Rio - Um ex-delegado da Polícia Civil, identificado como Daniel Goulart, 45 anos, foi baleado na cabeça durante uma tentativa de assalto, na noite desta terça-feira. Segundo as informações iniciais repassadas à polícia, o caso ocorreu dentro de sua casa, em Vargem Pequena, na Zona Oeste do Rio, que fica em um condomínio sem segurança.
Segundo o delegado Nerval Antônio Fialho Goulart, da Delegacia de Acervo Cartorário da Saúde, pai da vítima, dois criminosos entraram pelo basculante do quarto do casal. Somente um deles estava armado. Daniel e a esposa entraram em luta corporal com os criminosos, que resultou no disparo que atingiu Daniel. Eles fugiram logo em seguida sem levar nada.
"Eles entraram pelo basculante. A esposa dele entrou em luta corporal com um criminoso, e o Daniel com o outro, que estava armado e disparou no Daniel. O filho deles de 8 anos estava no quarto ao lado, mas não viu nada porque tudo aconteceu dentro do quarto do casal", conta o delegado.
Daniel foi socorrido para o Hospital Municipal Miguel Couto, passou por uma cirurgia e está internado na UTI em estado grave. A família tenta agora a transferência para uma unidade particular, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio.
No entanto, a Secretaria Municipal de Saúde ainda não informou se o ex-delegado terá condições de saúde para ser transferido, conforme deseja a família. Por volta das 11h40, O DIA recebeu a confirmação de que a transferência foi realizada com uma ambulância da unidade particular de saúde.
Daniel foi atingido próximo à orelha, por um revólver calibre 38, e sua esposa também ficou ferida, mas sem gravidade. O caso foi registrado na 42ª DP (Recreio).
De acordo com o delegado titular da 42ª DP, Eduardo Freitas, um dos criminosos estava vestido com uma camisa amarela e uma bermuda azul.
"Em um primeiro momento trabalhamos com uma tentativa de roubo. Esse ladrão não contava esperar — pelo que apuramos — as vítimas acordadas. Na saída entre a suíte e um dos quartos, o ex-delegado encontrou com o criminoso. Em princípio, os bandidos tentaram entrar na casa vizinha para assaltar e não conseguiram. Então, eles escolheram entrar em outra casa e calhou de ser a do Daniel. Lá ele conseguiu entrar sem quebrar o vidro (da janela do banheiro da suíte)", conta Eduardo Freitas.
Ainda segundo o delegado, eles quebraram os vidros e conseguiram fugir. "Possivelmente, um deles se cortou na fuga. Com certeza, esse é um criminoso que conhece o local, sabe das rotas de fuga e a gente tentou buscar as digitais em todos os locais possíveis que ele se apoiou e tocou. Colhemos alguns objetos que serão periciados no Instituto de Criminalística Carlos Eboli para nos indicar quem é o criminoso”, completa.
Em janeiro de 2010, Daniel Goulart foi demitido da Polícia Civil, onde atuava desde 2006. Segundo investigações da Corregedoria à época, ele seria envolvido com o ex-chefe de Polícia Álvaro Lins e com o grupo dos "inhos" no loteamento de delegacias. Naquela ocasião, segundo a Secretaria de Segurança, eles lotearam unidades policiais para ter vantagem econômica, além de fazer cobertura para uma atividade criminosa e de ter tido aumento patrimonial "absolutamente incompatível" com suas rendas.
O DIA apurou que, nesta manhã, o delegado Eduardo Freitas, titular da 42ªDP (Recreio dos Bandeirantes), reuniu investigadores da distrital para tratar do caso.
“Eu, pessoalmente, vou investigar esse crime. O que sabemos é que foram dois bandidos que renderam o casal. Em um determinado momento, ele (o ex-delegado) pensou que poderia ser baleado e morrer, e tentou tomar a arma de um dos criminosos. O casal, então, entrou em luta corporal com os homens”, disse o delegado Eduardo Freitas.
“Acredito que a arma utilizada pelos criminosos foi um 38. Houve uma perícia no local e estamos buscando câmeras de segurança para identificar os criminosos”, completou Freitas. Uma perícia papiloscópica será feita na casa do ex-delegado para tentar encontrar as digitais dos criminosos.
No condomínio Villa Santorini, em Vargem Pequena, existem cerca de 12 casas. A última é a de número 22 e é onde mora Daniel, a esposa e o filho. Considerado um lugar tranquilo, vizinhos do ex-delegado afirmam que o condomínio não tem vigilante 24 horas e o acesso ao local é apenas por controle remoto ou após a autorização dos moradores.
De acordo com um dos moradores, o cinegrafista José Silveira, 61, o residencial é tranquilo. No entanto, ele lembra que já teve a casa invadida. “Aqui tem uma falsa sensação de segurança. Apesar de parecer um condomínio, as casas são iguais às de rua. Não temos seguranças aqui. Há dois anos tive a casa invadida por criminosos. Eles arrombaram a minha casa e levaram o drone que eu tinha", contou.
“No caso de ontem, eu não escutei o disparo. Antes da meia noite eu apenas ouvi os cachorros latindo”, lembra o homem. “Aqui é muito tranquilo. No entanto, os criminosos conseguem entrar por trás (onde existem matas) e conseguem acessar as casas”, completa.
Perguntado sobre a violência do Rio, o homem é incisivo: “Está péssima. Nem dentro de casa temos segurança. O Daniel é um vizinho muito tranquilo e as vezes nos vemos aqui no condomínio”.
O militar aposentado Magno Ferreira, 47, disse que ficou surpreso ao saber da notícia de que o vizinho foi alvo de criminosos. “Por ser um bairro muito tranquilo, ficamos estarrecidos com o que aconteceu. Moro aqui há cinco anos e nunca houve algo parecido aqui. É lamentável”, afirmou. O homem diz que, por estar dormindo no momento do crime, ele não escutou nada.
A administradora Jaqueline Romano, 35, conta que ouviu o disparo e chegou a ver um dos criminosos fugindo pelo telhado da casa do ex-delegado. “Estava no quarto quando escutei a Patrícia (mulher de Daniel) pedindo socorro. Quando fui avisar o meu marido, ouvi o disparo. A minha reação foi correr e pegar os meus dois filhos — de 10 e 5 anos — e levá-los para um outro quarto mais afastado (da casa de Daniel)”, lembra a mulher. “Quando cheguei lá no outro quarto, com os meus dois filhos, vi um homem, de aproximadamente 18 anos, fugindo pela janela e acessando o telhado do Daniel”, afirma a administradora que mora ao lado da vítima.
“Eu ainda não acredito que aconteceu isso do lado da minha casa. Parece que é um filme de terror. A partir de agora vamos cercar a casa com arrames e vamos nos proteger da melhor forma possível”, completa.
Estagiária sob supervisão de Cadu Bruno