Rio - Moradores da Chácara do Céu, entre o Leblon e o Vidigal, na Zona Sul do Rio, relatam dificuldades e desamparo nesta quarta-feira. Durante a madrugada, uma parte da encosta desabou e afetou a escada de acesso à comunidade. Apenas três funcionários da Secretaria de Conservação retiram as pedras. Moradores relatam que ligaram pra Defesa Civil, mas que o órgão não compareceu ao local até agora.
Os moradores estão preocupados, com medo de sair para trabalhar. "Hoje não fui trabalhar com medo de acontecer alguma coisa pior. Ligamos várias vezes para a Defesa Civil e ninguém veio fazer nada", disse a corretora Fernanda Cabral, de 29 anos. Por conta da chuva, moradores estenderam uma lona, que compraram, com medo de novos deslizamentos. "Compramos do nosso bolso com medo de ter um novo deslizamento", disse.
Falta de fornecimento obriga locomoção ao Vidigal
Além do medo, os moradores da Chácara do Céu sofre com a falta de luz, que acabou por volta das 19h de terça-feira. Após a tempestade da última quarta-feira, a luz voltou só na segunda-feira e agora volta a faltar.
O engenheiro Atanasi Basílio, 63, morador há cinquenta anos da comunidade, conta que os moradores estão sem água, luz ou telefone. Eles precisam descer o morro todo dia para comprar água e comida para o consumo do dia. "Estamos à luz de velas. É um desrespeito das autoridades com a gente", critica.
Sem amparo da prefeitura, os moradores descem até um ponto de apoio no Vidigal para receber doação de água. A dona de casa Maria das Mercedes de Abreu, 56, chegou há duas semanas de Pacujá, no Ceará, para ficar com a filha, grávida de 9 meses, e mãe de um menino de um ano.
Apesar da artrose, dona Maria vai pelo menos duas vezes ao dia ao Vidigal pegar água pra ela e para a filha."Estamos passando o maior sufoco. Não tenho força pra ir, mas temos que ir, pra minha filha não passar necessidade", conta. A filha, Maria Conceição Abreu, 20, conta que por causa do calor, passou a noite acordada abanando o filho. "São dias muito difíceis na Chácara do Céu", lamenta.
Com a falta de energia, ela precisou jogar dois meses de comida fora, principalmente carnes. A família está se alimentando com carne de sol, cuscuz e água.
O marido de Maria, Overlan Rodrigues, 39 anos, é garçom em um estabelecimento no Flamengo. Ele disse que está preocupado, "sem cabeça para trabalhar". "Na última quarta-feira, fiquei desesperado quando vi minha mulher sem luz com meu filho chorando", lembra.
A Secretaria de Infraestrutura e Habitação, por meio da Geo Rio, informa que já realizou vistorias na Chácara do Céu e concluiu a limpeza e desobstrução da área afetada pelo ônibus na semana passada. Há nova vistoria prevista para hoje.
Moradores deixam de trabalhar na Rocinha
Na Rocinha, muitos moradores não foram trabalhar por conta da chuva. Eles ainda contabilizam os prejuízos do temporal da semana passada. Uma das áreas mais afetadas é a parte baixa da Rocinha e São Conrado, entre a Estrada da Gávea e a Rua General Olympio Mourão Filho. Nesta rua, há entulhos, galhos de árvores e lixos acumulados da última chuva.
Porteiros da Estrada da Gávea limpavam, na manhã desta quarta-feira, a calçada suja de barro. Eles disseram que estão muito apreensívos com o tempo instável. Em muitos prédios, a água chegou ao subsolo e atingiu carros de moradores.
A reportagem aguarda o retorno da Defesa Civil.