Manoel de Brito, o Cabelo, quando foi preso na operação "Os Intocáveis". Ele é apontado como o responsável pela cobrança e negociação de imóveis da milícia - Luciano Belford/Agência O Dia
Manoel de Brito, o Cabelo, quando foi preso na operação "Os Intocáveis". Ele é apontado como o responsável pela cobrança e negociação de imóveis da milíciaLuciano Belford/Agência O Dia
Por O Dia

Rio - A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), através da Superintendência de Inteligência do Sistema Penitenciário (Sispen) e Corregedoria da Seap, apreendeu 19 celulares no presídio Bandeira Stampa, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste. A ação na noite desta terça-feira aconteceu após a denúncia de que o miliciano de Rio das Pedras Manoel de Brito Batista, conhecido como Cabelo, tinha telefones em sua cela. Ele foi preso na operação "Os Intocáveis", em 22 de janeiro.

A ação contou com 10 homens, que acharam os aparelhos nas 12 celas do presídio, entre elas a do miliciano. O caso foi encaminhado para a 34ª DP (Bangu) e uma sindicância interna apura como os aparelhos entraram na cadeia e qual deles pertence ao criminoso.

Celulares apreendidos em ação no Presídio Bandeira Stampa, após denúncia que miliciano de Rio das Pedras tinha telefones em sua cela - Divulgação

Cabelo é integrante de 'destaque' na milícia de Rio das Pedras

Cabelo é apontado como integrante de "destaque" na milícia de Rio das Pedras e espécie de gerente armado da quadrilha. "Ainda é o braço financeiro da quadrilha, responsável pelo acompanhamento da construção dos empreendimentos, bem como negociação, supervisão da cobrança, arrecadação e posterior repasse dos lucros auferidos ilegalmente, além da ocultação dos patrimônios pertencentes à malta (grupo), todas essas funções sob a constante vigilância dos denunciados Adriano e Maurício", diz a denúncia do Ministério Público do Rio (MPRJ). Escutas relevam ameaças feitas por ele contra moradores de Rio das Pedras. 

A milícia alvo da megaoperação da do Ministério Público do Rio, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) prendeu o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira e Maurício Silva da Costa, o "Maurição", tenente reformado da Polícia Militar. Os dois são chefes do grupo miliciano, ao lado de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do Bope, que está foragido.

Dois alvos são do 'Escritório do Crime'

Dois dos alvos de prisão, o major Ronald e o capitão Adriano, comandariam o "Escritório do Crime", braço armado da organização especializado em assassinatos por encomenda. Os principais clientes do grupo de matadores profissionais são contraventores e políticos. Há uma suspeita de que o "Escritório" estejam envolvidos no assassinato da vereadora do Psol e do motorista Anderson Gomes. A promotora do Gaeco Letícia Emili, que atua no caso Marielle, acompanha a operação da Cidade da Polícia.

Tanto Ronald quanto Adriano foram ouvidos na condição de testemunhas no caso Marielle. "O caso Marielle corre em segredo de justiça. São investigações que não se confundem. Não podemos, nesse momento, nem afirmar e nem descartar a participação de todos ou de alguns desses integrantes no caso", disse Simone Sibilio, outra promotora que investiga as execuções da vereadora e do motorista. "É possível sim que eles façam parte do escritório do crime e as investigações serão aprofundadas nesse sentido", concluiu.

Um dos objetivos da operação, divulgado pelo MP, é coibir a grilagem de terras, que foi apontado como um dos motivos da morte de Marielle Franco, já que ela ameaçava o negócio criminoso. Através de escutas e informações do Disque Denúncia, os envolvidos foram denunciados pela construção, venda e locação ilegais de imóveis; receptação de carga roubada; posse e porte ilegal de arma; extorsão de moradores e comerciantes, mediante cobrança de taxas referentes a "serviços" prestados; ocultação de bens adquiridos com os proventos das atividades ilícitas, por meio de "laranjas"; falsificação de documentos; pagamento de propina a agentes públicos; agiotagem; utilização de ligações clandestinas de água e energia; e uso da força como meio de intimidação e demonstração de poder.

Foram denunciados Adriano Magalhães da Nóbrega, mais conhecido como "capitão Adriano" ou "Gordinho"; Ronald Paulo Alves Pereira, o major Ronald ou "Tartaruga"; Maurício Silva da Costa, conhecido como "Maurição", "Careca", "Coroa' ou "Velho"; Marcus Vinicius Reis dos Santos, "Fininho"; Manoel de Brito Batista, "Cabelo"; Júlio Cesar Veloso Serra; Daniel Alves de Souza; Laerte Silva de Lima; Gerardo Alves Mascarenhas, o "Pirata"; Benedito Aurélio Ferreira Carvalho, "Aurélio"; Jorge Alberto Moreth, o "Beto Bomba"; Fabiano Cordeiro Ferreira, o "Mágico" e Fábio Campelo Lima. Por meio da transcrição de áudios, foram verificadas as relações estabelecidas entre os criminosos e as funções desempenhadas por cada um deles na organização, tais como segurança (ou 'braço armado'), agente de cobrança de taxas, lavagem de dinheiro (na figura de 'laranjas'), agiotagem e forte atuação no ramo ilegal imobiliário.

 

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