Moradores fecham Avenida Brasil, na altura da Favela Nova Holanda, com corpo de professor morto na comunidade - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Moradores fecham Avenida Brasil, na altura da Favela Nova Holanda, com corpo de professor morto na comunidadeEstefan Radovicz / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Subiu para cinco, no início da tarde desta terça-feira, o número de mortos durante a operação do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar no Complexo da Maré, que começou na primeira hora da madrugada desta terça-feira. Uma das vítimas é o professor William Filgueira de Oliveira, de 35 anos, que morreu na Favela Nova Holanda, baleado por volta das 5h quando buscava um lanche para namorada. Os próprios moradores retiraram o corpo da vítima com um carrinho e fecharam parcialmente a pista lateral da Avenida Brasil, no sentido Zona Oeste, por cerca de três horas.

Também há pelo menos quatro pessoas que foram baleadas, conforme O DIA apurou. Procurada para informar, às 6h02, sobre as circunstâncias que as pessoas foram mortas e feridas, a PM ainda não se pronunciou. 

"Ele era monitor de física aqui na comunidade. Cheguei aqui na última sexta-feira e iríamos voltar para o Nordeste. Eles foram covardes. Mataram ele pelas costas", lembrou Raissa Souza da Silva, namorada de William há 11 meses, aos prantos. Segundo parentes e amigos, o homem foi morto com facadas e tiros pelas costas. Após ser assassinado, o corpo do homem teria sido arrastado pelos PMs.

Uma equipe da ONG Redes da Maré acompanha de perto, na rua Teixeira Ribeiro com Avenida Brasil (Nova Holanda) a movimentação da polícia e dos moradores. Durante todo o tempo os funcionários tentam evitar algum tipo de embate entre a PM e os moradores da favela.

Moradores fecham Avenida Brasil, na altura da Favela Nova Holanda, com corpo de professor morto na comunidade - Agência O Dia

Às 10h40, O DIA apurou que um quarto morto se encontrada dentro da Favela Nova Holanda. Procurada pela reportagem às 6h02, a PM ainda não se pronunciou sobre o número de mortos, feridos e nem sobre as circunstâncias em que foram baleados. A corporação informou somente duas prisões realizadas, uma moto recuperada e drogas apreendidas, que chega a 200 quilos, conforme relaram no Twitter. No microblog, foi informado também a apreensão de um fuzil de airsoft,dois canos de fuzil calibre 7.62, uma luneta,um colete balístico, uma granada e uma pistola 9mm com dois carregadores com um homem baleado.

Todas as vítimas foram socorridas no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB). As outras duas mortes teriam ocorrido no início da madrugada. Uma das vítimas foi identificada como Thiago Ramos Pereira Costa, que levou um tiro na cabeça e já chegou sem vida ao hospital. O outro óbito é de uma mulher, de cerca de 40 anos, sem identificação, que levou um tiro na pélvis e foi levada para a unidade por um Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas também chegou morta. Ela seria conhecida na região como "Zezé"

Os outros baleados foram identificados como Lenilson Viana da Costa, baleado no braço direito e de raspão no abdômen; Raul Seixas Pereira Ribeiro, levou um tiro na lombar; e Marcos Paulo Fernandes Mota, atingido no abdomen. Todos passaram por cirurgia e o paciente que mais inspira cuidados é Lenilson.

Policiais do Batalhão de Choque no Parque União, na Maré - Estefan Radovicz / Agência O Dia

O quarto baleado é Rodson Gomes, o MC Rodson, de 30 anos, baleado enquanto passeava com a cachorra na rua de casa, por volta de 0h30, na Favela Nova Holanda. O músico foi atingido por um tiro no pulmão e foi socorrido pelos próprios familiares para o Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador. Ele passou por uma cirurgia durante a madrugada e , de acordo com o seu produtor, o quadro de saúde dele é estável.

Através das redes sociais, moradores relataram o clima de terror no conjunto de favelas. Há relatos de que o número de mortes é maior. Participam da operação o Batalhão de Operações Especiais (Bope), Batalhão de Choque (BPChq) e o Batalhão de Ações com Cães (BAC).

Segundo a ONG Redes da Maré, em uma publicação nas redes sociais, “a noite foi de terror no Parque União, Nova Holanda, Rubens Vaz e Parque Maré”. Ainda de acordo com a ONG, “as escolas e postos de saúde das favelas da Nova Holanda e Parque União não abriram e centenas de crianças estão sem aulas, e muitos sem atendimento médico”.

Por fim, a instituição não governamental disse que “operações policiais não podem acontecer de madrugada, segundo a Ação Civil Pública da Maré”. O DIA confirmou que essa Ação continua valendo, segundo as informações do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). 

De acordo com o Tribunal, a decisão que impede ações policias dentro da comunidade durante a noite continua valendo e foi confirmada em decisão posterior de 27/06/17. Na tutela provisória de urgência expedida, a magistrada, inclusive, lembrou que já “não é possível a busca domiciliar durante a noite na forma do art. 5º, XI da Constituição da República Federativa do Brasil”.

A Redes da Maré está de plantão pelo WhatsApp (21) 99924-6462 para receber casos de violações de direitos.

O DIA indagou a assessoria de imprensa da Polícia Militar sobre o descumprimento da Ação Civil Pública da Maré. No entanto, até a publicação da reportagem a corporação seguia em silêncio, não comentando o descumprimento e nem as três mortes.

O caso foi registrado na 21ª DP(Bonsucesso), mas a Polícia Civil também não respondeu. 

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