A mãe do taxista morto no Leme, Marcelo Tavares, entrou em desespero após reconhecer o corpo do filho. O  motorista estava com uma mulher e a neta dela, que também morreram  - Daniel Castelo Branco/Agência O Dia
A mãe do taxista morto no Leme, Marcelo Tavares, entrou em desespero após reconhecer o corpo do filho. O motorista estava com uma mulher e a neta dela, que também morreram Daniel Castelo Branco/Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - Jardim Maravilha, sub-bairro de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, ainda sofre com a água que não abaixou após quase 48h de chuvas. Segundo relatos, as autoridades só apareceram nesta quarta-feira, dois dias depois dos transtornos, quando o prefeito Marcelo Crivella esteve no local, sem falar com os moradores.

Uma placa com informações sobre as obras de pavimentação e qualificação do bairro Jardim Maravilha foi retirada do local por funcionários, em 2018, sem que o trabalho fosse concluído pela Prefeitura. Na manhã desta quarta-feira, os moradores questionaram a conclusão desta obra, mas foram impedidos pela Guarda Municipal e não foram ouvidos pelo prefeito.

Placa de obras no bairro Jardim Maravilha foi retirada por funcionários da prefeitura - Daniel Castelo Branco/Agência O Dia
O catador de reciclagem André Luiz dos Santos, de 30 anos, morava numa casa com oito pessoas e perdeu tudo. De acordo com ele, o valão transbordou na noite de segunda-feira e a água entrou como uma enxurrada no imóvel. "A única coisa que deu para fazer foi colocar meus filhos de cinco e dois anos em cima da laje, para não morrerem afogados. Agora é Deus por todos e a gente tentar reconstruir a pouca coisa que tinha", desabafou.

O Rio Cabuçu de Baixo transbordou e alagou completamente o bairro. A água, segundo informações dos moradores, passou da altura da cintura e, mesmo depois de dois dias, algumas casas ainda estão inundadas. Nesta quarta-feira, os moradores realizam a limpeza do local, que está com grande quantidade de lixo. O medo da transmissão de doenças também assusta quem foi atingido pela enchente.

Luiza Rodrigues, diarista de 45 anos, conta que tem cinco filhos e um deles tem Lúpus, uma doença inflamatória autoimune. Ele não poderia ter contato com essa água e preocupa a mãe. "Não é a primeira vez que a água entra na minha casa. Em janeiro de 2017 eu perdi tudo. A Prefeitura veio, prometeu revitalizar o córrego e não fez nada. Eu já não tinha muita coisa e agora perdi o que eu tinha", lamenta.

Assim como Luiza, outros moradores perderam a casa com as chuvas. O autônomo Ivan Bastos, de 61 anos, afirma que em 48 anos, essa foi a pior enchente que já enfrentou no bairro. "O rio está assoreado e qualquer chuva de 10 minutos tem alagado. Esse é o descaso do poder público." 

Após 48h das chuvas do Rio, moradores de Jardim Maravilha ainda sofrem com transtornos - Daniel Castelo Branco/Agência O Dia
Fabiano Rangel, de 23 anos, é ajudante de pedreiro e precisou ir para a casa de vizinhos com a esposa e o filho de dois anos, que estavam dormindo quando a água começou a subir. "Sou nascido e criado aqui no Jardim Maravilha e sempre foi assim. As pessoas só se preocuparam em mostrar a Zona Sul e esquecem da gente. Estamos abandonados", reclama.

O bombeiro Luis Paulo Godnhoser, de 28 anos, perdeu todos os bens com as chuvas, mas não deixou de ajudar a salvar os vizinhos. "Mesmo perdendo tudo, eu tinha obrigação de ajudar essas pessoas. Eu não tinha mais nada, o que me restou foi ajudar."

Muitos moradores contam com a solidariedade de desconhecidos para retomar as atividades depois das chuvas. A Igreja Quadrangular do bairro Jardim Maravilha está recebendo doações para ajudar os desabrigados e organizou um mutirão para distribuir 600 cafés da manhã, 600 refeições no almoço e outras 600 na janta. 

No momento, a urgência é para doações de água, roupa e comida.

 

 

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