buraco do ar condicionado e rapidamente levou tudo".

Douglas Lima de Arruma e a esposa Mayara Vale dos Santos ao lado dos filhos que quase morreram afogados - Rafael Nascimento / Agência O Dia

Segundo Douglas Lino de Andrade , pai das crianças e cuidador do sítio, o mais triste é saber que ele já havia feito cinco denúncias na Cedae devido a um vazamento que estava acontecendo há meses no local.

"Liguei dezenas de vezes e falei de um remendo que havia sido mal feito, mas eles não deram importância, perdemos a nossa fonte de renda", lamenta. 

Os animais também foram atingidos pelo rompimento da tubulação em Nova Iguaçu - Rafael Nascimento / Agência O Dia

Caminhando pelo bairro, é possível ver que vários muros foram derrubados pela força da água e carros foram arrastados pela enxurrada. Na rua das Tulipas, uma das mais atingidas, Antônio Carpegiane, de 26 anos, balconista, conta que trabalhou o dia inteiro no Dia das Crianças. No final da noite, chegou com os presentes dos filhos, um de 5 anos e outro de 8 anos. Segundo o homem, poucas horas depois, ele viu a casa, os móveis e os brinquedos debaixo d'água.

"Sai do Nordeste há 4 anos para dar uma vida mais digna para a minha família e acontece isso. A gente tenta algo de melhor para as nossas vidas e em dois minutos perde-se o que conquistou em anos. Eu nao curti o Dia das Criaças com os meus filhos. Dei os presentes e hoje eles estao embaixo d'água". 

Antônio Carpegine, vindo do Ceará ha 4 anos, perdeu tudo - Rafael Nascimento / Agência O Dia

Na casa de Antônio não sobrou absolutamente nada. Vizinhos, como Walter Correa de Miranda, de 30 anos, autônomo, e Jéssica da Silva Ferreira , de 27 anos, dona de casa, também perderam tudo.

Há dois meses morando na casa, o desespero tomava conta do casal, que tem dois filhos. "Não sobrou nada, nem os documentos dos nossos filhos", conta Jéssica. 

O esposo, Walter, faz um tratamento de saúde e precisa tomar remédios controlados. Cada um esta avaliado em R$ 350,00. Hoje ele não sabia como iria continuar o tratamento, já que perdeu todos os remédios na enxurrada. 

Famílias foram atingidas pelo rompimento de tubulação em Nova Iguaçu - Rafael Nascimento / Agência O Dia

"Eu não sei o que eu vou fazer. Estamos com a casa toda inundada, não temos apoio de ninguém e os nossos filhos estão até agora com sede e com fome. A gente tinha comprado as nossas coisinhas com muito sufoco. A máquina de lavar era zero, tinha algumas semanas. Agora está lá, debaixo d'água. Eu nunca pensei que passaria por isso na minha vida" desabafa. 

Nesta manhã, equipes da Defesa Civil de Nova Iguaçu e funcionários da Cedae faziam o recadastramento dos moradores que perderam tudo.

De acordo com uma fonte da concessionária, que pediu para não ser identificada, os moradores afetados deverão fazer três orçamentos diferentes de tudo o que foi perdido e encaminhar, a partir da próxima quarta-feira, para um dos polos da Cedae, que fica no Rio Guandu. 

Após rompimento de tubulação, homens da Cedae trabalham em Nova Iguaçu - Rafael Nascimento / Agência O Dia

"Para não sacrificarmos mais os moradores afetados, estamos mobilizando uma força tarefa para limpar a região e cadastrar, o mais rápido possível, as pessoas que foram vítimas. Caminhões pipa e caminhões de sucção, para retirar a água que está empoçada nas casas, virão para o local. Estamos mobilizando todas as equipes da Cedae que estão espalhadas pelo Rio de Janeiro para dar prioridade para essa situação" disse o representante da concessionária, que durante toda a manhã acompanhou as ações no local. 

De acordo com a Cedae, pelos próximos dias, serão distribuidas 500 quentinhas para os moradores, além de água e atendimento médico. Equipes de limpeza começarão a fazer a remoção dos escombros ainda nesta tarde.

Equipes da Prefeitura de Nova Iguaçu fazem a distribuição de hipoclorito de sódio para ajudar na limpeza das casas. O produto serve para desinfectar o ambiente e os alimentos afetados pela lama. Representantes reclamam, mais uma vez, que não é a primeira vez que essa tragédia contece no local. Eles ainda denunciam que na última vez em que a Cedae compareceu ao local, pouca coisa foi resolvida.

Quinze horas após o rompimento da tubulação da Cedae, a Prefeitura de Nova Iguaçu informou, através de uma nota, que "Rogério Lisboa cobrou providências junto ao Governo do Estado para as pessoas prejudicadas pelo rompimento de uma tubulação". Ainda segundo o comunicado, "Lisboa ligou diretamente para o governador Luiz Fernando Pezão pedindo ajuda imediata às famílias prejudicadas". A assessoria de imprensa disse ainda que, " um ponto de apoio foi instalado pela prefeitura para atender os moradores da localidade na Escola Municipal José Reis, na rua das Margaridas, s/n, em Prados Verdes. O local funcionará durante o fim de semana".

Por fim, a pasta disse que até às 16h, após um levantamento feito pela Secretaria de Assistência Social, apontou que 228 famílias foram prejudicadas, totalizando 688 pessoas. Deste total, oito famílias, totalizando 31 pessoas, que não têm condições de ocupar as residências foram levadas para uma pousada próxima ao local que será custeada pela Cedae. 

Rompimento de tubulação da Cedae alagou ruas e casas em Nova Iguaçu - Rafael Nascimento / Agência O Dia

 

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