Ricardo e colegas comemoram o resgate com vida na Muzema - Reginaldo Pimenta
Ricardo e colegas comemoram o resgate com vida na MuzemaReginaldo Pimenta
Por MARIA LUISA MELO

Rio - O semblante preocupado durante mais um dia de resgate na Muzema não foi à toa! Era ali que o subtenente do Corpo de Bombeiros Ricardo Francisco Fernandes, de 52 anos, jogava futebol aos fins de semana e tomava cerveja com os amigos. Ex-morador do Rio das Pedras, comunidade vizinha à da tragédia, o bombeiro já era bem conhecido na região por socorrer vítimas de acidentes e enchentes. Mas ficou ainda mais famoso ao vibrar, no alto de uma laje da favela, com um resgate bem sucedido de helicóptero, na sexta.

"Ele chegou aqui na correria. Não estava de serviço, mas vestiu a farda e veio por conta própria, como ele sempre faz quando a gente está precisando. Na enchente de 1996, conseguiu encontrar um bebê de 1 ano e 8 meses, mas a criança já estava sem vida. Descia muita lama do nariz e da boca do bebê. Choramos juntos", recorda o comerciante paraibano Rogério Alves, amigo de infância de Ricardo. "Mas naquele mesmo dia, ele resgatou outras dez pessoas vivas. Dom é dom".

Tanta solidariedade com a região está atrelada à sua própria história. De origem muito humilde, o bombeiro peregrinou por nove endereços diferentes no Rio das Pedras antes de entrar para a corporação. Todos afetados por enchentes que assolam a região há décadas. "Quando chovia, a casa alagava. A água vinha no peito", recorda uma moradora da região.

O bombeiro morava no Rio das Pedras - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Ex-vizinhos relembram também que, na juventude, para sobreviver, Fernandes vendia picolés e sachês de bronzeador na Praia da Barra da Tijuca. Foi naquele marzão que aprendeu a nadar. E realizou seus primeiros salvamentos. Era a primeira braçada rumo à profissão que o livraria da miséria.

Trinta anos depois de iniciar sua carreira, a maior tragédia da história da região fez com que Ricardo perdesse amigos. Foi o caso de seu companheiro de futebol, o pastor Claudio Rodrigues, de 40 anos, que não sobreviveu ao desabamento.

Mas o subtenente não perdeu as esperanças e aguardava, no local, notícias de outros conhecidos. Sem autorização para conversar com jornalistas, ele passou o terceiro dia de resgates à paisana, nas proximidades do desabamento. Mas a farda, a botina, o coturno e as luvas estão sempre por perto, garantem amigos. Precisando, é só chamar!

Ricardo já vendeu picolés e sachês de bronzeador na Praia da Barra - Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia

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