Operação na Maré deixou cinco mortos e 11 feridos - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Operação na Maré deixou cinco mortos e 11 feridosEstefan Radovicz / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Famílias de quatro das cinco vítimas mortas na operação da Polícia Militar que aconteceu no Parque União, Nova Holanda, Parque Rubens Vaz e Parque Maré, no Complexo da Maré, nesta terça-feira, ainda não estiveram no Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, para reconhecimento e liberação dos corpos. O desencontro de informações entre hospital e IML está fazendo os parentes ficarem sem saber para onde ir. 

Na ação morreram Willian Filgueira de Oliveira, Marcos Paulo Fernandes Motta, Thiago Ramos Pereira da Costa, Maria José da Silva Videira e um quinto homem ainda não identificado. Até as 10h, apenas familiares de Maria José, mais conhecida pelos moradores da Nova Holanda como Zezé, haviam ido ao local reivindicar e reconhecer o corpo da parente. No entanto, eles reclamaram da falta de informação e do jogo de empurra entre o hospital e o IML.

"As informações estão desencontradas. Estamos aqui esperando (notícias do IML)”, disse uma familiar de Maria José, chamada carinhosamente de Zezé, de 34 anos anos.

A mulher era a filha mais nova de seis irmãos. Vinda do Parque Fluminense, divisa de Belford Roxo com Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Maria José morava há 10 anos na Nova Holanda com o marido, conhecido como Ricardo.

“Ela não saía de lá porque o marido era tatuador e tinha a vida deles. Ela amava os sobrinhos por não ter tido filhos. Ela foi lá em Macaé, em abril e ficou três dias e foi muito divertido”, lembra a sobrinha Viviane Videira de Lima, 33. “Minha tia Zezé se foi. Vai fazer falta”, completa.

Segundo a sobrinha, era meia noite quando a tia saiu para comprar lanche e foi baleada. Amigos da mulher que avisaram a família sobre a morte.“Como o local é ruim de acesso de telefone, os vizinhos ligaram para a minha mãe e falaram que a minha tia havia sido morta”, conta Viviane.

Maria José foi morta durante uma operação da Polícia Militar, no Complexo da Maré - Arquivo Pessoal

Ao DIA, Sônia Maria Videira irmã de Zezé, conta que elas se falavam quase sempre. “Ela ia lá em casa às vezes. Nos falávamos mais por telefone”, disse Sônia. Segundo os parentes, o marido está arrasado e não tinha condições psicológicas de reconhecer o corpo da companheira.

Zezé será enterrada nesta quinta-feira, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Norte. Um ônibus deverá levar amigos e vizinhos da mulher ao sepultamento.

Ação da PM deixou cinco mortos e 11 feridos

A operação da Polícia Militar no Complexo da Maré resultou na morte de cinco pessoas e deixou 11 feridas. A Avenida Brasil chegou a ter uma das pistas fechada, quando moradores levaram o corpo do professor Willian Filgueira de Oliveira para as margens da via. Cerca de 800 quilos de drogas, uma pistola, um fuzil Airsoft, dois canos de fuzil FAL, uma luneta, um colete à prova de balas, uma granada e nove veículos (três carros e seis motocicletas)foram apreendidos.

De acordo com a ONG Redes da Maré, a PM desrespeitou uma Ação Civil Pública que impede operações policiais durante a noite e madrugada no complexo. À imprensa, o porta-voz da PM, major Ivan Blaz, disse que não há informações sobre o impedimento das ações no período noturno.

O DIA entrou em contato com a Defensoria Pública — responsável pela Ação Civil Pública da Maré (que proíbe a atuação da PM durante a noite na comunidade) — para que o órgão comentasse o descumprimento da decisão judicial por parte da Polícia Militar. Entretanto, a Defensoria Pública não respondeu à reportagem. Na tarde de ontem, a Secretaria de Segurança Pública do Rio, através do secretário Richard Nunes, foi procurada para comentar o caso. A pasta se recusou a responder os questionamentos do DIA.

O governador Luiz Fernando Pezão, também foi procurado para comentar o descumprimento da Ação Civil Pública da Maré. A assessoria de imprensa do Governo do Estado disse que não iria falar sobre o fato. O único órgão que se pronunciou foi o Tribunal de Justiça do Estado do Rio, por nota, dizendo que a decisão da Justiça em relação a proibição da PM em entrar na Maré a noite continua valendo.

Baleados seguem internados

Outras pessoas baleadas durante a operação no Complexo da Maré seguem internadas nesta quarta-feira em pelo menos três hospitais do Rio. Lenilson Viana da Costa, baleado na lombar, está sob custódia no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB). Seu estado de saúde é considerado estável. Segundo a PM, ele tem passagens por tráfico de drogas e porte de arma de uso restrito. No mesmo HFB está internado Raul Seixas Pereira Ribeiro, também atingido na região lombar, que segue em quadro estável de evolução positiva, bom aspecto e respirando sem aparelhos. Ele teria sido vítima de bala perdida e não tem passagens pela polícia. 

Já no Hospital Getúlio Vargas está internado Johnson Vinícius Guimarães Ferreira, de 28 anos, que está em estado grave após levar um tiro no peito. A PM diz que ele estava foragido do sistema prisional e tinha quatro anotações criminais — assalto a mão armada, furto e posse de droga para uso pessoal. 

Já Alexandre Magno Gomes dos Santos (sem passagem pela polícia, baleado na mão), Adailton da Silva Mourão (sem passagem, baleado no braço) e Rodson Soares Gomes, o MC Rodson, internados nos hospitais Souza Aguiar, no Centro, e Evandro Freire, na Ilha do Governador, a Secretaria Municipal de Saúde não retornou ao pedido da reportagem sobre o estado de saúde deles.

De acordo com o empresário do MC Rodson ele está “reagindo bem após a cirurgia e já fez a segunda refeição”. O cantor de funk, que está internado no Hospital Evandro Freire, recebeu a visita de alguns parentes ontem. "Ele não pode fazer muitos esforços e por isso está sendo poupado", disse o empresário.

O cantor foi atingido no pulmão durante um passeio com o cachorro em uma das ruas da favela Nova Holanda. Segundo a PM, ele tem três anotações por tráfico de drogas e foi solto pelo crime em 2004. 

Outras cinco pessoas baleadas durante a operação não tiveram suas identidades reveladas e não se sabe para qual unidade de saúde eles foram internados. 

 

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