Ônibus são usados como barricada por traficantes em Belford Roxo - Divulgação
Ônibus são usados como barricada por traficantes em Belford RoxoDivulgação
Por RENAN SCHUINDT

Rio - O motorista de um ônibus da linha 496, em Belford Roxo, ficou no meio do fogo cruzado. De um lado, o blindado da Polícia Militar entrava em uma favela próxima ao bairro Santa Teresa. Do outro, traficantes atiravam. Ele, então, desceu com os passageiros e buscou refúgio em um muro alto. Em outro dia de trabalho, ficou na mira de bandidos e foi obrigado até a transportar uma carga de bebidas roubada. São situações que fazem parte da rotina de condutores de coletivos e de aplicativos que circulam pelos municípios da Baixada Fluminense. E que também passaram a ser analisadas com atenção pelas empresas de transporte.

O Grupo Jal, empresa de transporte urbano que atua em cinco municípios da Baixada, fez um levantamento capaz de ilustrar um cenário de terror. Segundo o estudo, 38 ônibus já foram usados como barricadas pelo tráfico de drogas só na linha 496, que liga a Pavuna, na Zona Norte, a Belford Roxo (veja outras informações no infográfico). "É assustador. A violência me fez retomar os estudos. Em breve, vou largar a profissão", desabafa o motorista, que preferiu não se identificar. Ele diz ter pedido transferência de linha após receber ameaças de morte de um passageiro. "Tudo aconteceu porque ele pediu para que eu parasse fora do ponto e eu não tinha como parar. Ali, eu vi que era hora de mudar de linha", lembra.

DESGASTE FÍSICO E EMOCIONAL

A linha 496 opera com apenas oito veículos. Cada condutor faz até cinco viagens. Entre ida e volta, uma viagem dura, em média, uma hora e meia. "Há um desgaste muito grande. Muitos colegas estão pedindo afastamento. É arma na cabeça, ameaça. Não dá mais vontade de continuar. Nós só queremos trabalhar e não participar de uma guerra urbana. Me sinto abandonado pelo poder público", lamenta o motorista.

São histórias que se multiplicam entre quem atua na linha do medo. Profissional há mais de 20 anos, um outro condutor viveu uma outra experiência traumática envolvendo a violência urbana quando foi obrigado por traficantes a atravessar o ônibus na pista para servir como barricada, já que uma operação policial estava prestes a ser iniciada. "Foi um momento de pânico. Os passageiros tiveram que descer às pressas. Eu tive que atravessar o ônibus e esperar por quatro horas até que os bandidos devolvessem a chave. Só me liberaram quando estava tudo calmo", revela um outro motorista, que também pediu para trabalhar fora da linha 496.

'Vivemos com medo'

Para ele, a preocupação com a violência faz parte do cotidiano de motoristas e cobradores que atuam no transporte público da Baixada. "É nítido que nosso maior problema é a falta de segurança. Não é um problema apenas desta linha. São várias as regiões onde a violência está dominando e afetando nosso trabalho. Vivemos com medo", diz.

Cristina Gullo, responsável pela Comunicação do Grupo Jal, explica a importância do levantamento feito pela empresa. "É possível termos um diagnóstico de mobilidade e segurança urbana bem próximo da realidade. Isso ajuda não apenas a ajustar nossa operação diária, para dar mais segurança aos nossos colaboradores e clientes, mas também abre uma oportunidade de ampliar o diálogo construtivo com o poder público", justifica.

Você pode gostar
Comentários