Aparecida Macedo, mãe do catador, não segura as lágrimas no enterro do filho - Marcio Mercante / Agencia O Dia
Aparecida Macedo, mãe do catador, não segura as lágrimas no enterro do filhoMarcio Mercante / Agencia O Dia
Por Maria Luisa de Melo

Rio – O corpo do catador Luciano Macedo, de 28 anos, morto depois de salvar o filho de 7 anos do músico Evaldo Rosa, cujo carro foi alvo de mais de 80 tiros disparados por militares do Exército, em Guadalupe, foi sepultado nesta sexta-feira (19), no Cemitério do Caju, na Zona Portuária do Rio.

Na despedida, a mãe de Luciano, Aparecida Macedo, contou que, quando o filho decidiu ajudar a família do músico Evaldo, estava catando madeiras para a construção de seu próprio barraco. Ele conseguiu a doação de um terreno nas proximidades da Vila Militar.   

"Ele estava catando madeira pra construir o barraco dele. Tinha acabado de ganhar um terreno perto de onde foi baleado. Eu disse pra ele que ali era perigoso. Ele disse 'Coroa, ali tem Exército. Tá seguro'. Mas o Exército matou meu filho! O Exército matou meu filho!", afirmou Aparecida Macedo, aos prantos.

Corpo de Luciano Macedo foi enterrado no Cemitério do Caju - Marcio Mercante / Agencia O Dia

Ela relata ainda que sua família não recebeu nenhum tipo de ajuda do Exército. "Foi uma covardia o que fizeram com meu filho. O Exército matou meu filho e não nos ofereceram nem um copo d'água", reclamou a mãe da vítima.

Além da família, amigos que frequentavam o mesmo centro de candomblé de Luciano também estiveram presentes no cortejo.

O corpo do catador foi coberto com a bandeira do Flamengo, time do qual Luciano era torcedor.

"Um dos tiros ultrapassou a tatuagem do Flamengo que ele tinha. Esse time era a paixão da vida dele. Ao todo, foram três disparos, todos atingiram o pulmão. O médico disse que o pulmão dele estava todo furado", disse Lucimara Macedo, de 38 anos, irmã de Luciano.

Durante o cortejo, familiares carregaram uma bandeira do Brasil com um furo no meio, simbolizando um tiro. 

Presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, foi o responsável por organizar uma vaquinha virtual, que possibilitou a arrecadação de recursos para o sepultamento de Luciano.

"Com o dinheiro que levantamos, compramos cesta básica para a família, roupas, produtos de higiene, custeamos as idas para o hospital e também pagamos o sepultamento", disse. "A bandeira do Brasil com um furo representa o tiro que atingiu a nossa pátria". 

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