Aparecida Macedo, mãe do catador, ficou muito abalada com a morte do filho - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Aparecida Macedo, mãe do catador, ficou muito abalada com a morte do filhoReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Por RAFAEL NASCIMENTO

Rio - A defesa do catador de resídios Luciano Macedo, de 27 anos, que morreu no final da madrugada desta quinta-feira, 11 dias após ser atingido com três tiros por soldados do Exército — ao tentar salvar uma família em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, onde morreu também o músico Evaldo Rosa, que teve o carro atingido por 80 tiros disparados pelos militares — vai entrar na Justiça contra o Exército, o Governo Federal, o Estadual e o Municipal para que a família do homem seja indenizada e para que os familiares recebam uma pensão.

Macedo estava internado no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, e desde o dia que foi internado no local passou por duas cirurgias no pulmão. Ontem, a equipe médica identificou que o homem precisava ser submetido a uma nova intervenção cirúrgica. No momento que acontecia o procedimento médico, o catador teve duas parada cardiorrespiratória e não resistiu aos ferimentos.

"É preciso que o governo se responsabilize por mais essa morte. Vamos pedir uma indenização e uma pensão para a mãe e a esposa do Luciano", afirmou o advogado Jão Tancredo que defende a família de Luciano.

“É inadmissível e inaceitável que se atire primeiro e depois vejam em quem atiraram. Não podemos aceitar que outras famílias passem por isso. Não podemos aceitar a cultura do atira”, Antônio Carlos, disse Antônio Carlos, da ONG Rio de Paz, que assiste a família.

Luciano havia descoberto que seria pai do primeiro filho poucos dias antes de ser baleado pelos militares. Ele estava muito feliz com a notícia da gravidez da mulher, Daiana Horrara, e decidiu trabalhar mais para criar a criança. Daiana está grávida de 5 meses. “Cortaram minhas pernas e os meus braços. Tiraram o meu provedor e levaram o amor da minha vida. Aquele que atendia todas as minhas necessidades e o que beijava a minha barriga todos os dias e dizia que queria ver o nosso filho”, lamentou Daiana.

O homem deverá ser enterrado no final da tarde desta quinta no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, também na Zona Norte.

A viúva do catador, Daiana Horrara - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia

Militares estiveram no hospital para levar Luciano para prestar depoimento

O advogado João Tancredo disse que, nesta quarta-feira, soldados do Exército estiveram no Hospital Estadual Carlos Chagas para levá-lo a uma unidade militar para que ele prestasse depoimento. "Ao saber disso, liguei para o coronel Cláudio Viana Pereira, que deu a ordem de busca, e contestei a atuação dos militares. Na ocasião, o coronel disse que Luciano teria que prestar depoimento, já que ele era uma das partes envolvidas no inquérito", disse o advogado.

"A família, naturalmente, está indignada com o descaso da vida das três esferas: federal, estadual e municipal. Existia uma determinação judicial para que o Luciano fosse transferido (para um outro hospital) e não foi cumprida. Os médicos fizeram uma cirurgia que não foi autorizada — mesmo com a determinação de transferência dele. É lamentável que tratem as pessoas pobres e modestas assim", declarou João Tancredo.

O advogado pontou as medidas jurídicas que serão tomadas: "Primeiro, porque a transferência não foi cumprida. Existia uma multa caso a medida fosse descumprida. Segundo, vamos representar contras os médicos que fizeram uma cirurgia não autorizada e que agravou o estado de saúde do Luciano levando a morte e também contra a direção que não o transferiu. Imediatamente essas medidas. Em seguida, vamos acionar a justiça no que se refere as indenizações para a família do Luciano — para esposa, a mãe e para o filho que ainda vai nascer. A criança tem o direito de receber uma indenização pela violenta do Luciano e pelo abandono que fizeram com ele e com a família. O tiro não o matou. O que matou foi o descaso. Vamos querer uma reparação por danos morais e por dano material contra a união."

Por outro lado, o Comando Militar do Leste (CML) diz que "foram iniciados contatos com a família do Sr. Evaldo por meio do advogado da família, Sr. João Tancredo". No entanto, a nota não diz quando esse contato aconteceu.

Sobre a ida de militares ao hospital onde Luciano estava, o CML informou que não procede a informação de que foram tomar depoimento da vítima. De acordo com o documento, os militares foram à unidade por orientação do Ministério Público Militar, para pegar cópia do Boletim de Atendimento Médico de Luciano, documento necessário para as investigações.

O comando informou ainda que os militares envolvidos na morte de Evaldo e Luciano permanecem presos, à disposição da Justiça Militar e que não comenta investigações em andamento.

Advogado que defende militares presos vai ganhar honraria do Governo Bolsonaro

O advogado Paulo Henrique Pinto de Mello, que defende os nove militares do Exército presos por participarem da ação desastrosa do último dia 7 — que deixou dois mortos e um ferido — vai ganhar uma das maiores honrarias do Ministério da Defesa. O nome de Mello está no Diário Oficial da União (DOU) e é um dos 300 agraciados pela Medalha Vitória — em alusão ao papel que o Brasil exerceu na Segunda Guerra Mundial e em missões de paz.

A portaria com os nomes dos condecorados foi assinada pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, no dia 12 de abril.

Além de advogado, Paulo Henrique é militar da reserva. Ele atua em áreas como direito eleitoral e na Justiça Militar.O advogado atua na defesa dos nove agentes presos há pouco mais de uma semana.

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