Para antropóloga, Mateus Almeida, Bernardo Cordeiro e Rival têm legitimidade para temas abordados - Luciano Belford/Agência O Dia
Para antropóloga, Mateus Almeida, Bernardo Cordeiro e Rival têm legitimidade para temas abordadosLuciano Belford/Agência O Dia
Por RENAN SCHUINDT

Mais de 40 anos depois de Zuzu Angel se tornar uma das maiores estilistas do país, associando militância à moda, um grupo de amigos do subúrbio carioca criou uma marca de roupas que traz, em suas estampas, casos emblemáticos de violência ocorridos no Rio. Conhecida por levantar a bandeira da territorialidade desde que foi criada há dois anos, a Pormenor lança agora a coleção 'Cidade Desespero'. Em camisas, calças e casacos, episódios trágicos se transformam em frases e símbolos para reforçar a luta por justiça. São abordados casos como o da morte do garoto João Hélio, em 2007, e o do assassinato da vereadora Marielle Franco, no ano passado.

A marca nasceu em Bento Ribeiro, um dos bairros mais tradicionais da Zona Norte do Rio. Bem próximo dali, em Oswaldo Cruz, há 11 anos, João Hélio Fernandes, à época com 6 anos, morreu após ser arrastado, preso a um carro, por sete quilômetros até Cascadura. Na ocasião, a família do menino foi rendida por criminosos e não conseguiu tirá-lo do veículo a tempo. O caso gerou grande comoção em diversas partes do país. Os bandidos foram presos.

Matheus Almeida, um dos fundadores da grife, diz que a ideia não é impor verdade alguma, mas, sim, gerar reflexão e diálogo na sociedade. "Escolhemos treze casos para serem retratados de forma indireta. Queremos mostrar que a violência está por toda a cidade e reforçar esse combate", diz.

Para Bernardo Cordeiro, também fundador da marca, falar sobre o tema deveria ser uma obrigação da indústria da moda. "Estamos usando esse caminho para fazer um protesto e falar sobre o que precisa ser falado. Esse é o papel da moda: apontar, questionar e denunciar comportamentos sociais. É muito mais do que roupa", pontua o jovem.

Legitimidade no tema

Para a antropóloga Carol Delgado, a legitimidade que os amigos e sócios têm para falar sobre esse tema pode ajudar na promoção do debate. "Mais do que abordar violência, eles questionam a dinâmica da cidade. Isso é feito de maneira conceitual, estética e acessível. Precisamos conectar mais pessoas, chamar a atenção e pedir que os indivíduos se posicionem sobre essas questões", afirma Carolina.

 

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