Mulher precisa desviar de uma 'montanha' de lixo na Rua do Resende, no Centro do Rio - Marcio Mercante / Agência O Dia
Mulher precisa desviar de uma 'montanha' de lixo na Rua do Resende, no Centro do RioMarcio Mercante / Agência O Dia
Por Lucas Cardoso

Rio - O excesso de lixo causa transtornos diários para milhares de cariocas. Em todas as regiões da cidade, pilhas e pilhas de resíduos se acumulam diariamente. A situação, porém, deve se tornar ainda mais grave a partir desta segunda-feira. É que a concessionária responsável pelo aterro sanitário e que transporta os detritos do Rio para Seropédica sofrerá uma redução de 80% no serviço por conta de uma dívida milionária. Afinal, a empresa está há três meses sem receber repasses da Prefeitura do Rio, com débito acima de R$ 72 milhões. Assim, cerca de 7,2 mil toneladas de lixo por dia deixarão de ser levadas para o município da Baixada Fluminense.

Sem o transporte feito pela concessionária, devido à redução no serviço, será a própria Prefeitura do Rio que ficará encarregada de levar toda espécie de detritos recolhida das ruas cariocas para Seropédica, mas em caminhões menores. Ou seja, os cariocas sofrerão com o lixo acumulado.

Favelização na subida do Viaduto Ana Neri contribui para acúmulo de resíduos - Estefan Radovicz / Agência O Dia

Recentemente, o prefeito Marcelo Crivella disse que “o Rio é uma esculhambação”. Mas as ruas mostram que é um problema de gestão administrativa. Equipes de O DIA percorreram ruas em todas as regiões da cidade e flagrou o descaso do poder público. Esta é a terceira de uma série de reportagens que revelam problemas no cotidiano dos cariocas que deveriam ser resolvidos pela prefeitura.

O lixo e as crateras flagradas em todas as regiões do Rio podem resultar em uma combinação perigosa para a população. Quando chove, vias ficam alagadas com mais facilidade por causa dos bueiros, que impedem o escoamento da água. Na última sexta-feira, equipe de reportagem flagrou o alagamento na Avenida Cesário de Melo, em frente à estação do BRT Cândido Magalhães, em Campo Grande. O local virou abrigo para moradores de rua. A via tem bolsões d’água, onde a terra se mistura com a água da chuva.

Também na Rua Xavier Marques, o cenário não é diferente. É só chover que o lugar fica alagado. "Não tem rua em Campo Grande que não alague com qualquer chuva. Quem mora e trabalha aqui sabe disso", contou o taxista Altair.

Moradores de rua que ficam nas imediações da Suipa, no Jacaré, convivem com toda espécie de detritos jogados no chão. São poucas as lixeiras disponíveis no local - Estefan Radovicz / Agência O Dia

Buracos e alagamentos

Em Bangu, a Rua Jacinto Alcides reúne o pior dos dois mundos: buracos e alagamentos. Próximo ao Colégio Simoni, uma imensa cratera assusta quem passa pelo local. A sinalização com galhos foi feita pela direção da escola para alertar os motoristas e pais de alunos.

Segundo a coordenadora pedagógica Maria Helena Soares de Souza, o descaso impacta na rotina de cerca de 300 alunos da instituição de ensino. "Além dos buracos, convivemos com alagamento quando chove por causa do excesso de lixo", lamentou.

Na entrada da Ilha do Governador, em frente à estação Maré do BRT, uma montanha de entulhos bloqueava parte da pista. Vizinho do Maracanã, Antonio João, de 38 anos, questiona a ausência do poder público na manutenção de serviços básicos, como a coleta de lixo. "Eles deixam o lixo aí por dois meses. Tem de tudo um pouco. Não tem quem alugue essa loja aqui ao lado porque o clima é ruim demais. É muita sujeira. E quando chove, é um Deus nos acuda".

A contadora Ellen Barbosa, de 26 anos, precisou caminhar pela rua para desviar de uma pilha de lixo na Rua do Resende, no Centro. "É uma mistura de descaso dos nossos governantes com a falta de educação da população", sentenciou.

No Jacaré, nem mesmo as caçambas comportam a grande quantidade de lixo - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

Enquanto as zonas Norte, Oeste e o Centro sofrem com o lixo, a Zona Sul, área nobre da cidade, parece não conhecer essa realidade. A equipe do O DIA percorreu diversos bairros da região e em nenhum deles foi flagrado detritos espalhados.

Empresa garante que faz coleta regular em toda a cidade

Em nota sobre o lixo na cidade, a Comlurb informou estar fazendo a coleta regular em todos os bairros, três vezes por semana. "A varrição das ruas segue uma programação de acordo com o planejamento operacional. Ruas de grande fluxo têm varrições diárias, até mais de uma vez, outras semanais. O que pode estar ocorrendo é a colocação dos sacos de lixo nas ruas em dias e horários diferentes dos da passagem do caminhão coletor. Os resíduos devem ser colocados apenas uma hora antes da passagem do caminhão", diz o texto.

A Comlurb ainda repassou a responsabilidade sobre os entulhos. "A cidade sofre com o descarte irregular, o que demanda a remoção diária dos resíduos com apoio de pás carregadeiras. A companhia reitera o apelo para que moradores não contratem carroceiros ou caminhões clandestinos". A recomendação é ligar para a Central de Atendimento 1746 ou pelo WhatsApp 98909-1746.

*Estagiária sob supervisão de Herculano Barreto Filho

Você pode gostar
Comentários