Vítimas de desabamento de prédio na Muzema foram encaminhadas para Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca - Luciano Belford/Agência O Dia
Vítimas de desabamento de prédio na Muzema foram encaminhadas para Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da TijucaLuciano Belford/Agência O Dia
Por O Dia

No celular, o zelador Flávio Luiz Pereira, 45 anos, olha para a foto da irmã Ana Flávia Pereira, 34, e do sobrinho Fábio Augusto Pereira, de apenas 3 anos, com angústia profunda. Mãe e filho, que estão entre os desaparecidos da comunidade da Muzema, na Zona Oeste, possivelmente estavam prestes a sair de casa quando os prédios vieram abaixo. Afinal, ela costumava levar o menino para a creche às 7h, e a tragédia aconteceu cerca de 20 minutos antes.

Segundo o zelador, os dois estavam sozinhos no terceiro andar de um dos edifícios, já que o marido de Ana Flávia e pai de Fábio estava viajando a trabalho em São Paulo quando recebeu a notícia — ele voltou às pressas e acompanhava as buscas junto aos bombeiros desde as 15h. Ainda conforme Flávio, o casal morava em Duque de Caxias e vendeu dois imóveis para comprar um apartamento na Muzema, há dois anos.

"Vou ficar aqui até eu ter notícia, com vida ou sem vida. Estou rezando para que saiam com vida. O esposo dela estava viajando e retornou quando soube. Ele está lá em cima desde as 15h mais ou menos. Está aqui desesperado", disse Flávio, que mora em Bonsucesso.

Taylane Pontes, sobrinha de Raimundo Nonato do Nascimento, uma das vítimas fatais, e que ainda procurava na noite de ontem pelos primos — Lauane, de 15, e Isac, de 9 anos, desaparecidos nos escombros, disse que não vai descansar enquanto não encontrar as duas crianças. Segundo ela, as vítimas estavam dentro do apartamento da família, no sexto andar de um dos edifícios, no momento do desabamento. "Vou ficar aqui até o último sair. Se Deus quiser", disse.

Taylane reclamou ainda do abandono do poder público na comunidade. Segundo ela, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros estiveram no local pela primeira vez hoje, quatro dias após o temporal da última segunda-feira, depois que os dois prédios já tinham desabado. "O Rio está abandonado. Nenhum lugar tem regra. Nenhum lugar tem habitação. Se tivesse, não teria acontecido isso. Não construiriam prédios onde era para ser uma floresta, onde era para ter só árvores", desabafou, enxugando lágrimas.

Um morador que ajudou nos resgates, antes mesmo de homens do Corpo de Bombeiros chegarem ao local, contou que ouviu um estrondo antes dos prédios desabarem. "Escutei um barulho forte, por volta das 6h40. Quando cheguei lá, encontrei o pai, mãe e filha (da família de Cláudio Rodrigues, de 41 anos, que morreu depois no hospital) e ajudei a resgatá-los. Eu e outras pessoas entramos nos escombros e ainda vimos um pai com o filho abraçados, enterrados de cabeça para baixo, já sem vida", disse ele, que não quis se identificar.

Flavio Gomes, tio de Adilma Rodrigues, de 35 anos e esposa de Cláudio Rodrigues, disse que a família está muito abalada com a tragédia. Ele revelou que soube do desabamento do prédio pela televisão. Segundo ele, Adilma, que está internada em estado grave no Hospital Lourenço Jorge, ainda não sabe da morte do marido. Além dela, a filha do casal, Clara Rodrigues, de 8 anos, também ficou ferida, mas sem gravidade.

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