Rio - Foi mantida a prisão em flagrante do motorista José Carlos Verdam, 56 anos, que atropelou e matou o empresário Artur Vinicius Sales, que pedalava com amigos na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, na Barra da Tijuca. A delegada Adriana Belém o autuou por homicídio culposo, com o agravante pelo crime ser cometido por um motorista no exercício de sua profissão, com a pena podendo chegar a seis anos. A soltura, caso ocorra, será somente na audiência de custódia, prevista para esta quarta-feira.
"Entendi que ele foi imprudente, não manteve distância e não prestou socorro à vítima. As pessoas que se mobilizaram no local, ele não tinha outra coisa a fazer que não fosse ficar no local", acredita Belém.
A delegada disse que o motorista falou em depoimento que ajudou no socorro e que teve cautela, mas os testemunhos de ao menos 10 pessoas, entre agentes de trânsito e ciclistas que participavam do pelotão de treino, o contradizem. Verdam defendeu-se dizendo que os ciclistas teriam colidido entre si e atingido o ônibus.
"Ele tinha que manter a distância mínima, a cautela te impõe que espere que o pelotão de ciclistas passe para o treinamento. Não dá para disputar espaço com uma bicicleta, ele precisa agora repensar sua conduta, é um profissional, foi uma vida perdida", defendeu a delegada.
Decisão contraria 'regra'
Grande parte dos casos de atropelamento seguido de morte, tipificados como homicídio culposo, o autor acaba pagando fiança e é liberado. A decisão da delegada Adriana Belém contraria a 'regra'.
"Diante dos depoimentos e da perícia, entendemos por não soltá-lo em função do agravante, pois ele assumiu o risco. Ele também não prestou socorro, a presença dele no local foi compulsória, pelo número de ciclistas presentes e por não ter saída no local", falou.
A pena por homicídio culposo cometido por quem dirige é de dois a quatro anos de prisão, além da possibilidade de suspensão ou perda da habilitação. Com o agravante de ser um profissional, dirigindo um veículo de transporte de passageiros, a pena pode ser aumentada de um terço à metade, chegando até seis anos.
Em nota, a empresa Turismo Três Amigos lamentou o acidente e disse que o motorista estava "dentro do limite de velocidade permitida para via naquele local, bem como na faixa permitida". "O motorista do permaneceu no local, acionando socorro e aguardando a chegada da autoridade policial para registro do acidente. A empresa se coloca à disposição das autoridades para esclarecer as circunstâncias do lamentável acidente", diz o texto.
O corpo de Artur Sales será enterrado às 12h no Cemitério Ordem Terceira da Penitência, no Caju. O velório começou às 8h.
Morte de ciclista expõe fragilidades no trânsito
Um dos maiores desafios enfrentados pelos ciclistas na cidade é a segurança no trânsito. Em levantamento feito pelo DIA, nos últimos 12 meses, pelo menos dez ciclistas morreram em todo o Estado do Rio vítimas de acidentes.
O caso do empresário aconteceu por volta das 7h. Ele praticava o ciclismo esportivo com outros cinco amigos quando foi atropelado. O motorista do empresário, Alexandre Prado, disse que Artur foi fechado pelo coletivo, se desequilibrou, caiu e foi atingido pela parte traseira do veículo. "Se o ônibus tivesse parado, não teria nada disso", lamentou.
Apesar de o local do acidente possuir ciclovia, o grupo precisava utilizar a rua porque uma lei municipal limita a velocidade máxima para circulação na faixa exclusiva, em 20 km/h. Segundo amigos, o empresário costumava praticar a atividade física de forma amadora pelo menos três vezes por semana. Nesses trajetos, ele chegava a percorrer, em média, 80 km por dia.